Thirty-nine

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- Olha quem está aqui... - Disse a enfermeira entrando no quarto com com Tunder e Storn.

Amora abriu os olhos e sorriu.
Não um sorriso completo, mas ainda assim, lindo.

- Meus amores. - Murmurou que certo pesar.

A enfermeira a ajudou com todo o processo de primeira amamentação e depois saiu nos deixando a sós com os bebês.

- Onde ele está? - Perguntou sem olhar diretamente para mim.

- No necrotério do hospital. - Respondi baixo enquanto brincava com os dedinhos de Tunder.

- Temos que organizar o funeral. - Disse de repente me fazendo franzir o cenho. - Temos de nos despedir corretamente.

Assenti.

Eu a entendia.

Mais ou menos.

Não sei como é se conectar com alguém que está dentro de você por nove meses, de ter a esperança de conhecê-lo logo, de conversar durante a noite quando pensa que eu estou dormindo...

Nós nunca vamos vê-lo dar seus primeiros passos, ou suas primeiras palavras, ou seu primeiro dia de aula, seu primeiro relacionamento... não sabemos se ele seria o tipo que adora ou odeia verdura, será que ele dançaria como Amora ou lutaria como eu? Seria do tipo que entra em brigas ou que quer ser o menos notado na escola?

São perguntas e afirmações que serão para sempre apenas isso, e não há nada que possamos fazer.

- Ele tem seu queixo. - Disse Amora olhando para Storn enquanto ele mamava. - Mas o nariz é igual ao da mamãe.

Rimos.

- É verdade. - Murmurei. - A Tunder tem sua boca.

Ela sorri, mas logo fica um pouco pra baixo.

Suspirei e passei o dia com ela.

O médico disse que se tudo correr bem, eu terei alta amanhã.
Mas os bebês e Amora ainda precisam ficar, então eu vou me dividir entre estar com Andy e Kit e Amora e os gêmeos.

. . .

Duas semanas depois...

Duas semanas...

Já se passaram duas semanas desde o acidente.

Não posso dizer que está tudo bem, mas as coisas estão andando.

Amora e os gêmeos já eram em casa desde a semana passada.
Antes que eles viessem, mamãe veio pra cá e me ajudou a refazer o quarto, agora para dois.

Mamãe não pode ficar muito tempo, então ontem, quando já estávamos seguindo uma rotina, ela foi embora.

- Papa, agoa Calm é umma estelia? - Perguntou Kit me olhando com aqueles olhinhos castanhos fofos.

Sorri de lado enquanto ela e Andy me olhavam com expectativa.

- Sim, querida. Calm agora mora lá em cima, apenas nos observando.

Ela sorriu fofa e deitou com a cabeça no meu colo e o resto do corpo no sofá.

Os gêmeos estavam no berço móvel ao nosso lado.
Amora dormindo no outro sofá e Andy no chão brincando com alguns bonecos da marvel.

A TV estava ligada no mínimo em um desenho qualquer para Kit, ela parecia não se incomodar em assistir sem ouvir. Talvez ela saiba das noites mal dormidas, dos pesadelos constantes, dos gritos abafados durante a noite.
Lidar com a morte de um filho, ainda que recém nascido, é tão ou pior do que nos falaram.

Continuamos naquela posição por mais duas horas antes de Tunder acordar e sistematicamente Storn também acordar, fazendo Amora e Kit que também tinha pegado no sono, acordar.

The ProblemOnde histórias criam vida. Descubra agora