Dói

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A verdade dói. Não somos fortes o bastantes e isso dói. Tudo deixa marcas e as cicatrizes doem. E escolhemos mentiras reconfortantes, porque, talvez, se dissermos que estamos bem vezes o suficiente, ficaremos assim realmente.
Dói. Viver dói e esse é o meu clichê poético. Viver, entretanto, também afaga, conforta, brilha e reluz, porque estar vivo é uma enorme aventura. Morrer também. Morrer seria uma enorme aventura, Gancho, mas não é a mim que você quer e eu posso lhe dar a garganta de Peter Pan, que se recusa a crescer, a envelhecer e, ouso dizer, a viver a verdadeira aventura.
Dou a você a minha garganta, porque sou eu o Peter. Dou-lhe minha garganta presa ao passado e cheia de coisas entaladas. Corte-a com alegria e me banhe em sangue quente.
E sinta a dor da culpa ou o prazer da vingança. Ou ambos. E termine velho, sozinho e acabado. Ou não.
Talvez eu seja o maldito crocodilo e o tempo corre em minhas entranhas. Tic tac tic tac tic tic tic tic tic tic tac
Sem nunca realmente passar.
Sininho não. Essa nunca. Por mais que minha mãe diga que sim, eu sei que não tenho asas para voar. Meus pensamentos me levam loooooonge e me deixam por lá.
É impressão minha ou esfriou? Achei que fosse primavera.
Quando as flores desapareceram?
Está escuro e todos continuam bebendo e são quatro da manhã e eu não bebo e eu não durmo e eu preciso dormir e eu não posso ter outra crise convulsiva e será que fui eu quem tirei minha blusa e eu estou no meu quarto no meu quarto no meu quarto
Sozinha.
E a porta trancada. As duas.
Só eu.
Está tudo bem.
Boa noite, Terra do Nunca Mais (dê um abraço no corvo e diga que entendi a metáfora, mas, se Alan Poe estiver disponível, aceito explicações)

E a cabeça de Tiradentes foi exposta onde hoje é aquele monumento em Ouro Preto.
Minhas últimas palavras, Gancho? Não coloque a minha lá.

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