5.Um é bom, dois é de mais.

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        Ângi

        A imagem era um borrão de cinza e preto, tudo muito desfocado, o que não me deixava ver quase nada do que a médica tanto via, a não ser mais ou menos o os pontos mais específicos que ele nos mostrava.

― Estão vendo? ― ela apontou com a seta do mouse e circulou o local. ― Essa é a cabeça de um deles. ― pressionou mais o instrumento, que deslizava com a gosma nojenta transparente pela minha barriga.

― Um deles? ― olhei para ela e Ethan fez o mesmo.

― Sim. ― Aqui está a do outro feto. ― sorriu amistosamente para nós dois.

― Mais eu estou grávida apenas de um bebê doutora. ― sorri ingênua, ela deveria estar se enganando.

         Meus olhos procuraram pelos de Ethan nervosos, mas ele me devolveu o mesmo olhar perdido.

― Não querida, Vocês foram agraciados por Deus, terão dois bebês. ― olhou para mim e depois para Ethan.

― Como você nos diz isso agora? ― me ajeito e me sento um pouco na cama de hospital. ― Eu já estou com quase quatro meses.

― Isso é normal. ― ponderou. ― É estranho, eu sei, mas as vezes o feto se esconde. Tem casos onde os pais só descobrem na hora do nascimento. ― riu para nós dois.

― Dois bebês. ― minha voz saiu tremula, sorri para Ethan, não um sorriso comum, mas um riso forçado. Já seria difícil com um, imagina com dois.

― Isso não é de mais amor. ― apertou minha mão, um sorriso enorme em seus lábios. Ele estava super animado com a notícia.

        De mais era. Claro que era de mais, afinal eram duas crianças. E novamente senti um arrepio, o que mais me amedrontava, era o medo de não saber cuidar dos meus próprios filhos, eu nunca tive muito jeito com crianças. Elas nunca gostaram muito de mim e esse sentimento era recíproco. Existia aquelas pessoas que tinham dons e aqueles como eu que não tinham jeito nenhum.

― Vocês querem ouvir o coraçãozinho?

― Claro doutora. ― os olhos de Ethan estavam grudados na tela como uma criança quando vê sedenho animado.

        A batida irregular e fraca saiu da pequena caixa de som, não se parecia nada com um corão era como batidas de tambor descompassadas e desconexas. Ela pressionou um pouco mais, movimentando o aparelho só um pouco e as batidas ficaram mais fortes e rápidas.

― Vemos que um é mais agitado que o outro. ― a médica olhava para a mim quando disse.

― Isso é normal? ― perguntei.

― Sim. Quando os gêmeos são da mesma placenta um suga a energia do outro e é completamente normal. Os dois vão se desenvolver, mas com certeza esse aqui se desenvolverá mais rápido. Mas não precisa se preocupar. ? Querem saber o sexo?

― Mais já dá? ― era tão cedo ainda.

― Vamos ver se eles já querem nos mostrar o que escondem. ― passou mais um pouco da gosma nojenta na minha barriga e voltou a pressiona-la. Agora podíamos ver o que estava acontecendo novamente.

― E então? ― perguntei aflita, eu não conseguia enxergar nada entre os borrões.

― É papai, parece que você vai ter que cuidar bem dessas três mulheres. ― sorriu para Ethan.

― Meninas?! ― perguntei sorrindo.

― Sim mamãe.

        Por mais que me assombrasse o fato de ter duas vidas dentro de mim, eu já as amava independe de toda a insegurança. Comecei a imaginar como ELAS seriam. Imaginar minhas filhas correndo pela casa, fazendo bagunça, e em como Ethan as mimaria muito daqui em diante.

Desapego - IMCOMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora