Dúbia

Liberdade

Eram 2h00 da manhã, Afonso outra vez chegara bêbado e violento e, como de hábito, acordou todos da casa aos berros ao exigir jantar. Oscar ao abrir os olhos orou baixo, desejou ser invisível para o pai.
-Cadê a bichinha da casa? Aposto que já deve ter dado "o redondo" hoje.
- Não diga isso, vai acabar acordando o menino.
Deu lhe um tapa.
-Me respeita, quem manda nessa casa sou eu.
Oscar levantou, de pronto, e correu em direção à mãe.
-Olha só quem acordou ,venha aqui e dê seu celular.
-Não!!!

Falou Oscar ao encher os pulmões titubeando pra si que dessa vez nao aceitaria apanhar calado.
Ao tirar o cinto de couro, de imediato direcionou ao Oscar um golpe. Sua mãe interveio e a fivela ao tocar seu rosto fez borrifar sangue. O garoto que, até então, era doce e meigo se preparou para uma batalha e ao cerrar os punhos, sem meditar, direcionou um soco no pai. Ao acertar rapidamente o pai, deu-lhe vários socos e ponta-pés. Ainda que o visse sangrar, ele não parou. Jogou toda sua violência e dor da fracassada vida em cima do próprio  filho. Madalena acuada, aos prantos, pegou a panela de barro e quebrou na cabeça de seu marido.
-Corre, meu filho, pelo amor de Deus!!!
Ele correu em direção a escuridão fria do sertão. Correu e correu. O pai vai matar a mãe, o pai vai matar a mãe, parecia uma espécie de mântra negro, ferido, sangrando, decidiu que jamais voltaria alí. Enquanto corria, as lagrimas e seu sangue faziam rastro pela qual a escuridão escondia. Alí sozinho encontrou estranhamente a si, e uma liberdade maior que seu medo o atingiu e o deixou zonzo.
Ali começara a sua jornada nas trevas de uma noite de agosto. Não queria mais voltar ao sul de lugar nenhum. Continuava a correr até tombar exausto no chão.