A Chegada

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Quando Oscar visualizou a mensagem, na qual Will dizia o endereço de casa, logo mostrou a Chicão. O caminhoneiro, então, não teve dúvidas: era realmemte quem pensara. Fez uma expressão negativa que o menino logo desconfiou, porém fingiu estar surpreso com o endereço e com a foto que viu no perfil de Will, no bate papo privado.

- Eu sei onde fica esse endereço, disse o caminhoneiro.
- Então você me deixa direto lá quando a gente chegar em Fortaleza? Indagou Oscar.

Os olhos de Oscar brilharam e Chicão não teve coragem de dizer ao garoto quem esse Will era, na verdade, uma mulher. "Talvez até ele saiba", meditou enquanto comiam tapioca, antes de seguir viagem.

"Mozão, parece que vai ter um passeio na escola pra conhecer o Dragão do Mar, então podemos nos ver? Será no próximo mês, então se prepara."

Oscar respondeu a mensagem com lágrimas nos olhos. Estavam agora a apenas 104 km de distância e aquilo agitava toda estrutura física e mental do garoto. Por um momento, Chicão sentiu vontade de voltar atrás na promessa que fizera a Oscar. Porém não faria isso, jamais seria perdoado pelo garoto. Não entendia o carinho e o amor que sentia por aquele pingo de gente, mas decidiu que cuidaria e velaria por ele até o fim. Resolveu, então, manter o que já havia combinado.
- Vamos pra Fortaleza depois do almoço, viu "muleque"?
Alertou Chicão.
- Pai, ops, Chicão, você me leva à praia antes? É tão grande assim o mar?
- É, meu fii, é a coisa mais "bunita" do mundo.
Os olhos do menino outra vez brilharam e o caminhoneiro sentiu-se honrado por fazer parte desse momento. As horas, então, logo passaram. Às três da tarde, começaram a viagem rumo à utopia de Oscar, que agora tornara em realidade. De repente, em contrapartida, toda felicidade se converteu em um agonia. Cada vez mais que aproximava-se de Fortaleza, um oceano incognitivo de dubiedade fez o garoto boiar num mar escuro de desamparo. Caso Will não gostasse dele? Caso tudo fosse apenas uma ilusão? Oscar não entendia o por quê de se questionar agora que estava tão próximo do sujeito amado. Aquele menino do árido sertão estava tão preso aos tentáculos dos braços virtuais de Will, que não sabia como proceder quando estivesse cara a cara com ele.

- Daqui a duas horas estaremos em Fortaleza, então vamos direto para casa da minha mulher, viu?
- Por mim ta certo.
- No outro dia vamos a praia e te deixo la no endereço desse tal de Will.
- Obrigado Chicão.
- Larga de ser besta, cabra.

Riram, quando Oscar leu a placa Bem-Vindo a Fortaleza e mentalmente agradeceu a Deus e a Chicão. Depois daquela noite que fugiu de casa, enfrentando seus medos, e até o próprio pai, em busca de um sonho que agora se materializava, era de uma imensa felicidade e medo que transbordava aos quatro cantos do mundo. Tudo e nada estava em jogo agora.

Perto da casa de Chicão, na Barra do Ceará, ficou surpreso como as casas eram coladas uma na outra e do imenso número de moteis no bairro e de como o fluxo de carros e ônibus e motos era intenso. Diferente de tudo que, um dia, viu em toda sua vida, estava enfim na cidade grande, isso além de diferente de sua realidade era assustador. Notou que estava próximo da praia, viu ao longe a orla, aquilo que causou um tremor.
- Caramba, o senhor mora pertinho da praia e não me disse?
- Era surpresa, garoto bobo, disse sorridente Chicão.
- Podemos dar uma passada rápida na praia, por favor, por favor.
- Mas é claro, menino!

Perto da orla, Chicão estacionou o caminhão de médio porte. Eram um pouco mais de cinco da tarde, o sol estava se pondo e dava uma composição de gamas de sentimentos abstrato que fecundava tanto Oscar como Chicão. Era tão apaixonante o mar que o menino correu em direção ao encontro daquilo. O caminhoneiro deu um grito de cuidado, mas o menino não ouviu. Quando sentiu os pés na areia, era um sensação oposta à terra seca pela qual pisava. Era úmido, fazia até cócegas. Parou diante do mar, as jangadas e os tímidos coqueirais lhe davam a sensação de estar em uma foto que via no livro da escola. Estar ali se fez realizado, toda a dor e sofrimento valeram a pena só para ver aquele mar, sentir a areia e a maresia . Quando Chicão alcançou o menino, notou que ele estava de olhos fechados como quem faz uma prece. Não interrompeu aquela meditação, apenas levou os braços no ombro do menino e falou.
- Obrigado por ter resgatado em mim o que é ser pai.
Oscar não respondeu, estava contemplado, hipnotizado pela praia.
Em um gesto de surpresa tomou o menino e o colocou nos ombros, como um pai faz em um filho pequeno. O menino sorriu, enquanto Chicão se aproximava das bordas da praia com o menino em seus ombros. Aquilo fez o garoto ser um gigante. Quando a água atingiu a ambos, o homem se jogou nas águas salgadas e caíram juntos amparadas pelo mar. Ao longe, banhistas e pessoas que caminhavam pela orla, assistiam admirados a cena digna de pai e filho. Aquilo maravilhava todos os anônimos que ali passavam, mais nem Oscar e nem Chicão notaram que a alegria dos dois respingara todos ali presente.
Meio horas se passaram e já era o momento de ir para casa.
- Bora, menino, tá na hora.
- Sim, bora se embora, respondeu
Oscar.
Ao chegar no caminhão ambos molhados, o garoto não notou mais havia molhado o celular e agora não ligava. No âmago do momento esqueceu de tirar o celular do bolso, e só agora notará o erro. Lamentou e isso quase lhe levou às lágrimas.
- E agora como vou falar com Will?
Disse aos prantos para Chicão.
- Oxi, eu decorei o endereço, não se aperreie, compro um celular melhor pro meu fii, agora bora capar o gato daqui.
O menino sentia-se tão grato que abraçou tão forte o caminhoneiro, não por conta da promessa de um novo celular mais por tudo que fez por ele, um completo estranho que se tornaram pai.

Ao entrarem na casa do Chicão, observou o quanto era limpo e bem mobiliada, e uma enorme tv de 40 polegadas, que o fez deslumbrado por uma descoberta nova. Quando a mulher de Chicão e sua filha notaram a presença do homem, deu um grito de alegria e abraço profundo o marido. Já faziam meses desde que tinha viajado. A alegria de seu retorno que dava mais fé em Deus e Nossa Senhora Aparecida a quem rezava todo os dias sempre pra proteger seu marido e o meio de transporte pela qual trabalhava. Um sentimento de gratidão do marido ter voltado vivo e bem. A pequena filha de Chicão pedia o braço do pai, então segurou a filha nos braços e deu-lhe um beijo na bochecha. Irene notou a companhia de um garoto e que ambos estavam molhados, denunciando que haviam ido à praia. Uma semente da discórdia foi plantado na mente da desconfiada mulher que agitada prensenciava um suposto bastardo. Manteve a postura, não ia fazer uma confusão agora.

- Quem é esse garoto?
Perguntou intrigada, Irene, mulher de Chicão.
- Sou ajudante dele senhora, me chamo Oscar, interrompeu o menino.
- Pois vão tomar banho os dois enquanto faço uma merenda pra vocês.

Apos o banho, Irene deu roupas limpas a Oscar, e tais lhe couberam perfeitamente. Quanto a mulher viu o menino limpo e vestido, aquela cena lhe arrancou do íntimo a lembrança de como era bom cuidar do falecido filho, de dar-lhe roupas limpas, alimentá-lo; teve que conter-se, pois acabaria aos prantos abraçando o garoto. A mulher, então, fria indicou a cozinha. Na mesa havia bolo de milho, biscoitos e café. Oscar comeu tudo, estava faminto. O garoto não notara mais o clima estava tenso: Irene queria saber da história desse garoto. Quando terminou, a mulher indicou que o garoto fosse para a sala ver televisão a pequena Juliana. Oscar obedeceu alegre. O menino notou que havia diversas fotos de um garoto que parecia ter sua idade. Quis perguntar algo, porém teve vergonha. Estava louco pra asisitir alguma coisa nessa enorme tv. Ao ligar ficou surpreso com as cores e de como a imagem da tv era tão real. Sentiu uma vontade de tocar na tela como se pudesse sentir igual como se toca em gente. Ao canto, Irene observava perplexa a alegria do garoto por está assistindo à tv. A mulher então lançou um olhar questionador pra cima de Chicão e indagou.
- Ande aqui no quintal, quero saber que história é essa.
Falou Irene furiosa, pensava que Oscar era algum filho bastardo de Chicão. O homem sem jeito, foi até em direção o quintal para conversar e explicar tudo a sua mulher.

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