Não poeta

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Poesia precisa
De um quê
De exagero barato;
De café amargo
(Que não tomo mais,
visto que me dá
uma estranha azia);
De tabaco
(Em que nunca me
interessei. Tenho
rinite alérgica)
E de um copo
De whisky sem gelo
(O que nunca tomei,
pois meu avô é alcoólatra
e eu tenho epilepsia).
Talvez eu não seja mesmo
Para poesia.
Quiçá para poemas
Incompletos
Sem a amargura inerente
Ao poeta,
Restam-me os exageros
Do cotidiano
(Dizer, por exemplo, que
aquele apartamento roxo
é um "ponto de vida melodioso
em meio a uma viscosidade gasosa
e terrivelmete cinza"),
Dos estranhos
(Como Ricardo, que em minha
cabeça tem dois metros
e um sorriso "grande demais
para uma cama de papelão"),
Da tristeza
(Que "alegremente me consome
até os ossos, brincando nas
meninges, bebendo do meu
líquido cefalorraquidiano,
enlouquecendo-me")
E, por fim do amor
Que é por natureza exagerado
E não precisa de parêntesis
Porque acaba sendo mesmo
Essa coisa de rir em meio
As lágrimas para depois
Transar na praia ou no banheiro
(Conjunção carnal, se você
Gostar da Constituição Federal)
E, no fim, é claro,
Dormir sem meias.
Sou poeta ruim
Que decerto não sabe amar
Que nunca vai escrever
Poema algum sobre ressaca
Que vai precisar repensar
Sobre a medicina
Porque não pode ficar sem dormir
Mas que, sem dúvidas, ainda vive e,
Com ou sem Levetiracetam,
Exagera a vida.

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