21. Simples gesto de união

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Ethan

        A voz feminina chamou Alice antes de mim. Sai decidido a me desculpar pela atitude imatura que eu vinha impondo, mas me escondi na penumbra de uma das plantas grandes que havia no saguão, aquele era um assunto só nosso.

        Então aquela pelo que percebi era a tal amiga que morava aqui no prédio, ainda na penumbra as vi trocarem poucas palavras e beijos de despedida, era visível sua afobação e pressa. Tão logo, Alice saiu apressada e atrás dela a amiga, tomando caminhos completamente opostos.

        Entrei na área da garagem do prédio, já que ela tinha um compromisso vi nessa desculpa um meio de oferecer uma carona e então conversarmos para acertar as e podermos ter a amizade que dispúnhamos antes.

Assim que sai com o carro vi Alice entrar em um ônibus.

― Droga! ― Esbravejei batendo com força o punho fechado contra o volante.

        Foi um tormento ter que seguir aquele ônibus, parar em cada parada, ouvir xingamentos de motoristas nervosos e irritados. Chegou uma hora que eu estava quase parando na frente do ônibus e mandando Alice sair de lá e entrar dentro do carro comigo, mas essa atitude boçal só deixaria as coisas mais difíceis.

        Quando enfim o ônibus parou e Alice desceu, senti um alivio, mas tão logo ela correu atravessando a rua e entrando no centro de balé do Rio de Janeiro. Foi uma dificuldade para estacionar o carro, ainda mais na área central, rodei umas quatro vezes o quarteirão, mas consegui estacionar duas esquinas depois dali.

        Da porta dava para se ouvir os berros, uma voz esganiçada que reclamava sem parar. Assim que me aproximei, tomei o cuidado para não ser visto. Alice já estava vestida com uma roupa preta, as sapatilhas nos pés, a música se iniciou e juntamente com ela Alice começou a dançar. Como se só houvesse ela ali meus olhos desfocaram os demais fazendo minha atenção ser completamente dela.

        Era tão lindo vê-la dançar que uma paz inundou todo o meu ser naquele momento, ela era graciosa e perfeita. Era tão linda que eu passaria um dia vendo-a dançar.

        Estava tudo indo bem, eu a vendo dançar até eu ouvir passos que vinham a minha direção, ou pareciam vir, eu não queria ser pego e na tentativa de me esconder dei passos atrás, mas acabei tropeçando em meus próprios pés, me desequilibrei derrubando o que aos meus ouvidos pareciam metais, por pouco não caio junto com eles. Sai sorrateiramente antes que alguém visse me expulsar.

                [...]

        Não havia palavra melhor do que desastre para descrever aquele dia, mas eu precisava me redimir com Alice, e mesmo ela me dizendo que não precisava eu quis fazer aquilo por ela. Entrevistei o tal amigo promotor de justiça que eu tinha e aqui estava eu na porta da sua casa para entregar em suas mãos o pen drive com o áudio.

― Ethan!? ― Mell me encarava surpresa. Claro que eu não esperei outra coisa, eu nunca tinha vindo em sua casa antes.

― Oi Mell. ― disse com um sorriso amistoso.

― Entra. ― me puxou pelo braço animada. ― estamos tomando café, você aceita?

― Eu vim só entregar uma coisa a Alice. ― falei, mas ela já me levava para copa, lá estavam Lucas e Miguel. ― Bom-dia! ― falei envergonhado por aparecer assim tão inesperadamente na casa deles.

― Bom-dia Ethan. ― os dois disseram juntos.

        Faltava alguém ali e procurei minuciosamente por Alice, mas não havia nenhum rastro seu na copa, ou pela sala onde passei.

Desapego - IMCOMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora