A Mansão Escarlate (Romance Gay)

Doce E Amargo

Capítulo 20

Se afastaram lentamente ainda ofegantes, o gosto daquele beijo permanecia em suas bocas e nada era dito enquanto seus olhares permaneciam fixados um no outro entre os pensamentos do que tinha acontecido, foi delicado e doce, intenso e desejoso, um avanço na imensidão imprevisível que os levou ao próprio paraíso mesmo que apenas trevas os rodeassem e ao se afundar no mar turbulento um do outro, entre o beijo sentir sua coragem e medo, os corpos que naquele momento eram ambos frágeis, fracos e quentes, a batida do coração de Adam ecoava no interior de Elaja enquanto os raios mais ferozes testemunhavam a bela e perigosa união do pecado e da pureza, o ser manchado estava agora tocando o que até então era imaculado e o tingindo com o seu sujo desejo.

Naquela noite escura e chuvosa os olhares cheios de más intenções pairavam sobre os dois, as sombras se escondiam entre as árvores conspirando contra a fraqueza que tinha sido revelada, o futuro rei das sombras, aquele que regeria dois mundos carregando consigo o fogo e o caos agora estava desarmado, fraco e entregue diante de um humano, enfeitiçado por seus lábios entre sentimentos que nenhum deles deveria sentir, nada além do vazio silencioso deveria existir na casca moldada pelas mãos amaldiçoadas.

— Elaja...— a voz ofegante disse puxando o tecido que envolvia a bela criatura que tentava se afastar.

Longe dele seu corpo tremia entre as gotas frias daquela tempestade, era tão solitário e melancólico sua voz agora estava baixa e sendo abafada pelo barulho da chuva que não cessava, apenas aumentava a cada minuto deixando ambos completamente encharcados. Elaja o encarou com seus fios negros colados no rosto, sem dizer uma palavra apenas o pegou no colo como uma dama ferida e começou a caminhar em direção à mansão sentindo as mãos de Adam se fecharem em suas agora coladas ao corpo.

Elaja sentia os olhares sobre eles, sentia a presença de cada um naquela noite chuvosa e agora temia por ter deixado explícito sua única fraqueza agora envolto em seus braços de forma delicada.

Os humanos sempre foram fracos porque possuem um coração, seu interior repleto de emoções faz com que sejam derrotados facilmente.

Tirem suas vidas, esmaguem o que eles amam e terão tudo aos seus pés. Eu os fiz frios e com um interior oco para que nada seja capaz de nos derrotar.

Imortalidade e sem nenhum coração, são minha mais perfeita criação.

As palavras de seu criador ecoaram em seus pensamentos enquanto seus pés afundavam na terra molhada deixando pegadas. Cada traço em seu corpo foi moldado, seu interior jamais teria um coração e com isso seria capaz de se tornar aquele que vai conquistar todas as terras que desejar mas, agora olhando para o que carrega em seus braços com tanto cuidado, temendo quebrá-lo já não sabe se é perfeito, sua criação foi falha e ele se tornou um imortal que sente muito mais que fome de poder, desejo de sangue o tornando uma imagem imperfeita daquele que governa as terras mais baixas.

Aquele corpo quente que se aninhava em seus braços tinha um magnetismo que jamais havia sentido, aquele que já foi ferido por suas presas, o possuidor do doce sangue que o tenta agora não o teme, aquele que já desmaiou em seus braços e tremeu em sua presença retribuiu o beijo que lhe foi dado, a junção de seus lábios ascendeu algo que não era como um desejo passageiro, um fogo queimando na lareira que poderia ser apagado com o mais simples dos sopros, era uma entrega de corpo e alma a aquele que os devora sem medo.

Elaja adentrou na mansão carregando Adam em seus braços encharcando o caminho, começou a subir as escadarias com o olhar atendo de Derick sobre eles incapaz de retribuí-lo sabendo que em breve seria o confronto entre os dois, ele conhecia sua fraqueza e agora a vida do pobre humano estava em suas mãos, o quanto ele seria capaz de lutar não para viver e sim para proteger alguém mais fraco que ele, alguém que adentrou por aqueles portões temendo sua morte e encontrou o conforto naquele que deveria feri-lo até seu último suspiro.