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Ainda era uma madrugada fria.

A adrenalina impedia que Alice sentisse os ventos frios que a atacavam pelas costas, inutilmente tentando congela-la, mas tendo como único efeito um simples frio na espinha de desespero absoluto.
Ela cobria as costas de Nika enquanto elas lentamente caminhavam para sair da grande casa do Mr Duncan, seu corpo tremia com terror, mas ela se esforçava para manter uma face determinada, mesmo que ela tivesse medo de se ferir ou falhar, ela confiava cegamente em Nika.

Esperança, afinal de contas, sempre havia sido seu superpoder, Alice sempre conseguia ficar positiva mesmo nas piores situações, e parecer determinada e calma mesmo quando não conseguisse manter o jantar dentro do estômago.

Embora vivesse a um tempo como escrava sexual, ela conseguia se acalmar e dar um sorriso reconfortante, dizendo a todos que está tudo bem, enquanto seu corpo falhava e sua mente desejava desistir a todo momento. E mesmo assim, ela jamais havia ferido ninguém, jamais havia tido coragem sequer de arranhar um de seus carcereiros, de forma que mesmo alguns momentos antes, com Nika em um duelo de facas com um possível assassino, ela não tivera coragem de disparar. Nunca seria uma assassina.

- Alice. - Nika entrelaçou a mão na dela. - Você tem certeza que tá bem?

- Eu estou... Claro. - Alice olhou para Nika com uma expressão calma, dando um sorriso. – Vamos sair daqui logo, certo?

Nika não pareceu convencida, mas rapidamente virou-se novamente para o corredor e voltou a andar. Elas saíram de volta no salão onde Alice havia estado meia hora antes, mas ele estava diferente.

A mesa de jantar no centro da sala agora tinha suas toalhas brancas pintadas de um vermelho sangue doentio, as comidas anteriormente trazidas à mesa, requintadas e luxuosas, agora estavam em pedaços, como se uma multidão furiosa houvesse feito uma competição de quem comia mais rápido.
Das 12 cadeiras que a mesa comportava anteriormente, pelo menos cinco delas agora eram ocupadas com mortos, era fácil saber que não podiam ter falecido sentados, e o rastro de sangue indicava claramente que elas haviam sido arrastadas de volta para as cadeiras, como bonecos forçados a interpretar uma peça doentia.

Nika movia-se em um silêncio perfeito, mas quando Alice deu um passo para dentro da sala, seu pé afundou em uma tábua de madeira fraca, fazendo um som de ranger ecoar até atingir o teto abobadado.

A cadeira no fim da mesa se moveu, como se alguém a girasse no próprio eixo de uma forma que nos podia ser possível, e então o indivíduo se ergueu com agilidade, apontando um Revólver pesado.

Nika fez o mesmo com a própria arma que carregava, e os dois se encararam a uma distância de doze metros que a mesa percorria.

- Olha só, você é a escrava que caiu naquela cela, atirou na fechadura e berrou aquelas palavras... Como é que foram mesmo? - Ele se esforçou para pensar, então repetiu as palavras. - "Pois é galera, é uma rebelião".

Nika ficou em silêncio por alguns segundos, até que o homem falasse novamente.

- Foi inspirador, de verdade.

- Você é um escravo? - Nika perguntou, nenhum dos dois havia abaixado as armas até então.

- Se eu não for você vai atirar em mim? - Ele girou a arma na mão, com velocidade, estendendo à Nika o cabo. - Não sou, mas vai gostar de saber que eu não sou um carcereiro. Estava apenas perto da cela, não dentro dela.

Nika fez um sinal para Alice, que demorou um pouco para entender o que ela pretendia, mas então entendeu, a arma, sim, claro! Alice deu dois passos para a frente mantendo a espingarda abaixada, e agarrou a arma que o homem entregava, puxando com um pouco de receio.

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