Thirty-eigth

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- Por que eu não posso ir também? - Perguntou Andy enquanto eu pegava as bolsas no chão. - Eu vou assistir na TV de qualquer forma!

Eu ri.

- Crianças não são permitidas no local da luta de hoje, mas talvez na próxima você dê sorte e vá...

- Nem por cima do meu cadáver! - Exclamou Amora descendo as escadas. - Meu filho não entra em lugares como aquele, não enquanto eu puder impedir.

 - Meu filho não entra em lugares como aquele, não enquanto eu puder impedir

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Sorri ao vê-la descer as escadas.

Estava linda.

Perfeita eu diria.

- Mas mamãe...

- Você ouviu a patroa não foi garotão! - Disse em tom de brincadeira, mas de forma seria. - Nada de lutas ao vivo por um longo tempo.

Ele fez um biquinho fofo, ao mesmo tempo que Amora deu um beijo na bochecha dele.

Alguns minutos depois, Mike chegou fazendo sua bagunça de sempre e nós saímos.

Eu precisava estar lá 1 hora antes. Para a preparação, avaliar o lugar e coisa e tal.

- É a primeira luta sua que eu vou. - Murmurou Amora. - Espero que corra tudo bem.

Ela sorriu.
Eu sorri.

- Vai correr. - Respondi.

Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, o celular tocou.

- É o Mike. - Disse antes de atender. - Oi, está tudo bem?...Ah claro...não...não tenho a certeza... vou por no viva voz.

Franzi o cenho.

- Mike? Tudo bem?

- Tá tudo bem cara, é só que a Kit está pedindo a chupeta e eu não a encontro em lugar nenhum.

Ri por ter me preocupado à toa.

- Ah claro! Tinha me esquecido, a chupeta ficou no carro, na verdade... - Me virei pra pegar a chupeta que eu tinha certeza que estava ali. - Ela está completamente su...

- JOSH!

. . .

Sabe quando as coisas acontecem de forma completamente misteriosa em questão de tempo?

Eu me lembro daquele dia como se fosse hoje.
O som do carro batendo no outro, da moto que estava atrás batendo também no carro.
O grito estridente de Amora.
As sirenes.
As vozes.
As perguntas entupidas.
O som das máquinas.

Lembro de sentir minha cabeça sendo praticamente esmagada.

Lembro de ter um vislumbre de Amora desacordada.
De muito sangue.

Lembro de acordar naquele quarto branco e sem vida.
Do médico me explicando tudo.
De Mike vindo até mim chorando.
De ter de explicar a Amora que...

- Josh! - Me chamou pegando na mão que não estava engessada. - Onde estão nossos bebês? - Voltou a perguntar.

Engoli em seco.
Eu não queria ter de dizer aquilo em voz alta, tornaria real.

Dei o melhor sorriso que podia para acalma-la.

- Eu passei pela maternidade antes de vir pra cá, Tunder é uma menina, e é completamente agitada para uma recém nascida, não parava de mexer as mãozinhas. - Um sorriso nasceu em seu rosto pálido. - Storn é menino, me disseram que ele também é muito agitado, talvez até mais que Tunder, mas estava dormindo quando eu passei por lá. - Encerrei.

Os olhos de Amora ficaram atentos, sua expressão feliz mudou para preocupada.

- E Calm? - Perguntou em alerta. Não consegui olhar em seus olhos. - Josh, me fale. - Pediu com os olhos lacrimejando. - Por favor me fale que você o viu dormindo e que as enfermeiras disseram que ele é quietinho e não deu tanto trabalho quanto os irmãos. - A primeira lágrima desceu pelo meu rosto enquanto Amora segurava suas próprias. - Josh! Fale alguma coisa! Fale que ele está bem! Fale que logo ele e os irmãos virão para a mamentação e que ele é forte e saudável e...

Ela não conseguiu completar.
Os soluços atrapalharam sua fala.
Eu também já não conseguia prender meus próprios soluços.

- Ele nasceu com 1 quilo e 200 gramas, precisou fazer uma cirurgia no coração por alguma complicação que eu não me lembro agora, durante a cirurgia...ele...ele não aguentou e... ele era pequeno de mais, magro de mais e ele...não sobreviveu...

Naquele momento os soluços se tornaram mais intensos, as lágrimas mais pesadas enquanto Amora negava com a cabeça e apertava minha mão com o máximo de força que conseguia.

- Josh... me diga que isso não é verdade! Que é só uma brincadeira de mau gosto! ME FALE!

Neguei com a cabeça e seu choro foi mais intenso.
As máquinas começaram a apitar e logo uma enfermeira apareceu com pressa.

Ela tinha uma injeção na mão.

- O que é isso? - Perguntei por cima do barulho presente.

- Um calmante. - Disse antes de aplicar no soro de Amora que aos poucos foi se acalmando. - Ela passou por uma cesariana de emergência e perdeu o baço. Não é bom que ela esteja agitada, pode abrir os pontos. - Explicou por fim. - E o senhor também precisa descansar, sua perna não pode estar para baixo! Se quiser ficar com sua esposa, tudo bem, mas ao menos incline a poltrona para estar com a perna para cima! - Disse me ajudando a inclinar a poltrona. - Descanse senhor Foster, sei que é difícil perder um filho, especialmente quando o senhor estava no volante. Mas acredite no que eu digo, não foi sua culpa. - Disse com a mão no meu ombro. - Eu descobri que o motorista da frente estava bêbado e não era suposto ele parar o carro ali.

Com isso, ela saiu.

Eu não conseguia ficar com raiva.
A tristeza era tão presente que a ideia de sentir raiva ou ódio não passava pela minha cabeça.

Peguei a mão de Amora com minha mão boa e me forcei a dormir. Porque preciso de forças agora. Por mim, por Amora e por nossa família.

The ProblemOnde histórias criam vida. Descubra agora