-Maria Luiza, vem aqui agora- Saio correndo igual uma louca pela nossa casa atrás dessa menina que me deixa de cabelos brancos.
-ta bom mamãe, dicupa- ela para e vira para mim com aquele olhar que eu tanto amo de cachorrinho que caiu da mudança, eu não resisto e a abraço.
- A senhorita é uma sapequinha, sabia? Mas eu te amo- Digo a apertando e enchendo de beijos.
- aí mamãe, também amo- gargalha.
- Agora vai pro banho, se não vamos chegar atrasadas mocinha- e assim ela sai correndo em direção ao banheiro.
Maria Luiza é o grande amor da minha vida, sou a madrinha dela mas a tenho como minha filha também. É Filha da minha melhor amiga a Rapha e ambas moram comigo a três anos. Elas vieram pra mim em um momento que eu precisava de um motivo para não desistir dessa vida, quando sai do orfanato e tive que me virar nesse mundo a Rapha me ajudou muito. Não é fácil viver sozinha em um mundo tão cruel.
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Rapha entra em disparada no meu quarto.
- Mila, você tem que me ajudar, pelo amor de Deus, eu não sei oque eu faço mais- Raphaela diz com as mãos na cabeça e chorando desesperadamente. Corro em sua direção para a abraçar.
- Rapha oque aconteceu? Alguma coisa com a Malu? Olha seu estado amiga, calma, tudo vai ficar bem- digo a abraçando, que a cada palavra que falo, soluça como uma criança.
- Eu não posso fazer nada, eu não posso, eu tenho que pagar por tudo de errado que fiz, aquela peste daquele homem mandou eu escolher entre a minha vida e a vida da minha filha, Mila, como ele pode ser assim, como ele pode não ter coração, meu Deus, ela é filha dele também Mila- Ela fala gritando desesperada e eu começo a entender oque está acontecendo.
Raphaela se envolveu com um traficante da pesada a três anos, e logo no primeiro mês que estavam se envolvendo ela engravidou, e como traficante não assume ninguém, com ela não foi diferente, ela contou da gravidez, e ele até gostou, mas isso foi só até ele se afundar nas drogas e começar a bater nela, quantas vezes a socorri toda machucada, toda roxa e eu não aguentei ver ela daquele jeito e chamei ela pra morar comigo, e desde então ela e a malu moram comigo. Eu amei na época porque eu sou muito sozinha, morei em um orfanato desde os meus 18 anos, e logo que fiquei maior de idade, tive que sair, a minha sorte foi que as minhas mães de criação ( as mulheres que nos criam no orfanato e consideramos como mães), me ajudaram a juntar um dinheiro desde que eu fiz 10 anos de idade, para assim eu ter pelo menos uma estabilidade ao sair de lá, e saindo consegui um emprego em uma lanchonete, no qual eu fui demitida a um mês, e desde então estou igual uma maluca atrás de outro. Mas enfim, logo que elas vieram morar comigo, aquele crápula, vulgo Morcegão, não gostou nem um pouco e sempre mandava seus capangas vir aqui nos ameaçar, teve um dia que chegamos e a casa estava toda revirada, e foi nesse dia que tudo começou a piorar, pois a Rapha teve a decisão de ir na delegacia, pois é, foi denunciar um bandido, oque não adiantou muito né, aqui no Rio de Janeiro as coisas não funcionam como esperamos. Então, ele começou a nos ameaçar vindo aqui pessoalmente, já chegou a me bater, mas depois desse dia ele disse que nós íamos nos arrepender mas logo depois ficou dois meses sem dar notícia, oque estranhamos mas agora está explicado.
- Raphaela me explica agora oque está acontecendo- me tremo toda só de pensar nesse bandido.
- Eu estava saindo do trabalho, quando vejo o carro dele, e quando eu ia correr, um dos capangas dele me segura e me leva para dentro do carro, e ele começou a me xingar, e disse que tinha uma proposta, ele disse que me amava Mila, que não conseguia ficar sem mim e que pra isso eu teria que ir morar com ele, e claro eu neguei na hora, e foi quando ele ameaçou nossa filha, dizendo que se eu não fosse ele iria vir aqui pegar ela a força e ela iria morar com ele no meio daquele inferno de vida, eu disse que ele não tinha esse direito e se o fizesse eu iria denunciar, e ele disse que conhece todas as pessoas da polícia e que tudo se resolve em dinheiro, foi aí que entendi quando nossa denúncia não deu certo Mila, eu não posso deixar minha filha crescer naquele lugar, eu queria ter outra opção a não ser ficar longe dela mas eu não posso, ela não pode crescer lá, eu tenho que dar um futuro a ela, e eu peço, eu peço que você cuide dela pra mim Mila. Eu te imploro, eu não tenho saída você sabe, por favor- desaba em lágrimas e soluços.
