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Eles escutaram tiros vindo do lado de fora.

Alice estremeceu, e os homens ao redor dela apenas olharam para as janelas, confusos, o que poderia estar acontecendo que tivesse necessitado tantos disparos? Talvez algum escravo fugitivo. Mas não, ela no fundo sabia que tantos tiros assim deveriam ser algo maior, mais importante e perigoso.

Alice olhou para Dirra do outro lado da sala, ela não parecia tão preocupada, sempre com o comportamento de sempre, neutra e sem esperança. Alice então olhou para o Sr. Duncan, um Cruzídeo alto, de queixo quadrado e feições até um pouco belas, mas um coração podre como um cadáver em decomposição. Ele ordenou com um leve aceno de cabeça que um de seus homens olhasse pela janela, e ele o fez.

Até então eles tinham estado naquela enorme sala de jantar, cuja larga mesa havia sido coberta por comidas luxuosas e fenomenais, Alice e Dirra estavam presentes na mesa, ambas tinham sido não apenas vestidas como nobres, mas haviam também sido ordenadas que fingissem ser damas – independentemente do que acontecesse – até o fim do dia.

Claro, tudo isso parecia ser um orquestrado plano para que o filho primogênito de Duncan fosse para cama com uma das duas mulheres, e que, além disso, acreditasse que elas eram verdadeiras damas, provavelmente para evitar a vergonha alheia da classe alta.

Mal sabia Duncan que o filho dele já havia usado Alice pouco tempo antes daquele jantar, e embora já tivesse compreendido toda a farsa, o jovem pretendia continuar com o jogo, já que tinha alguma ideia nefasta em mente.

Alice ficava cada vez mais tensa e preocupada com o que ela teria que enfrentar naquele jogo perturbado, jamais havia imaginado que sair para dar uma voltinha na propriedade iria metê-la numa disputa familiar entre nobres.

Os homens da casa continuavam as suas conversas entediantes, com palavras complicadas e triviais considerações um sobre o outro, dando muito pouca atenção ao homem que haviam enviado para olhar pela janela.

Imagine a surpresa quando o corpo dele caiu para trás, com um tiro na cabeça.

- Meu deus! – Duncan berrou, seu tom não era autoritário ou forte como normalmente era, ele estava verdadeiramente assustado.

- Eu vou procurar uma arma. – Seu filho disse, pouco antes de sair correndo pelas escadas para os quartos acima.

- O que é isso? – Dirra perguntou, tão surpresa quanto os outros.

Os outros homens na mesa começaram a discutir, Alice não conhecia nenhum deles e tampouco havia tido interesse nas apresentações, mas a conversa deles naquele momento lhe chamou a atenção.

- É a casa dos Rizzais atacando novamente? – Um perguntou, com olhos esbugalhados.

- A Rizzai está mansa como um filhote desde o seu último fracasso, só pode ser a Krotokos! – Outro berrou, parecendo furioso.

- Não pode afirmar isso, eu sou um deles e estou bem aqui! – Um Genghatt se levantou, irado.

- E que prova você é? – O de olhos esbugalhados apontou o dedo gordo na direção do Genghatt. – É um membro tão patético que não seria surpresa que você nem soubesse o que sua casa planeja!

A discussão acalorada foi interrompida, pois um sujeito atravessou as portas da mansão.

Em seus olhos, pânico. E todo o seu corpo estava salpicado por uma quantidade grotesca de sangue.

- Os escravos se revoltaram! – Ele berrou, preparando-se para falar algo mais.

Porém, um tiro atravessou-o entre as omoplatas, continuando como projétil até que o resto da bala acertasse a mesa de madeira. O sujeito acertado estremeceu dando dois passos para a frente, antes de cair no chão sem forças, enquanto atrás dele foi possível ver os primeiros escravos vindo correndo na direção da porta com espadas e arados nas mãos.

Duncan e outro homem correram para a porta e a fecharam com força, colocando o próprio peso para mantê-la fechada.

Dirra ficou ali em sua cadeira paralisada, era impossível compreender se ela estava paralisada pelo medo ou se ela havia aceitado um destino sombrio, em uma hipótese mais otimista ela poderia simplesmente ter acreditado que os homens iriam controlar a situação.

Porém, Alice ergueu-se e fez o que qualquer moça sensata faria.

Entrou em completo pânico.

Á frente dela a porta começou a ser verdadeiramente fuzilada, balas atravessaram não somente a madeira e suas trancas, mas também o corpo surpreendido de Duncan, que caiu de joelhos ao chão balbuciando alguma coisa inaudível. Alice não ficou ali para ver aquele show sangrento, e correu por um dos corredores conectados ao Hall, horrorizada com a sequência de ações.

Correu para um dos primeiros quartos que viu, era luxuoso, tinha candelabros por toda parte cujas velas acesas pareciam ter a intenção de deixá-lo com um tom romântico. Alice percebeu rapidamente que a cama estava coberta por cobertores longos que quase encostavam no chão, então ela simplesmente se jogou no chão e se arrastou para baixo.

Por um tempo ela tapou os ouvidos, encolhida debaixo daquela larga cama de casal, abraçada com nada além de si mesma. Tapar os ouvidos não a impedia de escutar os tiros e gritos que vinham do hall da mansão, e cada vez mais a ansiedade tomava conta dela, fazendo aquele esconderijo parecer cada vez menor e cada vez mais difícil de respirar.

Então, ela escutou a porta se abrir.


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Profundezas EthéreasOnde histórias criam vida. Descubra agora