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7 de Setembro de 3424. Cidade de Velns, bico do corvo.

Ela teve uma noite conturbada.

Gyerda encarou as nuvens de tempestade, pareciam terríveis e violentas, soltando relâmpagos que cruzavam o céu por toda sua extensão e ameaçavam tocar o chão em seus lampejos impressionantes.

Coberta por apenas macias cobertas de cores vividas, ela sentia seu corpo quente não só por estar envolvida em cobertores, mas também pelo calor do corpo com o qual tinha se deitado momentos antes.
Ela ainda ponderava sobre aquele homem com um misto de preocupação e ansiedade, sentia como se sua relação fosse uma daquelas nuvens de tempestade, intensa e inesperada, como se a qualquer momento um disparo fosse irromper com força suficiente para acertar algum andarilho ou uma árvore, reduzindo tudo à destroços e chamas.

- Algo a incomoda? - A voz de Rang veio de longe, seu rosto estava implacável como sempre, sua figura perfeitamente ereta impondo dominância e autoridade, e ele vestia calmamente um sobretudo preto por cima de suas roupas casuais.

- Eu só estava pensando... O que pensariam disso. - Gyerda disse, incerta.

- Eu não acredito que eles tenham direito a ter uma opinião. - Rang disse, sem pensar duas vezes.

- É que como você sabe, toda essa tensão entre sua espécie... e a minha...

- Você não é sua espécie e eu não sou minha espécie, somos indivíduos, Gyerda. - Rang disse, conforme abotoava suas roupas.

- Eu sei, somos indivíduos, mas o conflito é inevitável. - Gyerda disse, virando o rosto para encarar os aposentos pessoais do rei.

Ela visualizava os céus através de uma parede de vidro que era ao mesmo tempo a lateral da sala, o castelo conhecido como o Bico do corvo tinha esse nome pelo formato da montanha sob a qual tinha sido construído, eles estavam na ponta, na posição mais alta e ao mesmo tempo mais distante do chão, tudo que era possível ver dali eram nuvens tanto acima quanto abaixo.
O quarto em si era luxuoso, mais luxuoso do que qualquer outro poderia ser, ela lembrava do dia que pisara ali na primeira vez, nunca imaginando que um dia deitaria naquela cama ou... com ele, até mesmo seus antigos amigos não pareciam aprovar aquela relação, mas no momento havia sido algo tão intenso e espontâneo...
Agora Gyerda começava a questionar, ela estava tendo casos com o Tirano de Velns, o rei do país dos Genghatts, uma espécie caótica e confusa, que atualmente tinha tensão de guerra com seu próprio país, os Cruzídeos. Ela mesma havia sido enviada para trabalhar ali nesse caso, resolver o...

Os pensamentos dela foram interrompidos quando alguém bateu na porta, de forma instintiva e ágil Gyerda correu para pegar suas roupas do chão, vestindo suas roupas íntimas de forma apressada e desengonçada.

- Intendente? - Rang perguntou, aproximando-se da porta de sua sala.

- O Sr. Vanko lhe pediu que lhe entregasse uma mensagem senhor. - Disse a voz rouca do Intendente, um Genghatt anão.

- Acredito que isso possa esperar, estou ocupado no momento. - Rang aproximou-se da porta.

- A mensagem, Rang, é que Magnar Vanko está aqui pessoalmente e precisa urgentemente falar com você. - Disse uma voz mais grossa e irônica, era a voz do próprio Magnar Vanko.

- Magnar?

- Você vai abrir a porta ou vai deixar um velho amigo esperando?

Rang se virou para Gyerda, que terminava de se vestir com um olhar de vergonha, Gyerda nesses momentos se sentia grata por ter quatro braços, tornava alguns processos muito mais rápidos.

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