Mar Vermelho

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Capítulo 14

Congelado na cadeira acolchoada da abafada biblioteca Adam encarava a criatura diante dele, as majestosas asas que como sombras surgiam escurecendo tudo ao redor, os olhos vermelhos e as cicatrizes, o perfume adocicado e as garras que arranhavam a mesa de madeira. Demônios eram reais e agora ele estava cercado por eles, preso em sua morada sem poder fugir entre terras esquecidas pela luz, criaturas que corrompem o ser humano, símbolo do mal e do prazer pecaminoso que atormentava a alma dos vivos trazendo nada mais que os presságios do mal, antes apenas lendas temidas pelos religiosos tomaram forma da fumaça e controlavam Sea envolvendo todo resquício de luz com suas sombras.

Um pesadelo...

As palavras se repetiam em sua mente mas, a cada segundo que se passava ele tinha certeza que Elaja era real, aquela forma assustadora era real e suas pernas tremendo jamais seriam capazes de despistar a criatura, ela estava diante dele para concretizar uma aliança onde a confiança e a desconfiança caminhando lado a lado, temia ser devorado, temia perder sua vida mas, também temia confiar ela ao seu inimigo. As palavras do futuro rei das trevas foram claras e o jovem sabia que ao escolher caminhar ao lado dele apenas se preocuparia com o que um seria capaz de fazer, estaria livre das garras dos outros mas, seria capaz de correr quando fosse preciso ou acabaria com mais marcas profundas em seu corpo?

Elaja fechou seus olhos, os cílios longos e negros como seus cabelos contrastavam com a pele pálida, em um suspiro profundo com a boca avermelhada entreaberta foi o suficiente para toda a forma assustadora desaparecer trazendo de volta o homem belo, a armadilha pecaminosa que atraía suas vítimas para a toca do lobo. O doce e delicado cordeiro entregaria sua vida nas mãos do lobo faminto pedindo que nada acontecesse, a mansão era um lugar sem saída, para viver teria que haver sacrifícios mesmo que isso significasse estender a mão ao seu maior medo.

— Temos um acordo? — Elaja disse estendendo a mão para Adam.

Se entreolham, as esmeraldas procuravam desvendar o mar vermelho e feroz mesmo que parecesse impossível, seu olhar percorria lentamente os detalhes daquela face, hesitante em aceitar a proposta do misterioso homem à sua frente que se escondia em densas camadas de tons escuros, com objetivos secretos lhe envolvendo apenas com sua doce voz, seu doce aroma oferecendo um aperto de mãos para algo que ele não poderia voltar atrás.

— Isso soa como um pacto. — as palavras de Adam fizeram Elaja sorrir de lado.

— Acredite, um pacto nunca pode ser selado com um simples aperto de mãos. Apesar que quando você derramou seu sangue sobre aquele contrato aconteceu um pacto que nenhum de nós pode quebrar.

Ambos estavam ligados pelos destinos fatídicos, seus caminhos se cruzaram em uma noite sem lua e agora esse acordo seria apenas algo inofensivo diante de tudo que poderia ocorrer, não havia outra opção se não aceitar e se proteger para que as presas de seu prometido não afundem em sua pele mais uma vez.

Sua mão encontrou a de Elaja, a pele fria em contato com o calor de sua palma o fez estremecer e os dedos delicados e finos da fera envolveram sua mão a segurando de forma gentil enquanto seus olhares eram incapazes de se desviar.

Elaja sente mais uma vez o calor humano maravilhado, o jovem diante dele estava lhe dando um voto de confiança e isso preenchia sua casca vazia de esperança mesmo que parte de si ainda duvidasse que trancafiar sua fera de uma vez por todas era algo possível. Faltava pouco, ele podia sentir o ar se tornando mais denso e ver o fogo se tornar cada vez mais feroz, em seu interior uma batalha era travada e temia ser derrotado caindo mais uma vez, tendo seus olhos transformados na visão da escuridão, completamente negros e sem vida, os olhos que o rei tem e que são sua amaldiçoada herança.

A Mansão Escarlate (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora