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Manuela

Não sei mais para onde correr, ele está chegando perto, não tenho mais fôlego, eu não sei se vou aguentar.

Ele está chegando perto.

Ele vai me pegar.

Ele me pegou.

Me bateu.

Me estuprou.

Eu quero morrer.

Grito botando para fora toda a minha dor, toda essa angústia dentro de mim.

Sinto mãos tentando me segurar, mas eu não ligo, não paro de me debater tentando tirar esse sentimento de nojo do meu corpo, é em vão porque de nada adianta, ele continua aqui, suas mãos continuam passeando pelo meu corpo já nu.

Ele conseguiu me destruir.

Sinto uma picada de agulha no meu braço e apago novamente.

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Abro meus olhos e tento me lembrar onde estou, não preciso fazer muito esforço, logo lembro de tudo oque me aconteceu, as lágrimas já não pedem permissão para sair, eu não sei se um dia vou conseguir lembrar de tudo e não chorar de soluçar, é oque estou fazendo, chorando como se fosse a última coisa que eu vou fazer.

A porta do quarto se abre com velocidade, tiro minhas mãos do rosto e vejo o médico acompanhado de uma enfermeira e atrás dele vem o Diogo, ah Diogo, como eu preciso de você. Mas não sei se consigo mais essa aproximação, me sinto tão suja.

- Boa tarde Manuela, eu sou o doutor Samuel - diz e o reconheço de quando vim nesse mesmo hospital visitar a Mirela - tenho boas notícias para você, mas antes quero que saiba que você estava desacordada por mais de 10 horas, enfim a primeira notícia é que não houve nenhum tipo de relação carnal - minhas lágrimas saem descontroladas - mas mesmo assim fizemos todos os exames precisos, não precisa esperar o resultado deles, nós ligaremos assim que saírem, sendo assim logo na parte da tarde você terá alta.

- Obrigada doutor, por tudo.- ele assente e pede licença, saindo junto com a enfermeira que antes verifica o meu soro.

- Como está se sentindo? - Diogo se aproxima e toca meu rosto.

- Vou ficar bem - minha voz saí por um fio.

- O pessoal queria vir te visitar, mas eu achei melhor esperar você ter alta, estar no conforto em casa - ele acaricia meus cabelos - temos muito oque conversar manu, mas quero que saiba que eu sempre quis o seu bem - vejo uma lágrima escorrer de seus olhos e fico confusa.

- Aconteceu mais alguma coisa que eu não saiba? - nega.

- Quero saber se você aceita passar um tempo comigo em meu apartamento - arregalo meus olhos.

- Claro que não Diogo, eu não quero ser um fardo na vida de ninguém - suspiro.

- Manu, você nunca será um fardo na minha vida, tudo oque eu puder fazer por você, eu vou fazer com todo o prazer, eu gosto tanto de você, eu quero cuidar de você e te proteger, deixa por favor - ele encosta sua testa na minha e sinto sua respiração, seu hálito é um convite para mim, ao mesmo tempo toda a cena que aconteceu no dia anterior invade minha mente e eu viro o rosto. Ele percebeu.

- Não sei se estou pronta - sorri.

- Meu bem, tudo oque eu quero de você é a sua confiança, o restante o tempo vai se encarregar, prometo que vamos superar tudo juntos, se você me permitir estar ao seu lado - meus olhos marejam, eu não sei como é ter pessoas que realmente se preocupam comigo, ainda é difícil lidar.

- Eu quero você ao meu lado Diogo, você é a única pessoa desse mundo que eu me sinto segura quando estou perto - ele sorri e eu retribuo.

- Eu vou respeitar a sua vontade e de qualquer forma na cláusula do contrato de todos os funcionários da rochas Empire, tem um termo que os possibilitam um custo benefício para auxílio moradia - sinto um alívio enorme, não quero voltar para aquela casa de jeito nenhum.

- Não sei como agradecer Diogo - ele sorri e me abraça, meio desajeitado por causa dos aparelhos mas é um abraço de amor e carinho.

- Vou te ajudar a escolher o apê, mobiliar e tudo mais, estamos juntos, ok? - assinto sorrindo.

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Diogo ficou comigo o restante do dia até o doutor Samuel vir dar a minha alta. Ele queria que eu ficasse no apartamento dele até que eu conseguisse encontrar um apê e mobiliar, mas eu neguei.

Falei com a Bia e ela deixou que eu fique esse tempo no apê dela, vai ser ótimo estar entre as minhas amigas e vou me sentir mais confortável, pelo menos agora que os acontecimentos estão recentes, tudo acontecendo muito rápido, eu não posso pirar, tenho que conseguir lidar com tudo, mas todo o momento as cenas vem na minha cabeça e eu preciso ficar me distraindo para esquecer.

O Dr. Samuel me indicou uma psicóloga para que eu tenha um acompanhamento para saber lidar melhor com essa situação, com certeza irei. Minha vida virou de cabeça para baixo, preciso ser forte para colocar tudo em ordem novamente. O que me alivia é que embora aquele monstro esteja foragido, eu não vou viver sobre o mesmo teto que ele e muito menos ser controlada por ele, já é um fardo a menos que vou carregar.

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