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Agora, Nika estava praticamente nocauteada no monte Golypus. 

Não lhe é estranho sonhar com memórias enquanto seu cérebro descansa. Claro, não se está realmente descansando quando um Garagung te coloca para dormir com um soco de um punho maior do que seu torso, mas mesmo assim...

Ela se viu de pé ainda no ringue. O corpo tremendo todo exausto apoiando as costas na borda daquela pequena arena de dez metros, improvisada com cordas comuns e vigas de madeira.

Os escravistas estavam rindo freneticamente, Nika havia vencido novamente de algum oponente do qual ela não se lembrava mais, já havia passado e agora ela só queria voltar para sua cela no submundo de Nekkro e dormir por uma semana.

Então eles mandaram Alice e Dirra pra lá, a Taverna próxima do porto de Nekkro mudou de ar, as pessoas que comemoravam com cervejas começaram a olhar para as duas garotas, com seus vestidos simples e cinzentos, cabelos arrumados e perfumes baratos. Em segundos haviam esquecido de Nika ou da luta, tinham preocupações muito mais repulsivas do que uma luta de ringue clandestina.

Nika olhou para Alice, tentando dar um sorriso de vitória, mas Alice olhou pra ela com tristeza, provavelmente considerando o rosto pós-batalha de Nika, o sangue nos lábios rachados e o olho que ela mal conseguia manter aberto. Em pouco tempo o olhar de Alice havia sido desviado a força, haviam colocado algo no rosto dela, algo para ela colocar na boca.

As coisas que eles as fizeram fazer naquela noite ainda atormentavam os pensamentos de Nika, a faziam acordar repentinamente para vomitar o pouco que ela estava acostumada a comer.

Pouco tempo depois, Nika estava jogada no chão no canto da sala, jogada de lado e presa a uma cadeira por tentar "atrapalhar a diversão dos homens". Eles tinham um acordo, ela não se prostituía enquanto continuasse lutando, e Nika tinha sorte deles sempre terem honrado esse acordo, ela nunca tinha sequer perdido a virgindade.

Naquele dia, presa na cadeira, chorando amordaçada ela foi obrigada a assistir o que seria o destino dela se ela parasse de vencer as lutas.

- Pra uma boa lutadora, você é um porre, Nika. - Ouviu dizerem. - Olha pra elas, você não acha que elas tão gostando?

Haviam mulheres também, elas riam mais do que tudo, não se submetendo ás mesmas condições que as "putas", mas claramente incentivando as terríveis sequências que aconteciam, batendo palmas e gritando ideias para os homens realizarem com as escravas...eram todos monstros, todos eles, homens, mulheres, eram todos farinha do mesmo saco.

Ela não queria chorar. Ela queria morrer.

A noite passara em câmera lenta, tão terrível como uma cena de tortura, e depois do que pareciam anos, a taverna estava vazia e trancaram a porta pelo lado de fora, deixando as três lá dentro com a sujeira que eles haviam feito, para que os escravistas tivessem que limpar aquela sujeira no dia seguinte quando o taverneiro fosse arrumar o estabelecimento. Alice limpou as lágrimas do rosto enquanto se aproximava, ainda estava nua e suja, o corpo dela tremia a cada passo como se as pernas dela tivessem perdido as forças para caminhar. Chegou perto de Nika e lentamente a desamarrou, até que Nika segurou na mão dela, olhando-a nos olhos em uma conversa silenciosa.

Alice tentou sorrir, mas embora seus lábios se contorcessem em um sorriso, seus olhos estavam presos á uma agonia letal, e rapidamente ela não conseguiu, abraçou Nika com toda sua força debilitada e chorou por vários minutos. Era tudo um borrão, mas algumas memórias estavam cravadas no cérebro dela de forma irrecuperável.

De alguma forma, seja pela sua fúria vingativa ou mesmo pela força de vontade de viver, ela fugiu da taverna naquela noite, atravessando a separação entre a taverna e o hotel sem ser percebida e fazendo uma coisa que eles jamais esperaram que uma escrava fosse fazer.

As mãos dela estavam agressivamente apertando o pescoço do carcereiro, ele olhava para Nika com um terror desesperador, os olhos dele estavam cheios de medo da morte, e Nika foi piedosa em tentar mata-lo o mais rápido possível com aquela força sobrenatural da qual tinha sido imbuída.

Aquela tinha sido a primeira e a única vez que havia tirado a vida de alguém.

Ela não lembrava de tudo, mas sabia que tinha ferido gravemente tudo que tinha vindo para cima dela naquela noite... até que ele havia aparecido, o assassino da mãe dela percebeu que ela usava seus poderes, ele se lembrou que ela existia, e enquanto ela tentava fugir dele e dos outros carcereiros ao mesmo tempo, ela conseguiu se esconder e fazer os dois lutarem.

Ao ser encontrada, todos no submundo criminal de Nekkro tinham sido exterminados pelo que as testemunhas juravam ser o "Demônio de Nekkro". Aquela não era a primeira aparição dele eram o que diziam, mas a primeira vez que ele havia visitado o submundo, e Nika sabia que ele estava atrás dela, ela viu nos olhos dele, ele ria dela com aquela voz sombria, buscando o sangue dela com a sede de um cão.

Depois do incidente ela e Alice foram vencidas por uma mixaria, as casas ambulantes as levaram para longe, marcaram o pulso delas para que elas jamais fugissem.

A reputação de Nika como escrava lutadora parecia ser grande o suficiente para que Hashua decidisse manter o acordo dos antigos donos dela. Embora Alice não tivesse tido a mesma sorte, ela era doce, fraca e inocente, Alice em outra vida poderia ter sido uma enfermeira ou uma florista.

Quase como se essa retrospectiva a tivesse dado uma nova motivação, ela sentiu-se acordando. 


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Profundezas EthéreasOnde histórias criam vida. Descubra agora