Capítulo 35
A voz de Elaja sussurra em seus ouvidos como uma brisa sopra os galhos das árvores, o doce tom de sua voz carrega dor e faz o coração de Adam bater mais rápido, ele procura o ar enquanto se enche de esperanças apenas por saber que ele ainda está por perto e saber que ele o sente. Ao fechar os olhos, é como tê-lo ao seu lado, é como se o vento frio que sopra seu rosto fosse o toque gélido de suas mãos, como se ele estivesse a centímetros de seu corpo mais uma vez, como se pudesse alcançá-lo apenas ao entender sua mão. Desejava de todo coração que ao estender sua mão ele realmente sentisse seu toque, que as mãos daquele que sempre o consolou o envolvessem em um abraço apertado mas, á sua frente apenas existia o vazio e a solidão que sempre o perseguiu.
Ele está partindo, sua voz está desaparecendo na imensidão da floresta, seu sussurro vai se tornando cada vez mais baixo até que apenas um suspiro é ouvido e então o silêncio total. Seu olhar encarando o nada enquanto surgiam mais lágrimas, o quão eram afiadas as palavras de uma despedida, perfuravam a carne como lanças amoladas, eram fincadas no seu mais profundo ser e o faziam sangrar sem parar, aquela ferida sempre permaneceria aberta enquanto o único que é capaz de curá-la permanecer longe.
Adam correu entre a floresta, ofegante ele afastava os galhos seguindo a direção de onde a voz de Elaja tinha sido sussurrada. Tudo que ele queria era olhá-lo novamente e implorar para que os dois partissem para longe mesmo que seus olhos tivessem sido devorados pelas sombras, mesmo que a fera em seu interior tivesse despertado sob a luz da lua. Apenas ele o enxergava verdadeiramente e sabia que independente do senhor das trevas agora estar o controlando ainda era o mesmo homem pelo qual se apaixonou.
As trilhas tortuosas, os galhos em que tropeçou e se arranhou, a falta de forças e o coração despedaçado não impediram de seguir o rastro de seu amado. Ele se sacrificou pela sua vida, se entregou ao seu maior pesadelo apenas para que ele continuasse respirando e ele não permitiria que ele fingisse ser alguém do passado, uma criatura vil assim como seu criador, não após tanta dor.
Ao fim de seu caminho ele se deparou com uma clareira, a mesma clareira que ele beijou Elaja pela primeira vez, tinha certeza que ele estava ali a poucos minutos sussurrando sua despedida tão despedaçado quanto ele. Entre todas as crueldades, entre o rio de sangue que sempre marcará a colida de a mansão escarlate surgiu um amor, entre o medo e a morte floresceu a confiança. Entre eles havia algo muito mais forte que os poderes daqueles que descendem das trevas.
O que eles tem é como rosas mergulhadas em sangue, juntas fazem uma poção mortal que trará destruição. A beleza se choca com o horror e logo elas se tornam um só, seus tons se misturam até que apenas uma cor surja, tão vibrante e quente, envolvente e perigosa que os atraem como ímãs um para o outro.
Elaja enfeitou o inferno com pétalas de rosas, transformou o pesadelo em sonho e o fez mergulhar em algo surreal. O impossível se tornou possível e seus medos desapareceram, malditas eram suas palavras e toques, maldita era sua alma humana presa em um corpo sem vida que agora o fez desejar lutar apenas para tê-lo novamente ao seu lado, para que nunca mais seja preciso balbuciar palavras dolorosas de despedida. Sem mais feridas, sem mais escuridão ou solidão, aquela espada que ele empunhava iria ser erguida perante o senhor das trevas no momento certo.
Já havia experimentado muito da solidão, procurou sempre por si mesmo e se sentia sufocado pelas lacunas que o assombravam em seu passado incompleto. Apenas mais um órfão que foi deixado na porta do casarão sem mais explicações, seu nome gravado em um pedaço de papel que molhou durante uma tempestade da noite em que ele foi deixado. Uma caligrafia elegante rabiscada em uma superfície branca manchada pelas gotas de água.
Sem sobrenome, sem origem ou futuro. Perdido em um casarão frio com seus pensamentos, olhando para a imensidão de Sea se perguntando o que haveria lá fora, entre tantos desconhecidos, entre tantos pobres e riscos, entre tantos perigos. Jamais imaginou que a realidade fosse tão fantasiosa, que encontraria seu verdadeiro eu ao lado de um ser das trevas, que o afundou em seus encantos, enfeitiçado e arrastado para as chamas ardentes do desejo.
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A Mansão Escarlate (Romance Gay)
Fantasy🥉3° Lugar na categoria LGBTQ (Prêmio Imaginadores) 🥉 3° Lugar na categoria LGBTQ+ (The Champions Awards - Jogos Vorazes) 🥉 3° Lugar na categoria LGBTQIA+ (Concurso Golden - Terceira Edição) Capa feita por : @lucasmotaautor Livro I O reino de S...