Proximidades

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- Por acaso quer ir preso? Quase
gritou Irene
- Não é bem assim, veja bem, gaguejou o homem.
- Desde quando você vive com outra mulher?
- Como? Interrogou o caminhoneiro.
- Você acho que sou besta, Chicão?Conte logo, esse bacurim é seu filho?

Chicão segurou firme nas mãos da mulher que, em prantos, procurava respostas. Explicou tudo olhando em seus olhos, falou toda a verdade desde quando Oscar pediu carona até agora. Respondeu todas as perguntas de Irene claramente, sem titubear, olho no olho de modo que ela não contestou a veracidade da história em momento algum. O que lhe corria por dentro, naquele momento, era o medo do marido ser preso. Chicão era um homem bom, mas já se prejudicara várias vezes pelo seu exagerado altruísmo. A raiva cessara, porém a preocupação tomou conta, nada poderia fazer para mudar as idéias de casmurro de seu homem. Agora era só rezar para todos os santos que tudo terminasse bem. Depois Chicão falou de Will e que o menino gostava de garotos. A mulher ouviu tudo. Surpresa pela história, teve dó do menino. O que Will estava fazendo com aquela pobre criança é desumano. O grande mundo agora configurava-se pequeno por tais coincidência. De uma só vez o garoto mexeu com todo psicólogico da mulher. Lembrou de Will naquele dia que estavam em casa no tempo que Otávio era vivo. De cara notou que Will era menina, pois as certas naturezas de instinto que nunca mudam. Não conseguia achar palavras para tudo que acabaram de ouvir. Ao mesmo tempo que o sentido de mãe foi ativo, o instinto de proteção dizia que Oscar deveria estar longe. Para Irene o garoto gostar de menino não era problema, porém achava loucura vir de tão longe pra cometer tal desatino.

- Pelo amor de Deus, a polícia te pega ajudando esse menino, homem de Deus?
Suplicou a mulher.
- Tenha calma "Nem", tudo deu certo até agora.
- Depois que ele encontrar esse bendito garoto como vai ser depois?
- Tenha calma, pago a passagem pra ele ir embora oxi, tenha nervo.
Minutos de silêncio procedeu até que a mulher cortou o silêncio e disse:
- Vou contar isso pra esse menino. O menino vai morrer de desgosto, Chicão.
- Não se intrometa "Nem", deixe que ele descobre "sozim".

Calaram-se, porém a mulher estava indignada com tal situação. Vendo ele brincando com Juliana, desejou que ficasse como seu filho em Fortaleza. Chegou até Oscar, chamou o menino pro canto, mostrou o quarto de Otávio onde passaria a noite. Irene sempre deixara limpo e as roupas de seu filho morto lavadas e passadas. Era como se Otávio pudesse chegar em qualquer momento. Irene não entendia o porquê disso, mais agora estava abrindo a porta de sua casa, do quarto do filho para aquele garoto que pedia amor e cuidados pelos olhos. Irene então mostrou o quarto onde Oscar passaria a noite.
- Nossa, vixe Maria que quarto lindo.
- Se acomode, menino.
Disse materna.

Minutos depois Chicão veio com um celular que prometeu a Oscar. Ficou surpreso, agradeceu e logo pediu a senha do "wi-fi". Chicão colocou a senha. Depois, então, foi para o quarto de casal, Irene sentada fumava enquanto esperava o marido.
- Fiz o que você pediu.
- Tudo bem, Juliana já tem um tablet, não precisa de celular não.
- "Nem".
- Que foi homem de Deus?
- Vem me amar.
Chamou o caminhoneiro
Os dois, então, mataram a saudade na cama enquanto o menino, no quarto ao lado, se via encantado pelo novo smartphone. Aparentemente tudo estava de uma tranquilidade singular, mais ninguém poderia adivinhar que em breve viria a tempestade.

Do outro lado da cidade Will nem de longe poderia imaginar que Oscar estava tão perto agora. Will se encontrava tão pesado, que tudo que queria era conversar com o seu menino naquele momento. Já era noite, perto das 20h00, quando recebeu a mensagem.
- Boa noite, mozão.
Oscar mandara um áudio no privado .
- Posso ligar?
Will respondeu com Áudio.
- Sim meu, amor.
Milhões e milhões de pensamentos vieram a tona para torturar a mente de Will: era agora, contaria tudo. Ligou, quando Oscar atendeu parecia que o mundo iria acabar naquele momento.
- Boa noite meu amor, tá tudo bem?
- Está sim, Oscar, só com saudades.
Will perguntava a si: será que o garoto não desconfiava dele ao menos pela voz. Mais notou que os hormônios deixavam a voz mais grave.
- Quem sabe podemos nos ver o mais rápido quanto imaginamos.
- Eu vou te encher de beijos.
- Will, seu bobo!
- Seu bobo, quando eu deixar de ser desconfie.
Ambos riram, e a conversa perdurou por pouco mais de duas horas. Irene observava tudo de longe, mas atenta. Observava quanto o menino se magnificava quando ele falava com o esse tal de Will. Com certa indignação interrompeu a conversa.
- Oscar meu fiii, tá na hora de dormir.
Gritou Irene da cozinha.
- Há certo, vou dormir agora, respondeu
Oscar.
- Tá na hora de criança ir pra cama, desdenhou Will ao telefone.
- Dormir, mô, tá na hora, declarou Oscar.
- Então até amanhã beijos.
- Cadê as palavras mágicas? Questionou Oscar.
- EU TE AMO PRA CARALHO!!!
- Haaa, seu bobo, também te amo.

Quando Will desligou , Oscar logo adormeceu. Estava, porém, tão envolvido que de tanto pensar sobre o amanhã que encontraria Will que pegou no sono. Já Will, no âmago, não aceitara que amava aquele menino até os ossos. Revoltou-se consigo, pois não teve coragem de falar toda verdade sobre sua transexualidade.
Acendeu um cigarro e começou a observa, no teto do quarto, uma enorme teia de aranha. Aquilo era a única coisa viva mais presente naquele momento. destrui-la seria como destruir a si mesmo, pois agora, de modo estranho, aquilo era agregado ao quarto tanto quanto ele ao seu próprio quarto. Decidiu que iria à praia jogar bola com os amigos. Precisava arejar a cabeça na Praia. Instropectivo, Will caiu no sono profundo no qual só os exaustos de si encontram em horas negras como aquelas. Dormir era o que lhe bastava até então.

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