Aquela antiga fórmula para escrever uma notícia

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Venho me questionando ultimamente. Tenho bastante tempo livre e venho me perguntado sobre quem sou como pessoa, como mulher e, até, como artista (se é que posso me considerar assim por causa de um punhado de textos sem pé nem cabeça). Por que faço as coisas que faço? O que me torna eu? Por que estou onde estou e continuo aqui?
Eu não sei de nada disso. Não sei quem eu sou. A psicóloga disse para me colocar em situações novas e/ou desconfortáveis e eu até que estou tentando, mas, para ser totalmente honesta, é mais fácil dizer que tenho epilepsia para não lidar com minha falta de tato social. E eu, que sempre me gabei de gostar de desafios, descobri que, na verdade, geralmente escolho o caminho mais fácil. Abaixar a cabeça e dizer "sim senhora". Olhar para o lado e dizer "não posso fazer nada a respeito" (não sem antes tirar uma foto para me lembrar da minha impotência). Ficar sem ar e pensar "eu nunca vou superar isso". Perceber as diferenças de gênero e aceitar. Fazer tudo o que esperam de mim sem questionar. Sofrer pelas mesmas coisas sem fazer nada concreto a respeito (além da psicóloga talvez).
É fácil. Tudo isso. É fácil culpar as pílulas azuis, o 23 de outubro ou a minha mãe. É fácil me considerar incapaz de qualquer coisa. É fácil sabotar a mim mesma dizendo que não mereço isso ou aquilo e tendo vergonha do que conquistei (com ajuda de alguns muitos privilégios).
Eu não entendo muito bem quando isso aconteceu. Em um momento da minha vida eu fui uma jovenzinha rebelde que chegava de olho roxo em casa porque não aceitava os desaforos da valentona da sala. Quando eu me tornei esse animalzinho assustado? Quero dizer, eu sei que consigo fazer muita coisa, mas sempre coloco um (ou dois) pé atrás. O que não faz muito sentido, porque, no final das contas, ninguém nunca morreu de vergonha.
Quem eu sou como mulher? Aceitei o fato de que não sou feminina a um tempo, mas o que diabos isso quer dizer? Eu me acho bem feminina na realidade, mas não performo o que minha mãe me ensinou e tudo bem (?). Não sei. Que diferença faz para o movimento feminista (ou para qualquer pessoa) se estou ou não usando um sutiã? Não é um ato político nem nada, só tenho ombros largos e seios pequenos, então nada me cai bem de forma confortável. Ou talvez seja um ato político. Minha pequena transgressão. Meu "vai se foder seu filho da puta, você não tinha o direito". Mas no final das contas não faz diferença. E não me torna "menos mulher". Nem isso, nem o cabelo curto, nem as unhas por fazer, a cicatriz da gilete na canela, as calças largas, as blusas que peguei do meu irmão, o piercing no nariz ou a sobrancelha por fazer. Por que, o que é ser mulher afinal? Eu não tenho ideia. Só sei que minha mãe me faz mais recomendações do que ao meu irmão mais novo. Mas não quero acreditar que ser mulher é viver com medo. Acho que é bem mais que isso, mas não descobri ainda. Talvez seja ser forte e corajosa (estou trabalhando nisso). No fim das contas ser feminina, ser mulher é uma coisa muito individual. Talvez. Mas a gente sempre fica muito mais ligado em como a sociedade nos percebe e é aí que fica tudo confuso, porque crescemos com aquele "seu mamilo está marcando a blusa hein?". Só que de quem é a culpa? Não dos mamilos, com certeza. A questão é só que quero entender porque faço determinadas coisas. É por que gosto ou por que fui condicionada a isso? Fico sem saber às vezes. Estou tentando aprender a gostar de mim, porque gosto de como sou quando estou confiante. Mas é estranho. Ainda preciso trabalhar nisso, mas a fotografia ajuda de uma forma interessante e, essa semana, sou a mulher mais linda do meu mundo.
Falando nisso, como artista eu não sou. Simples assim. Gosto de arte. Mas não faço. Escrevo o que me emociona, mas não acredito que minhas palavras sejam capazes de acrescentar algo na vida de alguém e, por isso, não me considero artista. Mas gosto. Gosto de escrever e decidi que vou continuar dizendo o que está dentro do peito, mesmo que seja sem significado para a maior parte das pessoas. Porque é importante para mim. Vou continuar com a fotografia (muito) amadora, porque me diverte e porque gosto. Só por isso. E vou continuar com os desenhos sem técnica ou criatividade porque me faz bem. E eu sei que isso soa egoísta e parte de um texto de culto humanista. Mas é a verdade. Não sou mais que mediana em nenhuma dessas coisas e a única forma de melhorar e continuar tentando. Mesmo que no final da minha vida eu não tenha produzido nada que tenha significado ou promova mudança, eu, pelo menos, vou ter feito o que gostei no caminho.
É isso, ainda tenho cinco meses para me perguntar o que diabos estou fazendo aqui (e para me convencer de que vou ser boa na profissão que escolhi). Desejo a mim coragem.

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