Mirela
Magoada é a palavra certa para me definir, mas aliviada também. Para quem dizia gostar de mim e disposto a tudo por nós, me magoar apenas com palavras foi bem fácil, não é mesmo!? Imagina se eu caio nas palavras dele e me entrego, na primeira oportunidade ele iria me decepcionar. Como fez agora falando daquele jeito.
Não consigo parar de pensar no que ele falou, mas tento a todo instante afastar esses pensamentos ruins, eu não mereço passar por isso, e da próxima vez que ele me ofender seja intencionalmente ou não, ele vai escutar oque não quer. Sou boa mas não sou bagunça meu amor.
Meu horário de expediente já acabou, a tarde passou tão lenta que eu contava os segundos para ir embora, ficar no mesmo ambiente que ele é sufocante. Sentia a todo momento seus olhares sobre mim, mas ignorava como sempre faço.
Estou indo buscar a Malu na creche e vamos dar uma volta para tomar sorvete. A muito tempo não fazemos isso, e pra mim é como carregar as energias para essa vida.
- Oi mamãe, que saudade - diz me abraçando.
- Oi meu amor, nossa você está tão grande - a examino de cima a baixo.
- Já sou uma mocinha, minha querida - Arqueia uma das sobrancelhas e eu gargalho.
- Uma mocinha muito inteligente, ansiosa para o sorvete? - vamos caminhando já que a sorveteria é praticamente ao lado da creche.
- Sim, quero um grandão mamãe - me mostra o tamanho com suas mãozinhas.
Chegamos na sorveteria, e pegamos nossos sorvetes.
Estamos sentadas comendo e logo vejo o Maurício entrando na sorveteria, não é possível que ele costume tomar sorvete por esses lados.
- Titiooooo - grita e ele vem em nossa direção e abraça a escandalosa traidora.
- Oi meu amor - se desfaz do abraço e senta ao lado dela, de frente para mim e logo seu olhar vem de encontro ao meu, e é nessa hora que percebo em como meu coração se acelera perto dele. Droga.
- Olá Mirela, se a Malu tivesse me avisado antes eu teria oferecido uma carona para você - ele sorri e nem parece a mesma pessoa da empresa que atirou em mim com palavras.
- Ainda bem que foi poupado - sorrio falsamente- mas como assim a Malu te avisou?? - olho para a mesma que desfaz o sorriso.
- ela me ligou e disse que você me chamou para tomar sorvete com vocês - fala como se não fosse nada demais.
- Maria Luiza, aonde, quando e que horas você ligou para o Maurício? - ele olha para ela e finalmente se deu conta do que aconteceu.
- Da tia Fátima, pedi o celular dela para ligar para o meu papai e ela me emprestou, eu falei que estava com saudades - arregalo meus olhos e não posso acreditar nisso.
- Como você conseguiu meu número, princesa? - não sei da onde vem essa calma do Maurício, juro.
- Do celular da mamãe antes dela ir trabalhar hoje - suspira - desculpa eu sei que devia avisar pra você mamãe - me olha com aquela cara de cachorrinho que eu não resisto.
- Se você fizer isso outra vez, você vai ficar um mês sem ver seu desenho preferido no meu celular, já não temos mais a TV, vai ficar sem o celular também - assente.
- Desculpa - abaixa a cabeça.
- E nós já conversamos sobre seu pai Malu, você não pode ficar falando que o Maurício é - ela limpa os olhos que desciam lágrimas e agora estão mais fortes, Maurício a abraça.
- Não me importo de que fale para as pessoas que sou seu papai, se você me considera como um, então eu vou fazer o papel de pai para você - Malu abraça ele e chora mais ainda.
Com certeza ele está drogado, como pode falar isso para uma criança que conheceu a pouco mais de dois meses?, Dar esperanças assim, isso não se faz.
- Maurício, você pode por favor acompanhar a gente até em casa, eu quero conversar com você, claro se você não tiver outro compromisso - estou com meus olhos cheios de lágrimas, esse assunto mexe muito comigo.
- Claro que posso, se quiserem podemos ir agora - olha para Malu que está agarrada em seu pescoço.
- Podemos sim, vou só pagar os sorvetes - antes que ele se ofereça para pagar, me levanto indo em direção ao caixa.
Fomos para o carro, e a Malu está tão quietinha, tão pequena e já tem que lidar com as emoções sobre o pai, se ela soubesse que é um bandido completamente perigoso.
••••••••••••••••••••
Chegamos no meu apartamento e a Malu correu para o quarto assim que entramos, mas já vou conversar com ela.
- Você ficou maluco? Comeu merda? - pergunto ao idiota a minha frente.
- Não, porque?- faz a cara mais cínica do mundo.
- Você não pode falar para a Malu que quer ser o pai dela, não quero que minha filha tenha um pai só por palavras e sim por atitudes, e você não tem a obrigação de fazer esse papel. - minhas lágrimas já estão descendo e ele se aproxima de mim.
- Mila, eu amo a Malu, eu deveria ter falado com você antes mas só queria que ela soubesse que se você e ela aceitarem essa é a minha vontade. - vejo tanta sinceridade em seus olhos, mas é tão doloroso esse assunto.
- Não quero que ela sofra, e não quero que essa responsabilidade atrapalhe a sua vida, você é livre, solteiro, desimpedido, não precisa carregar uma criança nas costas, uma que nem é sua - ele me olha com magoa no olhar mas não ligo.
- Malu não é qualquer criança, e muito menos um peso para eu precisar carregar, eu já disse que a amo, já não basta você me negar como homem, vai me tirar isso também? - cerra os olhos.
- Vai que é por isso que você quer exercer esse papel, porque quer se aproximar mais ainda e tentar algo comigo - gargalha, e não é nada forçado.
- Eu já disse uma vez, e vou repetir até você entender, eu não vou mais tentar nada, agora eu quem não quero mais nada com você, então quanto a isso você tem a minha palavra - passa as mãos pelos cabelos - o meu compromisso será com a Malu e quanto a isso eu estou disposto, mas preciso da sua permissão.
Tento não transparecer que suas palavras me atingiram, até porque foi eu quem pedi, porém o coração é traidor.
- Ok - suspiro- mas não invente de por o seu sobrenome na certidão, porque isso eu não aceito e nem quero que pensem que sou interesseira. - assente não muito contente, mas é oque tem.
- Tudo bem, Mirela, pode deixar que eu mesmo converso com ela, obrigada pela confiança - ele diz e vai em direção ao quarto.
É muita coisa para processar em pouco tempo. Meu celular toca e vejo na tela o nome do Miguel, sento para conversar com ele porque mal temos tido tempo para isso.
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Vidas Opostas
RomanceMirela é uma mulher independente, que viveu sua vida inteira no orfanato, sendo obrigada a deixar o mesmo quando completasse seus 18 anos de vida. Logo se viu desesperada, mas tinha ajuda de suas mães de criação, as mulheres do orfanato que a ajudou...