Detenção, Revelação, Jantar e Hospital

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Eu acabei pegando detenção por uma semana. E ainda tive que pagar um armário novo para a escola. Porque meu armário tinha que ser bem ao lado da sala do diretor ?

-Tchau Carlos. Se cuida hein?
Estávamos na porta da escola, finalmente livres daquele antro. Ou pelo menos o Carlos estava.

-Bye, Jhonnyto. Vê se não vai arranjar briga com o Jhon, ok?
Pode parecer loucura, mas eu vi minha mãe falando nesse momento. Só que com a voz do Carlos.
Assustsdor.

-Arfs, parece até a minha mãe falando...
Eu disse, inevitavelmente revirando os olhos.

Eu fui direto para a sala 234, a da detenção.
E adivinha? A Equipe Águia estava todinha lá.
Passei direto pelo grupo e sentei-me na última cadeira.
Passei um bom tempo lendo, antes de levantar a cabeça e reparar no Cachinhos.
Com aquele mesmo olhar penetrante nos olhos.
Desejo.




               **********




- Ele ficou me olhando o tempo inteiro! A semana de detenção inteira!

Eu não tinha feito amizade com mais ninguém daquele colégio. Meu único amigo era o Carlos, e nós, naquele momento, estávamos debatendo em meu quarto o que significavam os olhares misteriosos do JC.

-Eu não acho que isso signifique alguma coisa, Jhonny- Carlos disse, pegando na minha mão. Ele já estava me irritando! Urr! Eu sei o jeito que ele estava me olhando!
Na verdade, eu queria que JC me olhasse assim, entende?
Sabe quando você se acha um Reynaldo Gianecchini/ Gisele Bündchen só por que imagina que o "gato da balada" estava te olhando?
Eu estava pior. Muuuito pior.

- Mas você não viu o jeito que ele estava me olhando...-Tentei contra argumentar- tinha um algo a mais... um "shine bright like a diamond"... - Percebeu? Divei!

-Jhonny, se você ficar falando desse jeito, eu começo até a pensar que você gosta dele...-
Ele riu.
Eu fiquei mudo.
E ali estava de novo. A decisão de me assumir. Revelar a verdade.
Mas qual seria essa verdade, afinal?
Eu precisava decidir: conto, ou não conto? Confio ou não confio?
Ao perceber minha seriedade repentina, ele parou de rir.

- Você é ... hétero, não é?- Ele perguntou, sério.

Pronto. Ele tinha feito a pergunta que eu mais temia que fizesse.
Não que eu seja complicado... Eu super relax com a minha orientação sexual. Sou totalmente Gay and Proud, entendeu?
Então bate, bixa!
Mas, eu chegar e contar para mais alguém?
Aí é totalmente diferente.
Como ele lidaria com isso?
E se eu perdesse meu único amigo naquela cidade?

De algum modo, contar para o Carlos representava externar pela primeira vez algo que sempre internalizei.
Sempre passei pelos relacionamentos anteriores chamando-os de experiências.
Será que eram só isso?

Será que eu estava pronto para enfrentar os olhares, os comentários, as risadinhas, o preconceito, a ignorância, a intolerância?
Será que estava preparado?

-Hm...-Engrossei minha voz- Não, pô! Eu sou macho! Qual foi, véi? Tá me estranhando? - Ok. Eu queria muito dizer agora que ele caiu feito um patinho, porque eu sempre quis dizer isso, mas não.
Isso não convenceu nem a minha avó cega, surda e muda.

Ele me olhou desconfiado... E aquela dúvida não saía da minha cabeça: será? Se eu estava pronto ou não, não importava mais.
Era um passo grande para mim que eu estava disposto a dar.

- Olha Carlos, eu preciso te contar uma coisa. Eu sou gay. E se você tiver algum problema quanto a minha sexualidade, me desculpe mas o que poderia ser uma amizade, nem começará.

É Certo ? É Errado ? É Amor? (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora