*Este capítulo pode conter gatilhos: violência doméstica*
A playlist de Nolan está tocando: Fear – OneRepublic
"Quando eramos jovens, podíamos nos divertir
Nas ruas, apenas mergulhados nos nossos destinos
Quando eramos jovens podíamos dizer
Que ainda não sabíamos o significado do...
Medo, medo, medo"
Permaneci o caminho todo calado, acompanhando as pequeninas estrelas, destacando-se da iluminação forte dos postes, ao som de Never Ever, da Ciara feat Jeezy. Jonathan relatava seu recente vício na série House Of Cards com Tim. Surpreendentemente, seu tom de voz apático, alterou minimamente, para entusiasmado. Alice reclamava do comportamento desesperado de alguns caras nos aplicativos de relacionamento, cogitando largar estes casos superficiais. Já Sarah compartilhava sua ansiedade com o resultado dos ganhadores do festival de cinema regional, já que havia enviado seu curta-metragem um dia após o início das inscrições.
Contentei-me em escutar essas conversas paralelas, esperando o momento adequado para engatar num assunto compatível, porém é um pouco complicado se aproximar de camaradas tão próximos quanto eles e não parecer intrometido. Apoiei o queixo na mão, fixando a atenção no obelisco imponente no meio da pracinha. Sarah espiou-me pelo retrovisor, afundei as costas no banco, reparando na observação nada discreta da moça de cabelos avermelhados. O canto dos lábios carnudos dela, exibiu um sorrisinho reconfortante, retribuí o sorriso, sentindo um pouco mais acolhido.
– Ei Jack, o gato comeu sua língua? - Tim cutucou meu antebraço, inclinando a cabeça para o lado, um movimento extremamente adorável. Será que ele não percebeu que estou no meio de pessoas que não tenho intimidade? Ajeitei a coluna, sentindo a mão dele descansar em meu ombro - Está tudo bem, entendo que deve estar se sentindo meio deslocado, mas não preocupe, já estamos quase chegando na lanchonete - Assegurou-me com um sorrisinho acanhado, aproximando a boca da minha orelha - E não precisa ficar tímido não, ninguém daqui morde, se bem que... - Deu uma piscadinha, soltando um riso irônico. Sua provocação incendiou minhas bochechas e peito no mesmo instante.
– Que fofos - Nós dois direcionamos a atenção para frente, o sorriso sacana de Sarah refletiu no retrovisor - Opa, acho que falei alto demais! - Tim afastou-se de mim, disfarçando o constrangimento, ajeitando o gorro e os óculos. Meu Nietzsche todo poderoso, segurai minha vontade de pular deste carro! Alice tentou manter o foco no trânsito, embora estivesse nitidamente incomodada com nossa aproximação. Sarah esticou o braço para fora da janela, apontando para os estabelecimentos alimentícios - Chegamos rapazes e moça! Droga, quase nem tem vaga para estacionar, que merda! Por um acaso vai ter show das Spice Girls? Que lotação é essa?! E logo num domingo!?
A calçada realmente estava bem agitada, afinal a lanchonete era posicionada bem no meio de dois barzinhos populares na cidade. Os garçons organizando as mesas e cadeiras, recepcionando os clientes com acenos de cabeça amistosos. Levamos um tempinho até encontrarmos uma vaga sobrando, um pouquinho distante da lanchonete. Toquei a fivela do cinto de segurança, sentindo a mão do ruivo esbarrando na minha. Dividimos uma risada embaraçosa, porém acabei sendo advertido pelo olhar inibidor de Jonathan, preparado para esganar meu esguio pescoço, caso ousasse prolongar o diálogo. Alice abriu o porta-malas e retirou a cadeira de rodas, Sarah e Tim ajudaram o rapaz sisudo a sentar na mesma. Ele demonstrou incomodo em ser ajudado pelos amigos, porém optou por não protestar, verificando duas vezes se a porta do carro havia sido fechada direito.
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Muito jovens para tragédias (em revisão)
Romantizm(Em revisão) Jackson deseja ser um desenhista desde criança, porém as memórias do passado conturbado, o afastamento repentino do melhor amigo e a insegurança com seu futuro, o fizeram se afastar do que mais ama. Recentemente, o álcool tem se tornado...