Capítulo 13: Sinal amarelo

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*Este capítulo pode conter gatilhos: consumo de drogas e automutilação*

A playlist de Jackson está tocando: Alameda – Elliott Smith

"Ninguém partiu seu coração,

Você próprio o partiu, porque você não consegue terminar o que começa

Ninguém partiu seu coração

Se você está sozinho, deve ser você que quer estar isolado"

Reli a mensagem diversas vezes, sentindo o coração diluindo a cada palavrinha

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Reli a mensagem diversas vezes, sentindo o coração diluindo a cada palavrinha. Apesar de estar contente com o retorno inesperado, o rancor insistia em cutucar meu orgulho de merda. Essa sensação desconcertante é esquisita. Devolvi o celular para dentro do bolso da jaqueta, inundado por um turbilhão de pensamentos receosos. Bom, nós realmente deveríamos ser sinceros um com o outro após tudo o que aconteceu, porém isso desenterraria mais lembranças e francamente, gostaria de continuar mantendo-as escondidas debaixo do tapete... até o próximo surto desperta-las de vez e eu tomar a mesma atitude estúpida de novo...

A movimentação do ônibus deixava-me sonolento para caralho, nem Chaos, do Mutemath, conseguiu me animar. Preciso comprar novos fones de ouvido, vou ter um ataque de nervos com esses malditos chiados. Retornei o foco para as escassas anotações do caderno, tentando memorizar o conteúdo de seis meses em quinze minutos, já que essa semana seria dedicada exclusivamente as avaliações finais, glória a Nietzsche! Encarei meu rosto refletido na janela, os cabelos desarrumados, as profundas olheiras e o semblante tedioso. Argh!

Nem percebi meu dedo indicador arrancando um pedacinho de pele do dedão. A ardência do microscópico ferimento, puxou-me de volta a realidade, arrastei a manga da jaqueta e puxei o capuz, afastando-me do homem sentado ao meu lado. O pulmão ameaçou desregular o ritmo da respiração, os sons das notificações alheias causavam-me um incomodo absurdo, os carros estavam perto demais do transporte público, as axilas umedecidas... ah caralho, agora não! Levantei do banco, esbarrando nos demais passageiros e apertei o botão para descer do veículo, os ouvidos quase explodiram com o som da sirene.

Caminhei pelo campus, o coração batucando violentamente a cada passo. Os demais universitários passavam por mim, fofocando alto demais... quero sair daqui. Avistei Matheus fumando perto da quadra, ao reparar minha presença, deu um estranho sorriso, inalando mais um pouco de cigarro. Adentrei a classe, sentindo a atmosfera esmagadora de não pertencimento recaindo em minha mente, acompanhada da enxaqueca infernal. Entreguei os releases e tomei meu lugar no fundão da sala, ninguém se incomodou com meu comportamento monótono... nem eu mesmo me importei.

Concluí a primeira prova em menos de vinte minutos, caminhando desinteressadamente pela universidade. Encerrei o passeio no pátio principal, sentando num cantinho afastado das mesas, a cabeça pendendo para os lados de cansaço. Comprei um copinho cheio de café, desejando que a singela dose de cafeína me despertasse, porém nem isso reviveu meu ânimo. Abri a mochila, retirando o amontoado de papéis amassados no fundo da mesma. Apanhei toda aquela inutilidade e joguei no lugar de onde eles jamais deveriam ter saído, do lixo. Aproveitei o tempo livre para revisar o conteúdo da segunda e última prova do dia, apertando com força as têmporas para aliviar o estresse.

Muito jovens para tragédias (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora