Aldebarã achava o mundo fora de Artro cada vez mais interessante.
Quando o barco aportou em terra, eles desceram numa área conhecida simplesmente como a baía dos gigantes, um porto precário, localizado em um vilarejo em expansão muito distante de qualquer civilização digna. Na verdade, o estado do porto era tão precário que tinha sido necessário que o navio de Violetta - que era chamado Dama de Aço – teve de ser deixado distante, próximo da praia.
Yernam havia se ocupado em preparar algum tipo de veículo para que eles pudessem atravessar a região selvagem de Metalli com velocidade, mas Aldebarã não recebeu mais nenhuma informação sobre esse assunto, exceto a ideia de que iriam demorar algumas horas e que ele poderia explorar o vilarejo se desejasse. Foi o que ele fez.
Caminhou pela costa, procurando por lugares interessantes enquanto se aproximava do pequeno agrupamento de casas de madeira, aquele lugar parecia uma das pequenas cidades feitas para explorar o noroeste distante, com dezenas de barracos e poucas estalagens, havia um banco impressionantemente pequeno e uma construção com uma cadeia.
Aldebarã não tinha muitas opções interessantes para onde ir ali, e um forasteiro como ele chamava uma certa atenção indesejada, portanto ele se dirigiu para um lugar onde pudesse esfriar a cabeça. Atravessou uma rua cheia de trabalhadores manuais ajudando na construção de uma estalagem nova e maior, quando escutou um som pesado parecer tremer um pouco o chão.
Virou-se surpreso, para vislumbrar dois grupos armados de colonos assegurando a proteção de uma criatura gigantesca... não. Aldebarã logo percebeu que eles não asseguravam a proteção da criatura, asseguravam que ela não se rebelaria.
Por que á frente dele atravessava a estrada de terra um gigantesco Labatut, uma criatura corcunda de sete metros de altura, era uma espécie que andava de pé, mas estava rastejando pelo chão com as costas acorrentas á um gigantesco lote de toras de madeira. O Labatut grunhia, com os cabelos escuros e longos caindo por sobre o rosto dele como um moribundo, sobre a cabeça era possível ver o começo do que deveria ser um chifre, que havia sido cortado fora em algum processo vagabundo, deixando-o com uma aparência quebrada.
Um Labatut havia apenas um olho no meio do rosto, costumavam dizer que olhar no olho de um Labatut era a perdição pura, e por esse motivo haviam vendado a criatura com o seu próprio cabelo amarrado ao redor da cabeça.
Ele se arrastava forçadamente, e Aldebarã pôde perceber uma marca totêmica ao redor do pescoço dele, obrigando-o a servir aqueles homens ou perder a cabeça de uma só vez, através de uma ferida mágica.
Ver a criatura se lamentar lhe encheu de fúria, Labatuts eram territoriais, monstruosos e solitários, mas mesmo assim aquele tipo de crueldade só provava como os homens eram monstros maiores ainda. Incomodado, Aldebarã caminhou para dentro de uma taverna distante, mais isolada.
Entrou na construção observando seu tamanho pequeno, abrindo as suas portas duplas para que ela se revelasse... maior.
Aldebarã vislumbrou uma taverna simplesmente impressionante, seu interior era gigantesco, separado entre dezenas de plataformas diferentes com distintos propósitos, cada plataforma construída em diferentes alturas e parecendo ter diferentes donos, sendo tudo num espaço grande como uma metrópole moderna e populosa, como se a porta que ele tivesse adentrado fosse na verdade um portal para uma diferente realidade.
- Primeira vez na Grande Noite? – Perguntou um Bartropo próximo dele, ele se vestia com uma escura roupa formal.
- Grande Noite? Que lugar é esse? – Aldebarã admitiu como se sentia perdido.
Olhando para cima, Aldebarã percebia como estava de fato de noite, a lua estava no céu como se fosse três da madrugada, mesmo que ele tivesse sob a luz do sol até ter passado pela porta. Percebendo a dúvida de Aldebarã o Bartropo sorriu.
