Capítulo 24: Tsunami e tornado

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A playlist de Tim está pausada na música: Little Hell City And Colour

"Há um certo grau de dificuldade para lidar comigo

Do meu passado assombrado vem a difícil tarefa de viver através das memórias

Se nós pudéssemos apenas pendurar um espelho na parede do quarto

Encarar o passado e esquecer de tudo"

O rapaz manteve nossos dedos entrelaçados durante a maratona, jorrando uma ardência indescritível por cada milímetro do meu corpo. Meus músculos doíam, o suor grudava no tecido das roupas e o pulmão estava prestes a explodir. Façam exercícios regularmente crianças, não sigam o exemplo do titio aqui. A garoa cessou o ritmo, embora os raios persistissem em despencar no horizonte. Ei, essa história não é crossover não porra, sossegue aí no seu universo, Percy Jackson! Avistei os equipamentos de ginástica, projetando sombras absurdamente assustadoras na grama lamacenta, despertando a curiosidade do pequenino coadjuvante, que correu ainda mais rápido até as estruturas enferrujadas e molhadas.

Largou minha mão, focando a atenção nas barras de ferro, posicionadas em diferentes alturas para auxiliar nas flexões de braço. Deu um, dois, três, quatro pulinhos, tentando agarrar a barra mais alta, tendo êxito em sua quinta tentativa. Ergueu o corpo magricela, revelando o umbigo para dentro e as costelas esqueléticas. Seu rosário bronze pairou no peito, o começo da munhequeira ortopédica e da cicatriz escaparam das mangas do casaco, os tênis da Nike Air Jordan verdes sacudindo sem parar e a camiseta estampada com o quadro Os Girassóis, do pintor Van Gogh. Nem percebi quando meus lábios alongaram um sorrisinho desajeitado, mas estava adorando observa-lo se divertindo tanto.

Escorregou os dedos da barra, caindo firmemente como um gato, esfregou as mãos na calça jeans, rindo baixinho de sua peripécia. Me aproximei, deslumbrado com a abundância esmeraldina de seus olhos, as delicadas sardinhas ocultadas pelos hematomas (sutilmente esverdeados) e a sutil barba cobrindo o maxilar. Porra, ele é lindo para caralho, porque não me fode logo? Opa, perdoe minha indecência. Mais alguns pingos despencaram das nuvens, desta vez com mais intensidade. Tim prontamente abriu o guarda-chuva, nos protegendo de mais uma pancada de chuva num movimento ligeiro, trombando nossos corpos e penetrando aqueles cintilantes olhinhos nos meus.

– Ei, está afim de comer alguma coisa? - Arregalei os olhos, o rosto inflamou de imediato, enquanto a mente mirabolante imaginava ainda mais absurdos... - Oi? Jackson? No que está pensando?

– A-ah n-nada! - Cocei o piercing no nariz, ignorando o calor involuntário espalhando por cada poro de minha pele - E c-claro! Estou faminto! - Mordi o lábio inferior, percorrendo o olhar pelo bairro desértico - Só que está bem tarde, né? Não deve ter nenhuma lanchonete aberta nesse horário - Tim ergueu o dedão, indicando a rua de baixo.

– Tem um supermercado enorme aqui perto e fica aberto vinte e quatro horas - Sorriu, outro trovão estrondou, deixando-o ligeiramente amedrontado - Anda logo, sei o quanto é tentador ficar admirando meu irresistível Sex Appeal, mas não quero contrair um resfriado - Esticou um dos fios dos fones de ouvido, compartilhando a música Kids, do MGMT. Pare de me dar ainda mais motivos para te pedir em casamento, porra! Tivemos dificuldade de andar e escutar a canção ao mesmo tempo, já que nossos ritmos de caminhada e alturas eram bem distintos, demos risadas com os fones fujões, escapando das nossas orelhas a cada dois segundos.

– Aliás, o que o senhor está aprontando por essas redondezas, hein? - Tim ergueu uma das sobrancelhas, forçando um biquinho.

– Hum, aguardando o momento certo de te surpreender com minha inestimável e indispensável companhia nesta belíssima noite sem luar? - Riu alto, disparando meus batimentos cardíacos - Na verdade, o único que está "aprontando pelas redondezas" aqui é você, afinal sempre que tenho um tempinho livre da faculdade e do trabalho, dou uma voltinha aqui para refletir sobre a vida e outras coisas inúteis - As últimas palavras me alarmaram, tentei interrompe-lo, mas deu prosseguimento ao assunto - Às vezes, fico a madrugada inteira perambulando neste parque, tirando fotos aleatórias e constatando o quanto detesto esta cidade, queria tanto voltar para Apiaí e...

Muito jovens para tragédias (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora