ADC, Amigos e Bilhetinhos.

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Acordei na manhã seguinte com uma puta dor de cabeça. Era como se, na noite anterior, Rasputia tivesse resolvido treinar sua apresentação de sapateado moderno em meu couro cabeludo.

Em parte, isso era culpa do Marcos. Havia passado a manhã anterior inteirinha pensando no nosso passado.

Devo confessar que era bom, que eu gostava da ideia de nós dois juntos. Mas para mim, aquilo não passava de arrependimento reprimido. Com certeza ele tinha tomado chifre e visto a vadia que a Carla era. Mas era tarde demais para se arrepender. Minha confiança quebrou como um copo de vidro, ou seja, não tem volta. E também, tinha o John. Por algum motivo, no fundo da minha mente, havia uma parcela de mim que esperava o esquecimento do Cachinhos, agora que Marcos havia voltado.

-Mãe!

Gritei, esperando que fosse demorar como de costume. Mas, para minha surpresa, ela apareceu na minha porta por volta de dois minutos depois, reclamando.

-Não são nem seis horas da manhã e você está me chamando! O que é que você quer, droga?!

Ela gritou quase como um retorno ao meu grito.

-Eu não vou para a escola hoje.

-Tá bom. Mas eu não vou fazer comida.

Ela disse, virando-se para ir ao trabalho tão adorado.

-Você não vai nem perguntar por quê?

-Não.

Ela disse, e no mesmo momento bateu a porta, deixando-me a sós com meus pensamentos e devaneios.

Logo após mais meia hora da mais nova novela mental mexicana: "Nos Laços Das Paixões Arrebatadoras de Johnathan", liguei para Carlos avisando que eu não iria à escola naquele dia.

-O quê?! Por quê? Tá doente de novo?

Foi sua reação exagerada, como sempre.

-É... Minha cabeça tá explodindo. E eu também não estou muito afim hoje.

-Tudo bem, então. Fique bem aí, eu já estou indo para sua casa.

-Ué? Como assim?

Perguntei surpreso.

- Vou ficar com você. Da última vez, você teve princípio de AVC e não foi nada bom.

-Não, Carlos! Preciso de você aí vigiando o John e tudo que ele faz.

-AARGH! Desde quando virei universitário para ter uma tese de TCC dessas?

-Por favor! Por favorzinho!

Fiz minha melhor voz de eu-sou-um-cachorrinho-abandonado no telefone, esperando convencê-lo.

-Tá, vai. Tudo bem, mas mais tarde eu vou ver como você está. E não aceitarei não como resposta, viu?

-Tá bom, Carlos. Eu estou revirando meus olhos aqui, só para você saber. Tchau.

Desliguei o telefone e resolvi fazer algo que não fazia, acreditem, desde o meu término com Marcos: um ADC! Tudo bem, eu explico o que é. Isso só tem o nome de uma doença. Na verdade, é uma sigla para Assistir, Comer e Dormir, um antigo ritual nosso.

Tomei coragem mentalmente e desci para pegar minhas preciosidades (leia-se comida). Porém, levei um susto ao encontrar Marcos só de cueca na geladeira.

Ele não era do tipo sarado, não mesmo. Mas era difícil segurar a ereção ao ver seu corpo magro, seu sorriso e, principalmente, aquelas clavículas e aqueles olhos.

É Certo ? É Errado ? É Amor? (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora