Capítulo 3: O irmão perdido dos Weasley

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A playlist de Tim está pausada na música: You Only Live Once – The Strokes

"Algumas pessoas pensam que estão sempre certas

Outras são quietas e irritadas

Outras parecem tão legais (legais legais legais oh-ho)

Por dentro elas talvez se sintam tristes e erradas (oh não)"

– É melhor nos abrigarmos dessa chuva, não? - O guarda-chuva tremulou, apanhamos o cabo ao mesmo tempo, impedindo que o vendaval roubasse nossa única proteção - Olha! Tem um toldo ali! Vamos! - Esbugalhei os olhos, perplexo demais com tal situação inusitada - Corre! - Não, ele não vai sair correndo no meio da tempest... quando percebi, o garoto já estava correndo em direção ao boteco, ensopando as botas e a barra da calça jeans nas poças enlameadas. Mesmo sem compreender porra nenhuma do que estava acontecendo, afundei o desenho no bolso e acompanhei-o na corrida.

Meus pulmões desmaiaram no meio do caminho, mas infelizmente sobrevivi a maratona inesperada. Adentramos no boteco, esfregando os calçados sujos num paninho maltrapilho, sendo recepcionados por Boate Azul, do Joaquim e Manuel. Mano do céu, é a música da minha vida, estou até emocionado. O dono do estabelecimento nos cumprimentou, ligeiramente, retomando a atenção para o noticiário sensacionalista. O ambiente era familiar, a mesa de sinuca, os homens de meia-idade discutindo sobre futebol e as cadeiras de plástico amarelas. A melhor forma de comemorar seu aniversário de merda, é com um bom litrão. Se bem que já me afoguei de álcool ontem, não deveria ingerir essa porcaria de novo. Bem dizer, nunca deveria ter experimentado um pingo dessa desgraça, desviei o olhar do refrigerador.

Apanhei a carteira da mochila, solicitando uma Tubaína e uma porção de torresmo. Espiei o rapaz desconhecido de soslaio, que duelava contra o guarda-chuva, amarrando-o num movimento desengonçado, deixei escapar um risinho. Ele sentou-se em uma das cadeiras, ao lado do freezer, arrumando a cabeleira ruiva desgrenhada. Apanhei meus pedidos e juntei-me a ele, apontando para a comida e a bebida. Acenou, negativamente, limpando os óculos na barra do enorme casaco. Ficamos em silencio por um tempinho, ouvindo o temporal torrencial golpeando o telhado, uma reportagem sobre os malefícios das redes sociais e um samba antigo. Passeei os olhos no cara, era magricela, olheiras profundas, um rosário bronze adornando o pescoço e a camiseta tinha uma estampa do Scooby Doo, tem bom gosto, tenho que admitir.

– Tatuagem legal - Ele apontou para o escorpião do meu antebraço, agradeci com um aceno de cabeça. Ainda bem que não começou a me benzer, alegar ser um símbolo satânico disfarçado ou me perguntar o significado - Esse silêncio é um tanto constrangedor, né? Desculpa não falar nada, não sei puxar assunto e tenho medo de acabar falando merda - Notei que seus dentes eram protegidos por vários quadradinhos de ferro transparente. Mordisquei um pedacinho do torresmo.

– Ah, está tudo bem e não precisa se desculpar, não fez nenhuma inconveniência, eu que fui extremamente grosseiro - Minhas bochechas formigaram de vergonha - Foi mal, não queria ter sido tão estúpido, sério. Minha mente entrou em ebulição e acabei descontando sem querer em ti, mas juro que não foi a intenção.

– Tranquilo, sei bem como é ter acessos de raiva em momentos inoportunos... - A voz dele minguou, claramente incomodado em confidenciar isto a um estranho. Uma trovoada ressoou, acompanhada de uma rajada de vento, que arrepiou os pelos dos meus braços. Quem disse frio é psicológico, tem que levar uma voadora na testa, psicológico é o meu rabo - Não trouxe nenhum casaco? Deveria se apressar, antes que acabe pegando um resfriado - Arqueei as sobrancelhas, dando uma golada generosa no refrigerante.

Muito jovens para tragédias (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora