Dúbia

Will e Oscar

Na manhã seguinte, após o café da manhã, Chicão pegou todos
de surpresa e falou:
- Hoje vamos todos almoçar na Praia do Futuro.
Falou tão empolgado que sua empolgação envolveu a todos: Juliana gritou de alegria e bateu palmas; Oscar sorriu feito uma criança que ganha um brinquedo novo. A mulher, como que pressentindo algo ruim, falou:
- Homem, não estamos rico não.
- "Nem" deixe disso, vai te arrumar e arrumar Juliana também.
Chicão era irredutível: não adiantaria, nada o faria mudar de opinião. Quando todos estavam prontos, Irene solicitou um carro de aplicativo e logo, em meia hora, já estavam na barraca à beira-mar na Praia do Futuro. Oscar vivia, a cada momento, encantado com tudo. Logo correu pro mar. Irene seguiu junto a Juliana. Ao longe, Chicão admirava tudo aquilo: era a sua família. Todos estavam felizes e ele se sentia realizado naquele momento. Notou, mais adiante, que uma turma de garotos jogava bola. Entre eles estava Will. Aquela visão lhe fez sair da pura paz do momento.
Chamou a família. Não queria que Oscar e Will se encontrassem ali.
Quando todo estavam à mesa, o garçom entregou o cardápio. Pediram o almoço: camarão com arroz branco e uma porção gigantesca de batata frita. Oscar estava tão feliz com aquele momento e, claro, com fome também. Ele nem imaginava que a pouco metros dali, seu namorado virtual estava "batendo uma bolinha".
- Tá tudo bem, homem? Perguntou
a mulher ao marido enquanto comia camarão.
- Tá sim, "Nem", respondeu o caminhoneiro asperamente.

A mulher sabia que não "estava tudo bem", porém não insistiu. Logo após o almoço, Chicão tomava cerveja, mas atento a tudo. Oscar brincava com Juliana à beira da praia. De repente, sem qualquer aviso, uma bola foi arremessada pelo espaço e acertou em cheio, com violência, a pequena Juliana que, de imediato, caiu desmaiada na areia. A forte bolada acertou-lhe no rosto. Chicão pulou da cadeira, pronto pra resolver a punho a situação. Ao mesmo tempo, correu em amparo de sua filha. Rapidamente juntou-se uma aglomeração. Irene gritou de forma que chamou a atenção de todos. Oscar estava assustado, pois nunca havia visto tanta fúria nos olhos de Chicão. Irene pegou a criança nos braços. Alguém dali, rapidamente, ligou para o Samu. Os meninos responsáveis pelo acontecido logo correram em direção à criança atingida. Entre eles estava Will.
- Senhor, me desculpe foi um acidente, disse Will e, em seguida, levou um soco de Chicão e caiu com a boca sangrando na areia. Os amigos de Will, então, reagiram e partiram para briga. Eram seis jovens garotos contra Chicão. Entre gritaria, socos e chutes e pontapés, Oscar, então, entrou na briga. Na tentativa de proteger o pai de coração, levou um soco e desabou na areia fofa. No chão, foi chutado e esmurrado por um garoto franzino. Quando abriu os olhos, Oscar ficou surpreso: era Will.
- É você? Indagou o menino de Independência sangrando.
- Oscar? Berrou Will incrédulo.
- Will? Sussurrou Oscar surpreso.
Caído na areia branca, o menino viu o mundo desabar. Léguas e léguas percorridas para encontrar seu amado e ele estava ali, na sua frente, ambos sangrando e feridos. Os dois petrificaram-se. Era algo totalmente surreal. Will, então, diante de Oscar tombou na areia.
- Eu não acredito que seja você... Meu Deus!!!
Exclamou ainda incrédulo Will.
- Eu vim de tão longe só pra levar uma surra de você?
L Indagou Oscar.
Oscar chorava, Will conteve as lágrimas.
- Me perdoa, meu amor, por favor... suplicou Will.
Ambos se levantaram. Em frente um do outro, finalmente, ambos desabaram. Os amigos de Will e Chinaski haviam fugidos quando outras pessoas entraram na briga. Eles correram, pois estavam em desvantagem. O mundo desintegou-se meticulosamente para ambos ali, um na frente do outro. Will levou a mão para o rosto do garoto ferido. As mãos que, em sonhos ansiavam em acariciar seus cabelos carinhosamente, foram as mesmas mãos que agora tinham feito o seu menino do sertão sangrar. Aquilo lhe feriu como uma lança, partiu-o ao meio. Juliana acordou da bolada. Irene estava com gelo nas mãos, que o garçom de prontidão ofereceu para o ferimento da menina. Chicão estava todo machucado. O clima denso entrava-lhe pelos poros e causava temor. Chicão notou que Will e Oscar estavam finalmente de cara um para o outro e na pior situação possível. Irene notou também. Tanto Chicão quanto ela confirmaram que Will era realmente quem haviam imaginado. Antecedeu a mulher, que ia na direção dos garotos.
- Deixe eles "conversar".
Falou Chicão.
Calada, com a filha no colo, Irene apenas observava tudo a um 20 metros de distância. A pequena menina estava agora calada, mas com um enorme galo na testa.

Oscar fechou os olhos enquanto Will acariciava-lhe o rosto que sangrava. Aquele momento era o que existiu mais próximo do divino para o menino ferido. Agora os braços virtuais de Will se tornaram uma matéria viva que pela qual sentia. Um "eu te amo" ficou engasgado na garganta de ambos.
"Sim, meu Deus, ele existe além da tela do celular, estou como estivesse caindo", pensou Oscar no mais profundo intimo. Estava nu, entregue, rendido. Oscar tornara-se tão pequeno aos toques de Will. De olhos fechados, caira nos mistérios do amor. Um abraço forte partiu de Will depois de alguns minutos que declinavam-se para eternidade na cabeça de adolescente. Aquele abraço quase lhe custou a vida: foram várias noites frias e dias de sol infernal para sentir aquele simples abraço que trilhões de palavras não descreveriam; poente nenhum faria a poesia exata de como aquele abraço, aquele momento, era indescritível. Abraçados sob o sol escaldante de 35 graus, o menino sentiu algo como seios em Will.
- Preciso falar com você, vamos dar uma volta? Disse Will.
O menino olhou Will com estranheza, pois quando observou bem nas suas feições notou algo diferente.
- Sim, claro, concordou Oscar.
Will não esperava que teria que revelar sua real identidade naquela momento, mas não havia saída. Aquela situação lhe angustiara de tal modo que o fez tremer por inteiro e Oscar, sem compreender, notou a profunda angústia de Will.