- Meu Deus rapha, a que ponto chegamos, que loucura, como uma pessoa pode ser assim. É claro que eu cuido dela, eu jamais deixaria que você levasse ela, e eu vou te tirar de lá, eu prometo, eu prometo- choro a abraçando e confortando mais a mim doque ela.
- Eu não sei se tenho saida Mila, não sei mas eu te agradeço e peço que cuide dela como se fosse sua, porque a partir de agora vai ser.- ela diz e vai em direção ao quarto pegar suas coisas e se despedir da malu. E disse para a mesma que iria ter que viajar a trabalho e meu coração se partiu ao escutar a conversa das duas.
- A sua mamãe Mila vai cuidar de você enquanto eu viajo a trabalho tá bom meu amor? Quero que você respeite e obedeça ela em tudo, estamos combinadas?- pergunta pra Malu que a olha chorando mas assente.
- Tudo bem mamãe, vou fica com muita muita sodade tá bom? Não demola - minha pequena fala e eu não aguento e desabo.
- Vem me levar até a porta, Mila obrigadaa eu te amo nunca se esqueça, vocês duas são minha vida e cuidem uma da outra, ok? - me abraça falando no meu ouvido - deixei um dinheiro na sua gaveta, vai dar para as despesas durante uns anos, estava juntando ele a muitos anos e sei que vai ser útil para vocês duas, eu te amo. - nos despedimos entre muito choro e desespero e ela se vai.
Malu fica inconsolável mas eu consigo botar ela para dormir já que vou deixar ela em casa hoje depois de tudo.
E foi assim que minha amiga assinou seu atestado de óbito, um dia depois recebi a noticia que ele havia matado ela, da pior forma possível, e ainda me ameaçou dizendo que se eu falasse pra alguém que a Malu era filha dele, eu e ela seríamos as próximas, eu fiquei arrasada e a minha depressão estava prestes a voltar, mas toda vez que eu olhava pra malu e via o quão sozinha ela estava nesse mundo se nao fosse por mim, minha força ressurgia, e eu sabia que só tinhamos uma a outra, eu precisava dela e ela mais ainda de mim. E é assim que vivemos, dois anos depois da morte da rapha, estamos aqui, unidas como nunca e fortes também.
Depois de tudo oque aconteceu eu decidi dar um tempo para mim e como a rapha tinha despesas guardadas e deixou para mim e Malu, conseguimos nos manter durante esses dois anos, não tão bem quanto gostaríamos mas não passamos necessidades, Malu ficou bastante cabisbaixa com a morte da mãe e eu fiquei o tempo todo com ela, e nos tornamos um grude mais do que já éramos, ela sempre me chamou de mamãe e agora de fato eu virei uma mãe para ela.
Hoje é quarta feira e eu estou aqui lendo um jornal para ver se tem alguma vaga de emprego, a malu já está na creche e eu continuo na luta atrás de algo.
Meu celular toca e vejo que é a bia, minha vizinha e grande amiga.
- Oi amor da minha vida- Eu falo e já imagino ela sorrindo.
- Oi meu amorzinho, tenho uma ótima noticia meu bem, vem aqui na empresa agora porque o chefão abriu vaga para assistente pessoal dele, e eu te indiquei, é claro.- Eu dei um grito e comecei a pular
- AAAAAAA BIANCA SUA MARAVILHOSA, ESTOU INDO AGORA, EU TE AMO, BEIJOS, OBRIGADA AMIGA- Falo gritando e ela começa a gargalhar.
- Beijos também te amo muito sua louca perturbada, vem logo- fala e desliga, vou correndo me arrumar.
Sei que é só uma entrevista, mas poxa é uma oportunidade, eu tenho que comemorar e agradecer, mesmo que eu não tenha experiência na aréa.
![](https://img.wattpad.com/cover/186556610-288-k970790.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vidas Opostas
RomanceMirela é uma mulher independente, que viveu sua vida inteira no orfanato, sendo obrigada a deixar o mesmo quando completasse seus 18 anos de vida. Logo se viu desesperada, mas tinha ajuda de suas mães de criação, as mulheres do orfanato que a ajudou...