- Sempre que eu vejo um Ikno chegando vocês ficam assim. – O homem sorriu. - Vocês Iknos estão um pouco atrasados nas novidades, não é?
- Mais do que eu pensava. – Aldebarã assentiu, boquiaberto.
- A grande noite é uma construção feita na Birealidade. A forma de construir um lugar na Birealidade foi descoberto por Angeline Yernam em 3159, e desde então vamos colocando portas de acesso para ela em vários outros lugares do continente. – Ele sorriu. – Dúvidas?
- Você disse Angeline Yernam? – Aldebarã sorriu, confuso. – Alguma relação com Arthur Yernam?
- Sim, ele vem da linhagem de sua família, acredito que Angeline seja irmã de sua sogra, nunca teve filhos, mas por ser uma Cruzídea numa família de humanos ela foi capaz de estender sua pesquisa por mais de cem anos, pesquisa que Arthur Yernam vem aprimorando desde a adolescência, embora ele mesmo tenha focado em um estado diferente do trabalho, a Hyperealidade. – Ele parecia saber de cor todas aquelas informações.
- Certo, isso é muita história familiar pra mim. – Aldebarã pensou, acreditando saber demais sobre um companheiro de equipe até então. – Então esse lugar...
- A Grande Noite. – Ele assentiu.
- Fica em outra realidade? A Biperealidade é o que mesmo? – Aldebarã sentiu-se confuso por um momento. – Estamos basicamente flutuando em outro mundo?
- Quase precisamente. – Ele assentiu. – O lugar fica nos breus e éons de uma realidade distinta da nossa, podemos respirar e somos atados á gravidade de um mundo relativamente diferente, porém existem outras condições físicas que não se aplicam aqui.
- Certo, esqueça que eu perguntei, eu não entendo nada sobre isso. – Aldebarã sentiu-se tonto só de pensar. – Não havia uma espécie de energia que os motores surreais e os metafísicos pegam daqui?
- A Hyperenergia é retirada da Hyperealidade, estamos na Birealidade, um de seus parentes científicos. – Ele assentiu. – Precisa de algo mais?
- Na verdade meu bom homem, acho que só de uma bebida. – Aldebarã sorriu, vendo tudo aquilo.
- Claro, você vai encontrar vários lugares por aqui que lhe iriam satisfazer dessa maneira.
Ele indicou com o dedo enquanto falava brevemente sobre pelo menos nove tavernas diferentes onde ele poderia beber as melhores bebidas de todo o continente, então sorriu ao dizer.
- Quando for retornar pegue uma das portas da saída. – Ele indicou que Aldebarã olhasse para trás.
E Aldebarã o fz, vendo a porta de onde havia saído ao lado de centenas de outras portas de madeira semelhantes, todas conectadas numa parede de blocos cinzentos, cada porta - de diferentes tamanhos, cores e materiais - possuía uma placa indicando a região da qual elas vinham, sem dúvidas era uma forma de viagem rápida.
- O que são todas essas saídas? – Ele perguntou.
- Para todo o continente, é uma forma de viagem rápida sem dúvidas, mas lembre-se, se quiser sair por uma porta diferente da que entrou, você terá que pagar um pedágio. – O sorriso dele tornou-se um pouco macabro enquanto os olhos negros do Bartropo o encararam. – E é bem caro, consideremos um benefício de pessoas bem fundamentadas em dinheiro.
- Certo, obrigado pelo conselho. – Aldebarã assentiu, e o homem passou a percorrer próximo de outras pessoas procurando outro para informar e vez ou outra distribuir algum panfleto.
Enfim ele foi procurar algum lugar para beber.
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Profundezas Ethéreas
FantasíaNika quase sempre foi uma escrava, vivendo num submundo repulsivo de crime e violência ela viu a própria mãe morrer e foi obrigada a lutar em ringue por toda a adolescência, sem perspectiva de fuga. Mas em uma discussão política duas grandes nações...