Hoseok
Jamais vu, dejá vu...
Como eu poderia explicar a sensação de ver Yoongi dentro de algum desses dois parâmetros?
Seu rosto me era familiar, assim como seu toque e sua voz. Quando sua mão encontrou a minha num contato morno e confortável, foi como se eu finalmente sentisse um pouco de paz dentro de todo aquele caos. Porém, quando tentava lembrar de nossa história, era como se minha mente dissolvesse tudo em uma massa negra e sem sentido.
Mesmo sendo tão familiar, ele ainda era tão estranho.
Assim como não me lembrava de nossa aproximação, ou do que éramos, eu também não tinha nenhuma memória que explicasse a dor aguda em minhas costelas ou o peso constante em minha consciência. Não entendia como havia acabado naquela cama dura de hospital, de como tinha conseguido todos aqueles roxos e machucados.
Quando perguntei a minha mãe onde meu irmão estava, ela deu uma desculpa sem sentido para fugir de mim.
Por que ninguém me explicava o que estava acontecendo?
Era como se eu estivesse novamente no ensino médio, de frente para uma turma de adolescentes entediados, prestes a apresentar um trabalho de biologia. Porém, as falas que eu devia reproduzir eram falhas e me fugiam. Estava tudo na ponta da língua, mas ainda assim eu não conseguia lembrar.
Olhei para Yoongi, parado ao meu lado no quarto, parecendo relutante, e me perguntei se era normal saber exatamente como ele estava preocupado apenas por seu olhar. Será que o tipo de relação que tínhamos me permitia uma aproximação maior? Eu sentia vontade de poder organizar meu cérebro como se fosse uma prateleira de biblioteca. Guardar cada livro de memória de acordo com seu valor, e reviver aqueles que haviam sido encobertos.
Apesar da dúvida constante, respirei fundo e falei para mim mesmo que eu precisava perguntar. Pelo menos o que havia acontecido com meu corpo para estar naquele estado.
- Yoongi, ninguém quis me falar sobre isso, mas eu acredito que você não tenha nenhum problema em me contar como eu cheguei aqui.
Ele fechou os olhos e buscou se sentar na única poltrona existente no quarto.
- Acho que é mais do que direito seu saber - ele começou a dizer, a voz séria embargada em algo que pensei ser tristeza - No entanto, Hoseok, apenas você pode dizer exatamente o que aconteceu.
- Queria poder lembrar.
- Você vai. Enquanto isso não acontece, eu posso te contar a parte superficial da história. Pode não fazer sentido pra você agora, mas tínhamos nos afastado por um tempo, pois você estava precisando de espaço. Tinha encontrado seu pai e se distanciado de todo mundo. Eu não quis invadir seu momento, então apenas esperei. Só que, ontem, você me mandou uma mensagem enquanto eu saia da faculdade. Seu pai bateu em você, Hoseok, ele fez isso. É tudo que sei.
Afundei ainda mais nos lençóis brancos que me envolviam, tentando processar aquilo. Era claro que havia muito mais por trás de tudo, mas ele havia me contado o que eu precisava saber.
Tinha acontecido de novo. Fui feito de saco de pancadas do meu pai, de novo.
- Olha, estávamos esperando você acordar pra poder fazer um boletim de ocorrência contra ele - Yoongi continuou falando - Dessa vez, ele não precisa sair impune. Você pode mandá-lo para a cadeia e se livrar desse peso.
Dessa vez?
Quanto Yoongi sabia?
Tantas informações sendo jogadas em mim como tiros bem direcionados fizeram minha cabeça começar a girar. Em questão de segundos, o quarto saiu de foco novamente e perdi a consciência.
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Eclipse || CONCLUÍDA
Hayran KurguYoonseok Hoseok já estava acostumado a sua tediosa rotina, e a seus pensamentos acelerados. Até que, em uma madrugada estranha, ele encontra um jovem de cabelos verdes que provavelmente nem lembraria dele no dia seguinte, mas cujo rosto não sairia...