Avidez

Vida de arte

Hoje é segunda-feira e agradou-me a ideia de uma prosa solitária em meio a tantos poemas.
Acordo cedo todos os dias e nunca durmo de novo. Custo a me levantar e fico deitada por horas, ruminando o porquê do meu sentir, arrancando as cascas das minha feridas existenciais e, às vezes, pensando em você. Desculpe-me, eu menti. Penso em você sempre. Em parte porque é tão importante para mim, em parte porque seus olhos são tão bonitos e em parte porque talvez eu dormisse de novo se acordasse contigo.
As horas se passam e precisamos sair da cama e enfrentar um mundo barroco, cheio de luz e sombras. O sol me aquece, mas a luz me cega. As sombras permitem que eu veja mas acabo "trincando" de frio. Acabei descobrindo que seu beijo fecha meus olhos e eu poderia passar um dia inteiro no sol, desde que estivesse comigo. Aprendi também que seu abraço me aquece e ficaria horas envolvida por seus braços, mesmo que nas sombras.
Você trouxe cor aos meus dias, transformou tudo em uma pintura de Auguste Renoir, os contornos se perdem nas grossas camadas de tinta em meu novo mundo impressionista. Eu sorrio tanto e vejo tudo tão brilhante que o dia todo se ilumina e, se eu fosse Monet, teria pintado a ponte japonesa apenas uma vez.
Às vezes penso que sou egoísta, que para perder-me em um oceano de cores, algumas pessoas talvez estejam se afogando nos tons de cinza do Paolo Troilo. Às vezes, sinto-me egoísta por te colocar em meio a tanta tinta e a formas tão diluídas quando, talvez, você só quisesse os belos arabescos da Art Nouveau. Às vezes, culpo-me por estar prendendo com rápidas pinceladas você que talvez prefira a perfeição clássica.
Tantas metáforas e metonímias para tantos pintores e movimentos artísticos porque algum deles poderia pintar você ao meu lado nesse dia tão frio. E então o teria todos os dias, olhando-me dentro dos olhos e arrancando meus melhores sorrisos. E então eu o teria todos os dias beijando-me e fazendo-me perder a noção das horas.
Mas, por Deus, como isso soa egoísta!

24/07/2017