Possuidor Das Sombras

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Capítulo 40

O senhor das trevas encarava a adaga com admiração, parecia não sentir remorso em planejar usá-la na criação que durante séculos eles disse ser a sua mais perfeita obra. Foram muitos reinados falsos, muitas mentiras e traições, corpos e sangue deixados para trás em seu nome feito pelas mãos de Elaja mas, agora aquela chama que tomava conta de seu ser nas batalhas se apagou e algo completamente novo começou a incendiar todas as ruínas de seu passado com labaredas ferozes que fizeram de tudo meras cinzas sopradas pelo vento.

A adaga foi colocada novamente em sua caixa e o fecho foi trancado. O servo lhe ofereceu um lenço vermelho que ele tomou em suas mãos e limpou o resquício de sangue em seus lábios e mãos. O espelho não mostrava mais aquele que regeria apenas o maior de todos os reinos, mostrou aquele que seria o soberano absoluto de tudo e todos, pois, já não confia em entregar seu poder nas mãos de suas criações.

Em tempos distantes, com certeza, diria que confia todo seu poder e imortalidade nas mãos de Elaja. Lembra-se com clareza que ele foi o único permitido a ver sua verdadeira face enquanto os outros permaneciam de cabeças baixas, que acariciou sua face enquanto ele sorria extasiado pelas conquistas que trouxe consigo. O brilho em seus olhos que jamais seria esquecido mas, que agora foi perdido para todo o sempre em um labirinto onde sua mente luta contra a fera que ruge em seu interior.

Retirou a coroa de sua cabeça e com o lenço a limpou, olhou seu reflexo nos rubis escarlate e suspirou. Agora ela pertenceria a ele, agora as conquistar e batalhas seriam lideradas por ele e mais ninguém. Os seis irmãos que permaneciam como perfeitas peças de jogo jamais teriam a ferocidade e aquele sedento desejo de vencer como o Elaja do passado um dia teve.

Eram garras contra espadas, eram espadas em corpos frios e eram coroas aos seus pés.

Se levantou e arrumou suas vestes amarrotadas, colocou novamente a coroa sobre seus cabelos dourados e encarou o reflexo de um soberano no espelho.

— O verdadeiro reinado dos Valero começou. Leve a adaga até as masmorras onde ele aguardará a sua morte. — disse e saiu de seus aposentos, acompanhado de seu servo.

Ulric saiu de seu esconderijo e se permitiu suspirar sentindo seu coração se acalmar. Suas costas se escoraram nas portas do armário enquanto ele ouvia os passos se distanciarem e sua mente vagava para as palavras do senhor das trevas. A frieza com que foram ditas, o olhar sedento pela vida de sua própria criação e sua fome de poder que parece insaciável mesmo que isso signifique começar uma guerra com aqueles que deveriam ser seus fiéis aliados.

Quando nada além de sua respiração era ouvida ele deixou os aposentos e rapidamente percorreu os vários corredores ainda repletos de caos. Aqueles que sussurravam entre si não imaginavam que aquela demonstração de poder era apenas o começo e real destruição estava os envolvendo cada vez mais, a disputa entre eles faria o trono rachar e seria uma questão de tempo até que o reinado imortal se tornasse parte de um pesadelo distante que jamais abandonaria a mente dos que e sentiram cada olhar, cada morte, cada palavra.

Sobre sua roupa extravagante ele colocou um manto escuro e montou em seu cavalo e partiu do palácio vendo ao horizonte que logo o céu avermelhado seria tomado por uma completa escuridão, nuvens densas que começavam a rodear as terras pertencentes aos Valero como se anunciassem a grande era das trevas que estava por vir.

O cavalo galopava rapidamente, a grama era soprada pelo vento e o perfume úmido de terra estava se espalhando. Uma tempestade cairá sobre eles e as águas frias trarão consigo o fim do senhor das trevas, esse era o desejo que queimava em Ulric e ele sabia que Adam o aguardava ansiosamente para que pudesse ver Elaja mais uma vez.

A Mansão Escarlate (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora