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Nika caminhou para a enorme arena de combate, sendo indicada para caminhar na direção de uma sala larga, a última antes de entrar dentro da arena, com um portão de ferro que seria erguido em alguns minutos para que ela pudesse entrar para o combate.

Mas, em frente ao portão uma mulher aguardava por ela, ela tinha quase dois metros de altura, olhos perfeitamente brancos como se fosse cega, e vestia-se de uma forma no mínimo excêntrica, com uma cartola negra sobre a cabeça que ocultava os cabelos loiros cacheados. Sob uma roupa quase masculina ela vestia uma capa larga que a envolvia, que parecia balançar com um movimento hipnótico, mesmo na ausência de vento.
Ela aguardava, e erguia uma bandeja em uma mão só com equilíbrio perfeito, como uma garçonete se exibindo, sob a bandeja Nika viu um frasco transparente, com um formato levemente curvado quase fazendo um C, o frasco estava cheio de um líquido vermelho, com um pó metálico acumulado no fundo.

- Pegue. - Ela disse. - Beba.

- Posso pelo menos saber o que é? - Nika a encarou, curiosa, nunca haviam pedido que ela bebesse algo antes de uma luta.

- É Sangue Férreo, vai acelerar seu coração, lhe encher de adrenalina e aumentar sua capacidade regenerativa. - Ela sorriu. - É uma ajudinha.

- Uma ajudinha? Você é escrava aqui? - Nika a encarou, ainda sem tocar no frasco.

- Não, eu sou... Digamos que sou um admirador. – Ela deu um sorriso.

A combinação do rosto da mulher com os cabelos loiros dava a Nika uma sensação estranha, como se ela as vezes parecesse muito com Alice, e depois de alguns segundos essa semelhança simplesmente sumisse.

- Admirador? - Nika repetiu, a mulher havia citado ela mesma no masculino.

- Ah, decerto, eu ainda me perco com flexão de gênero em seu idioma, de onde venho não há isso. - Ela sorriu, mas o seu sorriso era cada vez mais estranho, largo e sem vida.

Nika pegou o frasco de cima da bandeira, o pó metálico no fundo dele balançando e se misturando com o líquido vermelho... Seria literalmente sangue? Ela provavelmente saberia se provasse, o gosto de sangue já tinha se tornado familiar.

- Misture antes de beber. - Ela disse, e então começou a se afastar, indo sem pressa na direção da saída. - Acho que você tem uma luta pra sobreviver agora, não é?

Antes de responder, Nika chacoalhou o Sangue Férreo e o tomou em uma só golada, era um frasco pequeno e o gosto era forte e ácido, tinha sangue real naquilo sem dúvidas, mas era diferente, o gosto era bom, ela praticamente se viu desejando um segundo frasco.

- Do que você disse mesmo que isso era feito? - Nika perguntou, olhando na direção da mulher.

Mas ela simplesmente não estava mais lá, Nika olhou ao redor, pela sala, mas ela havia desaparecido completamente, e quando parou para olhar para o frasco em sua mão, ela não segurava mais nada.

Era tão perturbador que ela se perguntou se ela havia sido drogada, mas ela já tinha sido drogada antes e sabia exatamente o que fazer, deu alguns passos em linha reta e testou a própria coordenação, ela estava perfeitamente sóbria. Mesmo assim se pegou pensando como ela poderia ter visto uma mulher ali dentro da sala trancada, e como o frasco havia sumido de sua mão magicamente.

Ela foi trazida de volta ao mundo real quando a porta de aço da arena começou a se erguer, então ela escutou a voz de um anunciador.

- Eu acho que vocês já ouviram falar dos Morphos né? Aquelas coisas que mudam de forma e não tem raça definida, geralmente assassinos, espiões, pessoas difíceis de se encontrar. - Ele riu. - E se eu dizer que a gente encontrou um pra dar um show pra nós?

Ela adentrou a arena, o chão era coberto por rochas calcárias de tom cinzento, o que seria muito desconfortável se ela não tivesse colocado botas junto com aquela roupa de tecido Havinno. As paredes ao redor dela eram cobertas pelos símbolos pintados das três principais facções das casas ambulantes.

A Kratokos tinha dado a ela aquela roupa e a ameaçava se perdesse a luta, era uma facção de maníacos, ladrões com impulsos assassinos, eles haviam começado aquelas lutas em arena, e, portanto, tinham os melhores lutadores ali, e o domínio sobre as regras do combate. Os Herdores e os Rizzais eram duas facções um pouco menores naquela área, mas ainda assim importantes, um deles era especialista em tráfico de armas e o outro era especialista em roubos furtivos, embora ela não fosse capaz de se lembrar qual era qual...

Enquanto pensava ela escutava os gritos ensandecidos de todas aquelas pessoas nas muradas da arena, entre muitas pessoas sentadas haviam pelo menos uma centena de indivíduos entusiasmados esperando por ver uma garota ser dilacerada num combate visceral. Essa "plateia"... tinha em torno de 400 pessoas ao todo, composta por toda a escória que vivia naquelas casas ambulantes principais e em todas as outras menores que se reuniam ali.

- Pois é, e digo mais, é uma garota... Já pensem na mística de uma pessoa assim capaz de mudar de forma. - Ele disse, entusiasmado, ou talvez fingindo que estava. - É, você tem o direito de ficarem excitados olhando pra ela, por que se ela perder hoje ela vai estar permanentemente fora das lutas... E vai ser uma boa companhia para as noites de quem pagar mais!

Nika respirou fundo e saiu pelo portão, caminhando para o meio da enorme arena.

- Olha pra ela, meu povo... O rostinho dela deixa claro como ela é corajosa em estar aqui essa noite, é uma mulher cheia de energia, mas será que ela pode enfrentar o nosso campeão, Thorran?

O portão do outro lado da arena passou a se abrir, Nika estremeceu, ela iria lutar contra o campeão deles? Ela acreditava que iria ser um dos campeões, não o maior de todos.

" Eles querem que eu perca, eles querem me tirar das mãos do velho Hashua, esse vai ser meu fim. " - Ela pensou, conforme o coração dela ficava cada vez mais pesado no peito.

Embora ela se sentisse ansiosa e terrivelmente amedrontada, seu corpo parecia melhor do que nunca, não sentia mais dor dos ferimentos anteriores e seus pés pareciam mais leves do que nunca... Seria isso efeito do Sangue Férreo? Talvez.

- Veremos essa noite! Soltem Thorran! - Ele berrou.

Dos dois lados da arena, duas grandes lanternas a óleo se acenderam iluminando quase a arena inteira, Nika teve de cobrir os olhos com as mãos, recuando perante a luz repentina na escuridão, isso era um problema dos grandes, para ela, mais luz significava menos poder.

E não era pouca luz, as duas lanternas tinham o tamanho de pessoas, com chamas vívidas e poderosas queimando dentro delas, expulsando as sombras de quase todo aquele espaço exceto apenas um ou dois espaços com algumas sombras restantes.

Sua atenção rapidamente foi desviada para o portão de ferro no lado oposto da arena, Nika arqueou uma sobrancelha quando foi percebendo a sombra do seu oponente se tornando cada vez maior e mais intimidadora. Antes que o portão de ferro terminasse de se abrir, ele saiu para fora raspando a cabeça nas grades como uma besta selvagem.

"É um Garagung, é a porra de um Garagung." - Ela arregalou os olhos de terror.

Naquele momento fatídico, Nika realizou que ela já estava morta. 


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Profundezas EthéreasOnde histórias criam vida. Descubra agora