Dúbia

O Submundo Sem Gêneros

Quando Will chegou em casa, sua mãe estava sentada na sala assistindo à novela. Seu único irmão de oito anos, estava no jardim de infância.
- Vai mais atrás de emprego não? Só quer saber de festa, indagou Lúcia, sua mãe.
Não respondeu, não queria confusão. Eram 14h20 e tudo que queria era almoçar.
- Lava, ao menos seu prato depois que comer, dona Preguiça.
- Sempre lavo, a senhora sabe - disse Will titubeando.
- Você? Você mermo não, ironizou Lúcia.

Depois que almoçou, tomou coragem e ligou para Oscar. Já estava no quarto, abatido, mas de barriga cheia. A ligação chamou, mas ninguém atendeu. Uma raiva lhe fez quebrar uma xícara de café esquecida em seu quarto. Acendeu um cigarro e resolver ligar para Chinaski. Queria saber, com urgência, sobre a resposta de algum cliente interessado nele. Quinze minutos conversando com Chinaski e logo tinha um programa marcado para aquela noite, às 20h00, na Avenida Beira-Mar. Ansioso, agora poderia comprar seu hormônio e ainda lhe sobraria dinheiro para uma festinha de fim de semana. No horário combinado, ele estava lá, sentado na praça principal do Dragão do Mar. Um carro preto buzinou. Logo soube, pela placa, que era o cliente que Chinaski indicara.
- Boa noite, sou Will.
- Entre, seremos breve.
Ao entrar notou que o homem, aparentando 40 anos, não estava só, mas acompanhado de outro garoto, que aparentava 18 anos. No carro, nem o garoto nem Will se cumprimentaram. O homem parou no motel, a 900 metros de onde havia pegado Will. Rapidamente os três estavam na suíte de luxo do motel. O homem que não quis dizer o nome, acendeu um cigarro e exigiu que ambos fumassem, logo obedeceram. Tiraram as roupas e logo lhes foi ordenado que fizessem sexo os dois enquanto o homem fumava e usava cocaína. O garoto de 18 anos e Will se desconcertaram, mas logo começaram a fazer o que o sujeito pedia.
O garoto já estava nu e quando penetrava em Will, o homem mandou parar tudo. Ordenou que Will urinasse na boca do rapaz. Logo ambos olharam com repúdio para aquele sujeito.

- Dobro: 300 reais pra cada!!! Agora façam o que digo, seus putos.

Em silêncio, concordaram. Logo Will bebeu várias garrafas d'água. Enquanto urinava na boca do estranho, um sentimento abissal de culpa e nojo se instalou nele tanto ferindo-o quanto à Nariade. Por duas horas ali naquele motel foram os escravos do homem, seu dono, como um gado, um pastor e suas ovelhas. Tanto o menino quanto Will rogavam a Deus, em um silêncio sepulcral, para que tudo acabasse e fossem logo para casa com o dinheiro. Quando o homem parecia estar por satisfeito, tirou do bolso 600 reias em notas de 100, as amassou e as jogou ao chão para que seus submissos pegassem.

Ao chegar em casa, logo foi para o quarto da mãe, pegou três Alprazolan, ansiolítico tarja preta que sua mãe sempre tomava para dormir. Correu para o quarto, ligou para Danny, mas ela não atendeu. Foi ao banheiro, ligou o chuveiro. Quarenta minutos e ainda estava de baixo do chuveiro aos prantos. Como quem, com desespero, lavasse com água e sabão a sujeira vinda da alma impregnando o corpo, não obteve êxito. Saiu do banho com a mesma sujeira que entrará. Logo após mandou uma mensagem para Oscar:

"Só queria dizer que te amo! Posso
estar longe, mas você é a pessoa mais próxima do meu coração selvagem. Tenho algo urgente pra te dizer, mozão. Assim que ler essa mensagem, por favor me liga. TE AMO PRA CARALHO"

Quando terminou, acendeu um cigarro, tomou os três comprimidos de uma só vez com um pouco de vodka, que achou em meio às garrafas do quarto.
Dez minutos, depois zonzo, tentou escrever outra mensagem para Oscar, porém as letras saltavam a tela. O telefone alarmava uma mensagem que Chinaski acabara de enviar. Não conseguia ler ou responder. Caiu no chão como se ali fosse dormir para toda uma eternidade vazia e solitária.