Banquete

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Capítulo 26

O senhor das trevas tinha as mãos trêmulas de seu servo o vestindo, o rapaz ainda era incapaz de encará-lo em meio ao quarto mal iluminado enquanto delicadamente amarrava as fitas de seda tão escuras quanto a noite. Ele sentia um perfume adocicado emanar de seu mestre, um perfume que nunca sentiu, tão envolvente que era impossível ser de flores ou qualquer planta de Onfroi e mesmo que desejasse perguntar sabia que até seus lábios tremeriam ao cruzar seu olhar com o do homem que agora parecia tão frio, completamente diferente, como se carregasse uma sombra que o fizesse se encolher toda vez que está diante dele, sua voz é rouca e nada doce, sua postura é superior e nunca mais um sorriso sincero iluminou seu rosto, apenas falsas demonstrações de felicidade.

Cada canto do palácio estava sendo mudado, as cores escuras e densas cobriam o sereno branco das paredes, o luxo voltou a reinar com vasos dourados e tapeçarias caríssimas antes recusadas por Wilfried. Ele agora vestia trajes sombrios e majestosos, tecidos tão finos quanto as vestes do rei e tão chamativos quanto as joias mais caras, seus cabelos pareciam mais dourados e sua face ainda mais jovem e pálida mas, aquele que o olhava através do espelho jamais poderia imaginar que suas mãos tocam aquele que trouxe a destruição para os reinos, aquele que o condenou a ser um servo.

Sua capa arrastava no chão, seus passos eram lentos e sua mão deslizava pelo corrimão da escada, o salão estava pronto para uma digna recepção e os empregados mal conseguiam dirigir o olhar para a figura imponente que Wilfried havia se tornado, não reconheciam seu mestre e também não conseguiam entender a repentina mudança que era vista apenas ao olhá-lo sem precisar trocar nenhuma palavra.

Ele parou na entrada principal e ali ficou com seu servo ao lado enquanto podia-se ouvir o barulho dos cascos dos cavalos contra o chão, os passos dos quatro cavaleiros se aproximando e, por fim, suas faces se revelando em meio a noite iluminada pelas tochas flamejantes espalhadas pela construção, os sorrisos satisfeitos ao ver Wilfried e surpresos por suas vestes.

— Wilfried, meu caro.— Dieter disse se aproximando com um sorriso caloroso.

— Sempre com aparência mais jovem. — Hans disse estendendo a mão para o anfitrião que aceitou o aperto de mãos com um sorriso amigável.

— Me pergunto a razão para tal evento repentinamente. — Thosten disse com a desconfiança sempre presente em suas palavras.

— Que forma grosseira de se referir a bela recepção do nosso querido Wilfried, sempre sem modos não é Thosten? Não se importe com isso, estamos felizes em nos reunir novamente.— Herder sempre educado como um homem de posses e nome deveria ser.

— É um prazer rever todos vocês, temos um agradável jantar à nossa espera e um assunto muito importante.— disse dando passagem para os convidados que entraram no palácio se entreolhando curiosos pelas palavras do homem, agora sombrio.

— Sabia que você nunca faria estardalhaço por nada, banquetes nunca o agradaram. Sempre há uma razão por trás de suas ações Wilfried.— Thosten o encarando fixamente.

— Você sabe me ler Thosten. Esclarecerei tudo na sala de jantar.— disse e começou a guiar seus convidados pelo palácio.

A nova aura do palácio antes tão sereno com suas cores claras surpreendeu os cavaleiros, eles olhavam as cores escuras e sangrentas que decoravam a construção de Onfroi assim como a postura de Wilfried, muito mais sério e frio do que ele costumava ser, antes tão alegre e esbanjando seus sorrisos ele parecia ter uma sombra escura que o envolvia e suas vestes eram tão espalhafatosas que não parecia ele mesmo e isso apenas alertou-os sobre o que poderia ser o assunto tratado naquele jantar.

A Mansão Escarlate (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora