Olhares malditos

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Reconheci de imediato aquele olhar
Tempestuoso, decidido, feroz
Não consigo esquecer aquele olhar
Incisivo, indiscreto, faminto
Conheço bem esse olhar
Porque é com ele que te olho desejosa
Malditas sejam as garotas bonitas
Tão seguras de si
Que fazem eu me sentir tão pequena
E tão fechada em mim
Malditas garotas bonitas
Que te lançam olhares assim
Maldita competição feminina
Que insiste em crescer de mim
Maldita raiva voraz
Maldita tristeza indistinta
Maldita solidão no frio
Maldito ciúmes conciso
Maldita insegurança atrevida
Insegurança que se veste de mim
De cabelos oleosos e sem corte
De olhos assimétricos e ordinariamente castanhos
De seios pequenos e coxas flácidas
De pele manchada e cheia de estrias
De boca ferida e de nariz redondo
De mãos machucadas e sempre rabiscadas
De ombros largos e cintura indefinida
De masculinidade e desprovida de leveza
Sem qualquer requinte ou coisa assim
Sem suavidade, equilíbrio ou distinção
Sem qualquer coisa que provenha à elegância ou ao extraordinário
Insegurança vestida de mim
Que, de tanto me performar,
Tornou-se eu.
Eu que me escondo
Estúpida
Comum
Qualquer
Sem algum tempero que seja
Carne crua e sem sabor
Eu que não consigo ser mais que isso.

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