14

1 1 0
                                    


Alice deixou o livro cair no chão, sobressaltada.

O homem que estava diante dela não era um escravo Genghatt em nem mesmo se parecia com um escravista de aparência intimidadora, ele era um Cruzídeo, o primeiro que havia visto na verdade. Ele parecia ser jovem, tendo cabelos escuros longos para um homem, olhos fundos e ocultos pelo exoesqueleto que cobria uma parte de seu rosto, uma placa óssea que descia somente até a bochecha, e cujas laterais se formavam praticamente espinhos para trás na direção das orelhas.

Ele chegou perto dela, e se abaixou para pegar o livro do chão, estendendo-o de volta para ela com um dos quatro braços.

Alice pegou o livro, nervosa, e esperando que ele falasse alguma coisa.

- Não sabia que meu pai iria convidar nobres damas para hoje. – Ele disse, calmo e com um sorriso no rosto. – Qual o seu nome?

- Alice. – Ela se sobressaltou. – Mas, eu não sou uma nobre.

Ele abriu a boca para responder, mas então sua voz não saiu, e ele pareceu surpreso.

- Então, quem é? – Ele perguntou, parecendo derradeiramente não saber.

- Só uma escrava, senhor. – Ela disse, abaixando a cabeça.

- Uma escrava? Vestida assim e perambulando pela casa? – Ele ergueu uma sobrancelha. – Diga-me, você chegou hoje?

Alice assentiu com a cabeça, ainda apertando o livro nas mãos, do qual nem mesmo tinha visto a capa ainda.

- E te fizeram se vestir assim? – Ele parecia estar chegando á alguma conclusão depois de Alice assentir novamente. – Oh, muito bem, e que tipo de escrava exatamente você é?

Alice corou, encarando o chão em nervosismo, vestida daquela forma e num lugar como aquele ela temia que fosse ser punida se falasse a verdade, mas ao mesmo tempo ela temia que seria pior se procurasse mentir. Além disso, ela era péssima em mentir.

- Eu... – Ela odiava se rebaixar daquela forma. – Eu faço favores, senhor.

- Que tipo de favores? – Ele não pareceu entender a princípio. – Ah, você é uma prostituta.

Ele pareceu verdadeiramente decepcionado por um momento. Alice apenas assentiu com medo de erguer a cabeça.

- Não sabia que prostitutas soubessem ler. – Ele sorriu pra ela, e ela não sabia se ele estava debochando dela ou simplesmente sendo sincero. Então não respondeu. – Vamos, não fique tão acanhada, você pode falar comigo.

- Eu não era fui sempre uma prostituta senhor. – Alice disse, cada palavra parecia se esforçar para não sair.

- É mesmo? – Ele pareceu surpreso. – Achei que todas as escravas fossem assim desde o nascimento.

- Não. – Alice cerrou os olhos, querendo fugir daquela conversa. – Eu fui capturada.

Os olhos dele se arregalaram, como se fosse a expressão que precisava para que ela continuasse a falar.

- Com meu pai e minha mãe, eu era de uma família nobre sabe. – Ela disse, cada palavra deixando-o mais atento. – Eles morreram rápido no cativeiro, e eu fui enviada para ser criada na casa de outro nobre.

- Isso foi quando? – Ele perguntou.

- Não sei direito, eu tinha dezesseis anos. – Ela pensou.

Ele não fez mais perguntas, Alice fazia uma careta enquanto as memórias que tanto tentou esquecer voltavam á sua mente como um turbilhão de ideias.

Profundezas EthéreasOnde histórias criam vida. Descubra agora