Seattle era uma cidade fria e estranha, pensou Dylan ao pisar no porto. Naquela época do ano, a cidade industrial ficava mais cinza do que o comum e a neve já estava presente - sempre cedo demais, para lembrar Dylan que seu mundo ficaria todo branco muito em breve. O cheiro de peixe do mercado e a gritaria de pessoas e turistas tentando se espremer para provar os melhores bolos e doces da cidade era absolutamente enlouquecedor, mas era um curto período de tempo.
- Nossa, eu podia me acostumar com isso aqui.
A voz de Spencer ao seu lado logo a tirou de seus pensamentos. Apesar das palavras de Bruce, Dylan tinha mostrado tudo para Spencer no navio de forma muito profissional. Agora, pretendia fazer compras, e mostrar um pouco da cidade para a menina. Afinal, Seattle ainda era Seattle.
Os olhos da menina brilhavam na direção das pessoas se apertando pelo mercado, e Dylan revirou os olhos. Sim, ela já tinha tido 20 anos também e sabia bem o que aquele olhar de apreciação significava - era o preço da juventude de Spencer, o sabor de ver locais apinhados como um centro de modernidade.
- Vamos caminhar até a Safeway para fazermos compras e depois até a farmácia na outra esquina. Está bem?
- Claro.
Dylan estava tentando se manter de forma profissional, mas era difícil agora, enquanto via os olhos de Spencer gritando. Apesar disso, ela tentava esclarecer as dúvidas da menina, apontando produtos e coisas que ela achava que valiam a pena.
Dylan não era mais uma menina e seu último relacionamento, com uma mulher da mesma idade dela, tinha acabado de forma súbita e cheio de mágoa. A verdade era que Dylan preferia coisas fáceis, e bom, a juventude não lhe parecia mais fácil.
Levou a menina pelas compras, de forma suave e cordial, até que decidiram, depois de tudo, que estavam com fome. Dylan tinha seu local favorito na cidade - um pub escondido embaixo de uma marquise, coisa muito local, onde tinha bom peixe, boa cerveja e o melhor poutine da cidade. E se iam passar 8 meses em um navio, podia começar a viagem com uma boa comida na barriga.
As duas se sentaram, tirando os casacos e ainda falando sobre a viagem, e quando foram interrompidas pela garçonete, Dylan pegou o cardápio.
- Para mim vai ser um peixe com batatas e um pale ale, por favor. Pode nos trazer um poutine de entrada também. E você, Spencer?
- Eu quero o pork slidders e uma coca. - A menina sorriu, escolhendo.
Coca, pensou Dylan. Deus, ela tinha mesmo 20 anos!
- Eu logo trago a entrada de vocês. - Disse a mulher.
O lugar tinha um ar escuro, com madeiras pesadas e pouca luz, mas Dylan o achava estranhamente acolhedor, e agora, sentada na frente de Spencer e vendo ela sorrir, achou que a luz caia muito bem nela.
- Você tem irmãos? - Perguntou Dylan.
- Não. Você tem?
- Uma irmã. - Confessou. - Casada, com dois filhos e um cachorro.
- O sonho americano. - Riu Spencer. - Você a vê com frequência?
- Todo ano, pelo menos. - Explicou Dylan. - Ela mora em San Diego. Não é exatamente longe de onde eu moro.
- Você mora sozinha?
- Sim. - Dylan disse. - Nunca mantive nada vivo além de mim mesma.
Spencer ofereceu um sorriso, com um ar meio malandro e mordeu os lábios.
- Você tem quantos anos?
Era uma pergunta direta, pensou Dylan, mas não era nada ofensiva. Talvez, fosse só uma curiosidade.
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Ponte para lugar nenhum
Chick-Lit18 anos. Contém sexo, distorção de valores, violência, drogas e conteúdo LGBT e fetichista. Considere isto antes de ler, pode não ser apropriado para todos os públicos.