Enquanto o céu desabava naquela estranha noite tranquila e banhada pela lua cheia, Oscar chegava ao espigão com Will. Ainda que indiferentes, ambos estavam felizes.
Ao chegar no espigão, Oscar testificava aquela obra humana que quebrava o mar revolto e resistia forte às ondas que quebravam ao contato. Aquilo tinha haver com ele, de certa forma, como agora, Will o mar revolto, ele o espigão firme enquanto as ondas o atingia. A lua iluminava o ambiente onde era possível notar alguns casais que também procuravam um ambiente tranquilo para namorar. Caminharam em silêncio por alguns segundos até chegar quase ao final do paredão de pedras. Ali se aconchegaram e Oscar sentou em uma pedra angular na qual sentiu-se confortável enquanto Will, de pé, observava a alegria de garoto por estar ali. Outra vez um "eu te amo" ficou engasgado na garganta seca de Will, que agora o amava com os olhos, sem gestos.
- Como se sente? Indagou Will
- Livre!, respondeu Oscar.
Provável que os casais sequer notaram a presença dos dois. Em suma: aquele instante pelo qual o mundo configurava-se um espaço vazio que somente cabia perfeitamente os dois. Eram, então, como Adão e Eva dos tempos modernos e o Jardim do Éden, por fim, eram fileiras de pedras que tinham o brilho de pedras preciosas e calmas.
- Me abraça? Disparou o menino de Independência ao render-se, por puro cansaço. Deixava-se prender às garras de seu predador. Sucedeu um abraço terno, meticuloso em incalculáveis carinhos. Era um abraço que, caso alguém ao longe visse, julgaria ser apenas um abraço. Portanto era um abraço, porém atrás do pensamento, antes da ação de braços se unirem e descansarem nas costas de ambos, existia ali, no simples gesto, a rendição, a entrega. Os corpos em simbiose eram a fusão indescritível de algo que se tornou magicamente um só.
- Não me deixes, não me deixes, não me deixes... Oscar, eu te amo... Não me deixes...
- Você me magoou tanto, me partiu em dois, arrematou Oscar.
- Foi por medo, eu sou burro, foi por medo.O menino de Independência jamais falara em sussurros com alguém, mas ao falar desse modo novo, lhe veio à mente a ideia de estar como num filme de romântico onde os namorados gritavam em nome do amor através de sussurros que, ao chegarem aos ouvidos, vinham em conjuntos de palavras que gritavam e causavam enorme barulho na cabeça, na mente, no coração. Permaneciam abraçados, enquanto inundado em juras de amor-perfeito, Will levou a boca à boca de Oscar e, de maneira quase inocente, os lábios timidamente se tocaram e logo se reconheceram um ao outro.
O segundo beijo de Oscar, com toda certeza, foi melhor que o primeiro. Agora sabia, por pura orientação invisível, como agir. O hálito exalava o cigarro que ele tanto detestava, mas, de modo singular, aquilo pouco importava pois o encontro daquelas duas bocas incendiava o corpo de ambos. Outra vez, Oscar foi jogado para o sacrifício feliz como uma pássaro preso na gaiola aberta. As mãos de Oscar perscrutavam o corpo de Will. Era estranho por que, de modo aleatório, suas mãos foram ao sexo de Will e notou que ali não estava o que certamente lhe dava prazer. Will, no entanto, gemou ante os toques de Oscar quando a mão deste aproximou-se da região pélvica de Will. O corpo do menino sentiu os seios de Will enrijecidos e os mamilos saltavam da camisa. Quando caiu em si, Oscar invadia o íntimo com os dedos úmidos e, então, encontrou a região íntima. De repente, como um estranho no paraíso, converteu toda pura luxúria em um misoginia e, com brutalidade, afastou-se de Will com repúdio e ressentimento.
- O que foi? Indagou Will confuso pelo gesto brutal e desnecessário de Oscar.
- Você é a porra da metade de um sonho!!! Gritou Oscar e sentiu que o que acabara de ser dito, não saia de sua boca, mas de um coração ferido que não perdoara a mentira de Will, ainda que ele pedisse tanto perdão.
- Oscar, por favor! Will, outra vez, suplicava no escuro daquele amontoado de pedras. A brancura da pele de Oscar, refletida pelo brilho da lua cheia, o fazia parecer um anjo mal. Will, então, foi acordado de um sonho que jamais queria acordar. Outra vez a realidade lhe deu uma rasteira ainda porque só a rasteira da natureza de seu corpo não bastava. Oscar tinha razão, pensou Will: "eu sou a metade de um sonho, desde que nasci até agora". Foi tomado por uma vontade imensa de chorar. Teve um ímpeto de jogar ao abismo para que o mar o engolisse de vez.
- Eu amo uma miragem! Gritou outra vez Oscar e foi notório que alguns casais, que se refugiavam no escuro, se viraram para olhar o casal. O menino chorava e levava as mãos à cabeça aflito e confuso. A transexualidade de Will mexia tanto com seu psicólogo que já não sabia se amava um homem ou uma mulher ou uma ilusão, nada era real.
- Eu não sou uma miragem, eu sou o homem que te ama Oscar!!! Que te ama, caralho!
- Tu lá é porra nenhuma, tu não passa de um homem buceta!!!! Homem Buceta!!!!
As palavras metralharam a pouca dignidade que ainda sobrara a Will. Já não havia Oscar: um menino doce a quem secretamente deu seu coração, o seu amor.
Jamais ouvira aquilo de ninguém quanto mais de seu menino. O universo caiu em suas costas e uma lágrima lhe saltou no rosto. Uma cólera mortal, tão maior e de igual magnitude ao amor que sentia, lhe fez querer matar Oscar. Agredido moralmente, Will desfiriu um soco em Oscar, que caiu no chão pedregoso. Era tão surreal que o menino caído ao chão nada fez para se protege das agressões, apenas aguentou calado. Chutes e ponta pés enquanto Will gritava: "eu odeio gostar de você, eu odeio gostar de você"...
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Dúbia
Cerita PendekOscar é um adolescente que mora em uma zona rural e não aceita sua homossexualidade por medo de seus pais. Através de Apps de relacionamento, conhece Will. Meses desde então a relação vira namoro. Virtualmente ambientado de juras e promessas de W...