16 Renascendo

2.3K 224 25
                                    

        Ethan

        A primeira coisa que vi ao abrir os olhos foi um par de cílios longos a minha frente. Demorei um tempo para processar a informação de que tinha caindo no sono e que pelo visto Alice também. Continuei imóvel, com medo de qualquer movimento brusco que pudesse fazer e fazendo assim com que ela acordasse.

        Dormia com um anjo, sua respiração lenta e calma. Alice tinha traços singelos, uma beleza exótica, ao mesmo tempo que parecia uma menina, tinha um lado de mulher que aflorava dentro de si. Seus lábios entreabertos formavam um coração quando fechados. Quando estavam vermelhos brilhantes se destacavam ainda mais. O nariz arrebitado, as maças do rosto marcadas e mesmo não tendo uma pele alva, elas se sobressaiam. Algo que sempre me chamava atenção em seus rosto eram seus cílios enormes, quando ela piscava era sempre bom de ver, eu não sabia o quão bonito poderia ser os cílios de alguém até me deparar com os dela.

        Percorri meus olhos até seu pescoço, vendo ali um dos hematomas deixado. Como alguém poderia fazer algo ruim com uma pessoa boa, indefesa como ela. A vontade de protegê-la era enorme, mesmo sabendo que eu estaria sempre presente, mas estava disposto a protegê-la do que quer que fosse.

        Me peguei sorrindo ao lembrar de alguns dos nossos encontros inusitados. E em como ela me lembrava Ângela com sua atitude prepotente e ao mesmo tempo bem humorada, eu via em Alice um pouco de Ângela, e em alguns momentos era como se elas fossem uma.

        Com um gesto involuntário, toquei em seu rosto, tirando os fios de cabelo que estavam sobre ele, meus dedos roçaram de leve por sua face e gostei da misera sensação proporcionada, juntamente com o cheiro que emanou dos seus cabelos.

        Alice se mexeu um pouco e eu rapidamente recuei, trazendo minha mão para junto do meu corpo. Vi quando ela abriu somente um dos olhos e depois o outro. Sonolenta se espreguiçou esticando duas pernas e braços.

― Desculpa por isso. ― sua voz saiu baixa e áspera.― Mau acorda e da de cara com um troço de manha. ― passou as mãos nos olhos e fez gestos rápidos para ajeitar o cabelo.

        Para mim ela tinha acordado perfeita, mas eu não falaria nada, não queria assusta-la achando que eu era mais um dos tarados por ai.

― Dormiu bem? ―perguntou se sentando na cama e me olhando de soslaio.

        Não tinha sido a melhor noite de sono, minhas costas doíam pelo mal jeito que dormi. Mas isso passaria com um analgésico.

― Sim, dormi e você?

― Ainda estou com sono... mas preciso ir para minha casa, já pentelhei você de mais. ― sorriu abertamente.

        Era bom vê-la sorrindo de verdade depois do ocorrido.

― Se quiser pode ficar mais um pouco, não me importo. ― falei com naturalmente, mesmo que por pouco tempo, eu tinha me acostumado com a sua presença por aqui.

― tenho mesmo que ir, antes que minha mãe desconfie de algo e apareça por aqui. Mas... volto no sábado, temos que dar um jeito nessa bagunça e temos uma entrevista pra fazer. ― levantou.

        Era disso que eu gostava em Alice, seu jeito determinado, sem pedir permissão ou convite ela disse que viria.

― Tudo bem. ― sorri por dentro por saber que ela brevemente estaria de volta.

― Será que eu posso usar o banheiro do seu quarto?

― Claro, fique a vontade.

        Fiquei a observando enquanto andava pelo quarto indo na direção ao banheiro, acho que ela n percebeu, mas vi quando ela coçou o bumbum rapidamente e antes de entrar no banheiro. Achei graça daquilo, não dela, mas do jeito que ela fez. Voltou o cabelo preso em um coque alto e sorriu lindamente com uma expressão duvidosa.

― Por que está me olhando assim?

― Assim como? ― quis saber, eu ainda estava deitado na cama.

― Com cara de bobão. ― maneou a cabeça para os lados. ― Parece um cãozinho pidão. ― gargalhou.

― Nunca me disseram que eu tinha cara de cachorro. ― levantei.

― Você não tem, mas estava há segundos atrás.

― Tava pensando em algumas coisas. ― dei de ombros.

― Eu sei que é pedir demais, mas será que você me leva pra casa?

― Claro, mas será que podemos tomar pelo menos o café da manhã antes? Estou morrendo de fome e acho que você também.

― Estou realmente faminta.

― Ótimo, vou só escovar os dentes.

        Rumei para o banheiro. Qualquer que fosse a comparação que ela tenha feito eu ainda a tinha em meu rosto. Aqueles sorrisos nos olhos e até uma imensa vontade de sorrir parecia querer surgir instantaneamente. E o motivo era Alice, era algo inexplicável e estranho ao mesmo tempo. Eu nunca me senti tão bem pela simples presença de uma garota antes.

― Muito obrigada Ethan, serei eternamente grata por tudo que você fez por mim. ― Alice pegou em minha mão enquanto falou. Estávamos em frente a sua casa.

― Não foi nada, eu faria tudo novamente. ― entrelacei sua mão na minha a levando em direção aos meus lábios e a beijei delicadamente. Meus olhos fixos nos dela.

        Eu não sabia porque fazia, mas tudo perto de Alice saia involuntariamente.

― É... Sábado nos vemos novamente. ― puxou a mão apressadamente já abrindo a porta do carro com a outra.

― Ei. ― a chamei e ela se virou. ― Eu não ganho nem um beijo?

― Ahhh... Claro...  

        Ela estava totalmente embaraçada me dando um beijo rápido que acabou tocando o canto da minha boca a deixando completamente envergonhada. Todo o seu rosto ficou vermelho.

― Me desculpa Ethan, mesmo, eu não tive a intenção. ― começou a gesticular sem parar enquanto falava.

― Calma Alice, não precisa se apavorar. ― acalmei-a.

― Eu sei que somos amigos, mas não quero que você pense que estou misturando as coisas. ― sorriu aliviada, soltando o ar dos pulmões.

― Para falar a verdade eu não liguei. Relaxa.

― Tudo bem então, nos vemos no sábado.

        E foi embora, algo dentro de mim já sentia falta da sua presença e eu não podia mentir dizendo pra eu mesmo que não tinha gostado da sensação dos seus lábios mesmo que brevemente a poucos centímetros dos meus lábios. Algo estava renascendo e por incrível que parecesse, eu estava gostando.

Desapego - IMCOMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora