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Nika parecia acordar só agora.

Alice estava no banco da frente de uma carruagem macabra, feita de uma madeira escura, quase brilhante, retesada ao lado de um homem magro de rosto pontudo chamado Tobias Narrows, um Genghatt de pele escura e listras azuis marinhas pelo corpo em formas quase circulares. Narrows também era seu captor.

Alice olhava para trás, onde um pequeno vidro quadrangular a permitia enxergar o banco de trás da carruagem, uma área protegida e quadrada onde haviam jogado Nika depois de amarrá-la. Ela estava bem, ainda começando a recobrar seus sentidos, atada e indefesa.

- Você disse que ia protegê-la do Demônio de Nekkro. – Alice disse, pensativa. – Era verdade?

- Claro. – O homem respondeu, servindo de cocheiro. – Temos um grupo de pessoas que sabe tudo sobre a condição da sua amiga.

- Condição? – Alice perguntou, virando-se para o rosto do seu captor.

- Ela é uma Morpha, sabe. Mas não uma normal. – Ele respondeu. – O Demônio de Nekkro a caça por que ela é especial, e possui um papel mais especial ainda nos eventos que estão acontecendo, nós precisamos dela também.

- Por isso estão a levando contra a vontade dela? – Alice o encarou com uma expressão de desgosto.

- Eu não o faria a menos que fosse necessário. – Ele respondeu, parecia pensativo. – Isso é pelo bem de todos, acredite nisso ou não.

Alice ficou quieta, furiosa com toda aquela condição e a situação em que havia se metido. A carruagem movia-se rápido pela estrada de terra no meio da selva, de forma que vez ou outra ela se chocasse com alguma coisa pequena o suficiente para fazer o veículo chacoalhar, Alice a todo momento tinha que se segurar na borda do veículo para não cair de lado na carruagem.

Ela percebeu que o homem ás vezes virava o rosto para observá-la quando a carruagem saltava, talvez o pervertido a tivesse achado particularmente interessante com o decote gigante que ela – infelizmente – estava ostentando com aquele maldito espartilho apertado, estava desesperadamente ansiosa para tirar aquilo e colocar roupas decentes, mas naquele momento ela só poderia se cobrir com os braços e torcer que seu corpo não despertasse nada bestial naquele sujeito ao lado.

Ele pareceu perceber que ela se cobria, e rapidamente puxou algo ao lado, um casaco longo que parecia uma capa de chuva cinzenta, ele colocou o pano sobre a coxa dela e então voltou a dirigir a carruagem e controlar os cavalos.

- Sério? – Alice perguntou.

- Hm, se você não quiser me devolva. – O homem disse.

- Não... obrigado. – Alice agarrou o casaco largo e começou a vesti-lo.

A peça era feita de um tecido de propriedades peculiares, ele parecia mais resistente do que o normal e ela se sentiu especialmente mais quente quando o vestiu. Era um pouco grande demais para ela de forma que desceria até os seus joelhos, assim como as mangas ficavam sobrando, mas isso não era uma preocupação para o momento.

- É um casaco de Negretura. – Ele disse, percebendo que ela não sabia o que aquilo significava. – É um tecido difícil de ser feito, extremamente resistente e usado para roupas blindadas.

- Blindadas? – Ela perguntou.

- É, pode resistir tiros de calibres menores e cortes de espadas. – Ele respondeu. – Não precisa se preocupar em me devolver depois, praticamente todos no nosso grupo têm uma roupa de Negretura ou outras proteções semelhantes.

- Entendi. – Ela disse, encarando o chão e fechando os botões do casaco.

- Essa forma que você estava vestida antes. – Ele começou a falar. – Fiquei intrigado, você estava vestida como nobre... mesmo assim a marca no seu pulso significa que você era uma escrava.

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