Corpo E Alma

116 13 0
                                    

Capítulo 32

Elaja estava parado em frente à janela encarando o céu avermelhado que cortou a completa escuridão que engolia as terras da mansão, a cor se assemelhava a de seus olhos e parecia se tornar cada vez mais vibrante enquanto as nuvens cinzas desapareciam, a luz sangrenta banhava seus aposentos e seu punho se fechava ao imaginar que o tempo estava acabando. A profecia escrita mais de quinhentos anos atrás pelo próprio senhor das trevas antes era algo distante, o céu jamais mudava de cor e as palavras escritas por ele aos poucos se tornavam insignificantes, nesses últimos tempos a tormenta foi sua companheira e agora que seu interior está em paz tudo que o feriu emerge em uma noite e o condena.

Suas garras arranham o vidro desejando rasgar aquele céu, as marcas sobre ele deformam seu reflexo e a luz vermelha mancha seu rosto, refletida em sua pele como se quisesse lembrar de seu passado quando até sua face era mergulhada no sangue inocente e inimigo sem distinções, suas mãos se enchia e o derramavam enquanto de seus lábios escorria, suas vestes sempre manchadas como lembrete de suas crueldades e o seu ser permanecia sem sentir nada. Tempos em que seu interior foi congelado, tudo era tão vazio e sem propósito, a busca pelo poder e prazer eram um dever do qual ele seguia ordenado pela voz daquele que lhe deu vida.

Nunca foi o que ele desejou, nenhuma morte e nenhuma riqueza iria o saciar tanto como a companhia de Adam, tomar seu corpo o fez acordar para seus sentimentos, não era um desejo vazio e pecaminoso era a junção perfeita do eros e do ágape, dois corpos se tornando um de corpo e alma, as sensações de se entregar e ver o outro entregue, as revelações de seus sentimentos e o silêncio que falava mais que as tantas palavras usadas para descrever o que pode ser sentido. Estar naquele abraço, ouvir os batimentos daquele precioso coração e sentir seu corpo se ascender como uma chama é tudo que ele sempre desejou.

Caminhando ao lado do demônio ele lhe estendeu a mão, a alma pura sorriu e a agarrou, ela enxergava mais que a aparência e a friez que o descrevia, ele olhou em seus olhos e viu a batalha em seu interior, enxergou a alma que ele não tinha e sentiu o coração silencioso pulsar. Tudo que ninguém foi capaz de compreender, um jovem que sofreu em suas mãos, sofreu por conta de algo que ele criou agora sorria ao encará-lo e seu sorriso era tão belo e irreal que todas as vezes que era visto Elaja tentava capturar cada detalhe para sempre se lembrar.

Ao se virar para olhar o jovem que até então estava adormecido ele sentiu mãos envolverem sua cintura, o farfalhar do lençol sobre o chão que cobria de sua cintura para baixo parecia um belo vestido e sua cabeça recostou nas costas de seu amado, um longo suspiro foi ouvido e Elaja pegou uma das mãos do jovem e entrelaçou na sua, eram tão delicadas e quentes, seus lábios não conseguem resistir aquela pele que o convida a contemplar com seus beijos.

— A lua de sangue se ergueu, o céu está vermelho como seus olhos.— Adam disse e a mão de Elaja se apertou ainda mais à sua.

— Eu tinha esperanças de que esse momento nunca chegasse, foi quinhentos anos desde a profecia e eu não me importaria que ela nunca se concretizasse.— disse quase em um sussurro.

Elaja se virou e encarou o jovem de cabelos desgrenhados com um lençol o cobrindo, havia muitas marcas em sua pele, o lembrete de cada momento, foram tão instintivas, foram tão ferozes, ansiava por deixar marcas naquele corpo humano, não o brasão que ainda estava em sua pele mas, suas próprias marcas, aquelas que mostraram para o corpo imaculado o gosto daquela noite. Sua mão deslizou pelos cabelos macios de Adam e deu um passo a frente aproximando seus rostos, roçando delicadamente seus narizes e juntando seus lábios.

Aqueles beijos eram como respirar para os humanos, era tão preciso, a sensação de sempre provar daqueles lábios para se sentir vivo, ele se sentia humano e nada mais importava, suas memórias dolorosas eram enterradas e as doces eram colocadas em evidencia, porque ele não sabia até quando poderia tê-lo em seus braços.

A Mansão Escarlate (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora