Aldebarã achou que fosse vomitar.
Atrás dele, o motor de estômago rugia, fazendo um barulho constante e furioso que o lembrava a todo momento o esforço realizado e a velocidade em que ele gerava energia para toda aquela máquina infernal.
Ao lado dele, bem acomodada sobre o assento estofado estava Violetta Firnoff, a Cruzídea, diferente de Aldebarã tinha o rosto disposto em um sorriso ensandecido, os fundos olhos cavados no exoesqueleto tinham um brilho sombrio de excitação e adrenalina enquanto ela manobrava o automóvel com seus motores rugindo para atravessar as trilhas de Metalli.
Um verdadeiro Automóvel, Aldebarã se espantara desde o primeiro momento em que havia visto aquela superfície cromada, rodas grossas para atravessar terrenos difíceis. Um veículo motorizado como aquele era um primórdio tecnológico, visto somente entre os mais ricos e privilegiados dos países que compunham a vanguarda da tecnologia, como Obelisk ou Nekkro. Ele era largo com espaço para comportar em torno de cinco pessoas, espaço á frente onde estavam Aldebarã e Violetta, e três espaços atrás dentro de uma curiosa área fechada como uma carruagem, que agora não levava nada além de maletas de armas e caixas de suprimentos.
Para uma novidade, o Automóvel era surpreendentemente eficiente, cavalo algum poderia levar um veículo daquele peso tão longe e mantendo tal velocidade numa região tão desoladora, eles atravessavam uma curta estrada de terra rodeada por terreno selvagem e misterioso, uma selva densa de árvores gigantescas e emaranhados infinitos de vinhas, vez ou outra Aldebarã era capaz de ver um macaco de alguma espécie pouco conhecida atravessando entre amontoados de folhas e pilhas de mato.
Violetta repentinamente fez uma curva drástica, fazendo as rodas derraparem pelo chão enquanto eles perdiam velocidade de uma só vez, Aldebarã quase foi arremessado para fora do carro pela força repentina, o automóvel deslizou virando de lado e derrapando no terreno enlameado. O cabelo ruivo de Violetta havia balançado loucamente atrás dela por toda a viagem, virando agora contra o rosto de Aldebarã naquela curva abrupta.
- Qual é, não foi tão ruim assim, foi? - Ela perguntou, colocando a mão sobre a coxa dele e o olhando com um sorriso louco.
Aldebarã lentamente desceu do automóvel e caiu de joelhos no chão de terra.
- Ah cara, você não tá vomitando né?
Enquanto Aldebarã expelia todo o seu almoço, Violetta se pôs a trabalhar, removendo os caixotes de armas da traseira do veículo, vestindo seu coldre de couro por baixo de um sobretudo e guardando suas quatro pistolas semiautomáticas prateadas.
Quando Aldebarã finalmente se ergueu limpando a boca, começou a caminhar para retirar suas armas também, viu Violetta abrindo uma caixa maior com uma expressão indecisa.
- O que foi? - Ele perguntou.
Ela tirou um dos objetos da caixa ornamentada, uma barra de madeira pouco maior do que o próprio antebraço e estendida sobre ele, uma arma de concussão.
- Uma Tonfa? - Aldebarã perguntou, surpreso.
- Quatro na verdade. - Ela mostrou a caixa. - Uma das minhas armas preferidas, apropriado não acha? - Ela perguntou.
- Como assim apropriado? - Aldebarã perguntou, focado em vestir a própria bainha.
- Na pior das hipóteses a gente tem que arrebentar os dentes de uns escravistas pra fazê-los venderem a garota pra gente. - Violetta disse, socando o ar com a Tonfa.
- Você acha? - Aldebarã perguntou. - Eles não vão gostar de nós se souberem quem somos.
- E quem nós somos? Hm? Um Ikno gordo e uma Cruzídea gostosa no meio do nada, podíamos ser qualquer coisa, mercenários, vendedores de armas, até outros escravistas.
- Eu não... estou gordo. - Aldebarã bufou.
Violetta sorriu, fechando a porta do veículo.
- Então é isso? Você vai comprar a garota? - Aldebarã pensou sobre o assunto.
- É isso aí, é a forma mais rápida e segura de ter ela pra essa missão. - Violetta afirmou. – As ordens são para ter ela entre nós, que poderia ser útil.
- Eu não gosto disso. - Aldebarã guardou a espada na bainha. - Escravos.
Violetta parou para olhar para ele por um momento.
- Você não precisa gostar, Aldebarã. - Ela ficou séria. - Além disso, você não devia ficar sentindo empatia por pessoas que você ainda nem conhece.
Aldebarã ficou em silêncio, em seu nervosismo ele segurava o cabo da espada enquanto pensava. Perguntou-se se deveria falar para ela sobre o encontro com o homem mascarado, mas se deteve.
- Não quebra demais a cabeça sobre esse assunto. - Violetta disse, dando um suspiro e recuperando seu sorriso habitual, ela parecia nunca ficar séria por mais de um minuto. - Vamos então? Eu gostaria de voltar ao navio antes do anoitecer, mas pega a lamparina por via das dúvidas.
Aldebarã assentiu e pegou a lamparina a óleo e prendeu em sua cintura, antes deles fecharem completamente o veículo e o esconderem de baixo de uma pilha de galhos. Então eles partiram para o meio da selva, onde roda alguma poderia passar.
Violetta achava que não precisaria fazer nada mais do que socar alguns escravistas, eles ainda não tinham ideia do quão errado estavam.
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Profundezas Ethéreas
FantasyNika quase sempre foi uma escrava, vivendo num submundo repulsivo de crime e violência ela viu a própria mãe morrer e foi obrigada a lutar em ringue por toda a adolescência, sem perspectiva de fuga. Mas em uma discussão política duas grandes nações...