Vídeo EEG

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As horas se arrastam e nunca passam. Estou saudavelmente presa a uma cama com uma série de eletrodos na minha cabeça. Há duas noites não durmo direito. Ontem chorei de cansaço e de frustração até cair no sono perto das duas da manhã. Fui acordada antes das seis. Não paro de chorar e nem sei o porquê. Estou exausta. Não tenho ânimo para nada. Não que eu pudesse fazer alguma coisa sozinha. Acabaram de me dar banho. Sinto-me triste, sozinha e frustrada. Cansada, tão cansada. Minha cabeça coça o tempo todo. Quero arrancar todas as faixas. A câmera me observa incessantemente. Sinto-me invadida. As luzes acesas 24 horas. Não há céu, sol ou lua. Não há nada. Só o quarto branco e as refeições programadas. E eu estou presa. Mais presa que jamais me senti. Não resta o que fazer senão pensar e pensar e pensar. E estou presa na cama e dentro de mim. Presa em todos os lugares. Não há ar o bastante. Não há nada. Há exames periódicos. Testes três vezes ao dia. Aferições frequentes de pressão e de temperatura. Sinto-me uma cobaia. Sou um rato de laboratório preso no próprio labirinto. Uma tela mostra meu cérebro. As linhas sobem e descem e se misturam. E eu tenho medo, tanto medo! Um botão ao lado da cama para o caso de convulsões. E eu tenho medo, medo medo, medo! Preciso sair daqui. O som do ar condicionado e dos aparelhos me enlouquecem. Não posso estudar ou ler, porque estou cansada, tão cansada! Meus olhos ardem e meu corpo dói e eu não posso fazer nada. Nada, nada, nada! E eu não sou nada além de um corpo em uma cama controlada. Nada além de linhas azuis, vermelhas e pretas misturadas em um telão. Nada! Não há nada. Não sou nada. Nada. Nada. Nada.
E tremores nos testes de repouso. Movimentos involuntários com o braço que eu tento esconder, mas as linhas não mentem. As linhas. As crises. Os tremores. O cansaço. O ar condicionado. Os aparelhos. O eterno zumbido eletrônico. As luzes. A solidão. A coceira. A cama. O banho. A prisão. O nada.
E o relógio não gira. O mundo corre lá fora. Ainda faltam 24 horas.

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