CAPÍTULO 24-OS PRIMEIROS SINAIS!

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"Eu não tenho paredes, só horizontes." (Mário Quintana)


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Davi  comeu sem apetite, apesar de ter estado com fome até algumas horas atrás.

Davi perdeu o sono, apesar de ter percebido que estava realmente cansado após aquele dia tão cheio de conflitos físicos e mentais.

Érick Máximo não estava diferente...jantara sem muito entusiasmo a comida que a empregada deixara para os dois. O sono também parecia não estar solidário a ele naquela noite.

O som da chuva parecia uma canção de ninar para os dois moradores daquela casa enorme e praticamente vazia, mas não impulsionava os dois à inconsciência do sono reparador.

Davi viu os cães se ajeitarem no primeiro andar e, por isso, subiu para o próprio quarto após um sociável "boa noite" entre os dois.

Encontrar um dos cães esperando por ele dentro do quarto realmente foi uma surpresa, após o susto inicial.

_O que está fazendo aí, seu pulguento idiota?_perguntou em voz baixa, pois viu surpreso  que o cão não parecia disposto a atacá-lo, como sempre tentava fazer.

Como todos os outros cães, também aquele tinha a aparência de ser velho. Era grande, caramelo, orelhas compridas e olhar cansado, sonolento. O encarava como a avaliar se a semelhança com o dono falecido realmente era ilusão de ótica.

"Os animais são um canal de comunicação entre Deus e os homens", Nicolau costumava lhe dizer...especialmente quando o surpreendia brigando com os cães.

_Eles não gostam do cheiro de álcool, Davi! _esclarecia Nicolau._E nisso puxaram ao dono. Por que você tem bebido tanto, meu irmão?

Meu irmão...Davi pensou. Como o desgraçado nunca havia se confundido? Nem um único deslize em 35 anos...porque nem na infância ele se lembrava de ouvir Nicolau o chamar de filho!

_Conversa...aquele ali quase me mordeu outro dia...e a peluda tentou me derrubar! Não gosto deles e já aviso que se entrarem no meu quarto, os expulsarei a pontapés!

_E aí serei eu a te expulsar de perto deles a pontapés, isso sim!_retrucava Nicolau._Xingue e se não resolver, no máximo, jogue um copinho de água e eles se afastarão de você. Bater, nunca, ouviu bem? Faça isso e vai se ver comigo!

Realmente, Davi não se lembrava de jamais ter encostado a mão num dos cachorros de Nicolau! Reconhecia que tinha medo, não repulsa em relação a eles...até achava alguns bonitinhos, outros engraçadinhos, tinha dó de alguns mais velhos e já debilitados...como o que o olhava agora. Parecia meio cego...talvez meio surdo...deduziu que talvez o pobre diabo nem tivesse notado que realmente, tirando as semelhanças físicas e o cheiro da colônia pós barba...aquele ali não era o seu antigo dono!

_Seus super poderes caninos não lhe mostram que eu não sou o Nicolau, seu idiota?-Davi o encarou.

O cão pareceu entender e gemeu desabando no chão, enquanto parecia mastigar as próprias pelancas.

Davi o viu estacionar pesadamente seu corpo cheio de pelancas entre as patas enormes o encarando com seus olhos caídos.

Homem e animal se encararam em silêncio.

Realmente a noite esfriara bastante e, pela primeira vez, o dono da casa sentiu um misto de piedade e solidariedade com o cachorro: ele devia estar sentindo frio e saudades do antigo dono. Talvez procurasse ali uma resposta para o sumiço dele.

MATÉRIA BRUTA- Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora