Dúbia

A Carne Em Agonia

Naquela segunda-feira, Will estava exausto pelos finais de semana festivos. Começara o dia destruído. Ligou o celular e começou a observar as fotos de Oscar. Aquele menino do sertão havia lhe despertado afetividade e carinho que até ele próprio desconhecia. Desde que começou o namoro, alguns meses atrás, no fundo todas as promessas que fez de trazer aquele garoto para Fortaleza era um desejo real, não uma utopia. Deitado, no seu caótico quarto, em meio às garrafas vazias de bebidas, várias e várias bitucas de cigarros: ambiente que fazia do quarto uma alegoria à sua própria vida. Oscar lhe resgatava do primeiro eu, de modo estranho. O pequeno sertanejo atingia não só Will mais até mesmo Maria, a qual já havia enterrado. Gostava de rever as conversas que já haviam conversado, aquilo lhe causava uma nostalgia boa. Ligou o "Wi-Fi" e, rapidamente, mandou uma mensagem para Oscar.

"Mozão? Sabe: faz uns dias que a gente não tem se falado muito. Notei que esse mês inteiro nos ausentamos muito um do outro. O que está havendo, mô? Como está sendo aí na tua casa? Na escola? Na tua vida? À noite vou ficar "on" a sua espera. Te amo".

Triste por Oscar não está "online", Will resolveu dar uma volta na praia. Procrastinou horas e até que anoiteceu. Resolveu ficar em casa porque gostaria muito de conversar com o menino que agora, raramente, ficava "online".
"Será que ele vai terminar comigo? Não,
ninguém termina comigo, sou eu quem termino." Dizia Will em seus monólogos. Ele era sim o dono de Oscar, daquela pele de pêssego, daquela inocência e ingenuidade que lhe faziam despertar um desejo intenso de corrompê-lo. Era um pouco mais de meia noite, Will acendeu o último cigarro e bebeu uma dose de vodka em meio às garrafas vazias. Estava tão exausto de si; sua imagem era seu próprio fracasso. A ausência de sua identidade, o corpo que odiava, a falta de emprego, sem dinheiro para comprar seu hormônio. Resolveu mandar uma mensagem para Chinaski. Ele sempre tinha bons contatos de clientes que pagavam bem por sexo. A última aplicação de hormônio foi sua amiga Danny quem pagara e, agora, não poderia pedir outra vez. Chinaski não estava "online". Depois que mandou a mensagem foi dormir: era assim que matava rápido o dia, indo dormir cedo.

Despertou renovado e, logo, mandou uma mensagem de bom dia para Oscar. Tomou banho, escavou os dentes, tomou café e foi à casa de Danny. Ao chegar, a mãe da menina logo mandou Will para o quarto onde sua filha estava. Quando entrou, Danny usava lingerie rosa de bolinhas, Will ficou desconcertado.

- Bom dia, flor do dia! - Disse Will.
- Bom dia, meu amor, respondeu a garota ao levantar e depois fechou a porta do quarto.
- Preciso falar com você sobre o que tu tá fazendo com Oscar. Disse Danny severamente.
- Começou logo foi cedo, você. Respondeu seco Will.
- Qual prazer de brincar com os sentimentos dos outros? Encher uma criança de esperanças, coisas que você não vai preencher. Disse Danny indignada.
- Gosto do menino, de verdade.
Respondeu olhando nos olhos de Danny e isso a desconcertou.
- Você não gosta de tu, mah, se toca.
Rebateu.
- Gosto de você sabia, ironizou Will.

Calaram-se, então, ele se aproximou de Danny. Deitados na cama de solteiro, Will massageava a menina, que estava entregue. Beijou-lhe a nuca e sussurrou ao ouvido:
- Sei que você só está com ciúmes, mas também sou tua guria.
A garota se virou, deu um tapa no rosto de Will. Logo em seguida, o beijou antes de qualquer reação. Logo ficaram nus e começaram a transar: era típico. A amizade de ambos tinha certos sortilégios, então, aquilo era natural. O que Will não notará era que Danny o amava desde quando ele era Maria. 40 minutos depois, nus a fumarem um cigarro, Danny exigiu:
- Acaba com essa palhaçada com Oscar ou acabo eu .
- Relaxa, estou cansado desse moleque.

Will se vestiu e foi para casa.