A chegada

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O intervalo entre as contrações seguia diminuindo, mas a dor ficava mais intensa e durava mais tempo, o que aos poucos foi deixando Karol exausta. Quando o intervalo estava em uma hora, Rugge a levou pro segundo andar, chegando no quarto ele disse:
- Vai tomar um banho, vou separar um pijama e pantunfas pra você, não vou sair daqui, qualquer coisa me chama.
Ela foi diretamente pro banho, a água quente a ajudaria aliviar a pressão que aumentava quanto mais o tempo passava.
Depois do banho Rugge a ajudou a se vestir, ele iria fazer menção para ela se deitar mas ela o abraçou antes, deixando a testa encostada no peito dele, que apoiou o queixo sobre a cabeça dela, enquanto fazia movimentos circulares com as mãos nas costas, para ajudar aliviar a pressão, por vezes balançava para um lado e pro outro, até que ela o pediu:
- Canta alguma coisa...
Ele ficou pensativo, estava compondo uma canção nova a uns dias, pensou que talvez tinha chego o momento de cantar pra ela já que a canção falava dos dois, então começou a cantar suave e baixinho:

"Es increíble cómo puedes hablar directamente a mi corazón
Sin decir una palabra, usted alumbra la oscuridad
Intento pero yo nunca voy a poder explicar.
Lo que oigo cuando tu no dice nada

La sonrisa en su carita
Me hace saber que usted necesita de   mí
Hay una verdad en sus ojos
Diciendo que usted nunca me dejará
El toque de su mano
Dice que tu me sostendrá dondequiera que caiga
Tu dice eso mejor cuando no dices nada

Durante el día puedo oír a la gente hablando en voz alta
Pero cuando me abrazas
Usted ahoga a la multitud
Van intentar Pero ellos nunca podrían definir
Lo que se ha dicho entre su corazón y el mío

La sonrisa en su carita
Me hace saber que usted necesita de mí
Hay una verdad en tus ojos
Diciendo que usted nunca me dejará
El toque de su mano
Dice que tu me sostendrá dondequiera que caiga
Y tu dice eso mejor cuando no dices nada..."

Enquanto ele cantava ela ergueu a cabeça para olhar pra ele, quando terminou de cantar a disse:
- Ainda não está pronta...
- Mas é linda - disse ela.
- Escrevi pensando em você e em nós dois - disse ele.
- Acho que você conseguiu transformar em palavras o que acontece conosco. - conclui ela.

Ele lhe dá um beijinho na testa, balança mais um pouco e ela começa a falar encostada no peito dele:
- Eu não sei cuidar de mim mesma como vou cuidar de outra pessoa??
- Como não sabe se cuidar? Sabe sim! Você cuidou de mim quando fiquei mal, então isso é cuidar Moglito. E você não vai estar sozinha, eu vou estar aqui te ajudando e principalmente vou estar cuidando de você também. - disse Rugge carinhosamente a fazendo cafuné enquanto balançava.
Ele seguiu a apoiando em pé, conversando e cantando madrugada a dentro, as contrações vinham fortes, duravam cada vez mais, mas ela se mantinha firme, durante a dor ele a repetia " foque na dor passando", assim ela o fazia, focava nos períodos sem dor. Para que ela se distraisse Rugge a incentivou a dançar, ela não queria muito de início, mas ele a rodopiou, misturou vários ritmos, a fez rir um pouco, a levava em tango pra um lado do quarto e em salsa pro outro, enquanto seguia dançando olhava o celular sobre o criado mudo marcando a contagem decrescente até a próxima contração, faltavam aproximadamente 10 min para a próxima, ele seguiu dançando com ela, até que ela pediu pra parar um pouco, quando ele foi perguntar porque ela se arqueou segurando firme as mãos dele, suportando mais uma vez a dor que estava mais intensa que as outras e durou quase 20 segundos, e ocorreu 10 min antes do previsto, a Dra Marta o havia alertado que quando baixasse de 50 min o intervalo, o tempo não estaria mais ao lado deles pois ela podia ter contrações com intervalos menores a qualquer momento. Karol estava muito ofegante, se abraçou a ele novamente que ao tatear o osso do quadril dela nas costas percebeu que a distância entre os eixos havia aumentado significativamente, mas como combinado, ele esperou que ela dissesse quando queria ir ao hospital, foi ele terminar esse raciocínio, e ela controlar a respiração, para ela dizer a ele:
- Baloo...
- Oi ... - seguiu ele.
- Acho que está na hora da gente ir... Eu quero ao hospital. - disse ela.
- Eu vou levar as malas no carro então e ligar pra Dra. - disse ele lhe dando um beijinho na testa.
Ela se soltou do abraço concordando com a cabeça, mas seguia com aquela expressão de dor, ele soltou a mão dela e foi o mais rápido que pode no quarto de Lorenza pegar as malas, desceu, as colocou no porta malas do carro, prendeu a base do bebê conforto do carro no cinto e voltou pra dentro já falando com Marta no telefone, que o dizia que os encontraria direto no hospital e que já iria ligar para deixarem um quarto preparado para eles. Ele subiu a escada correndo de 2 em 2 degraus, chegou no quarto ela estava penteando o cabelo, mas não havia trocado de roupa, logo ele perguntou:
- Você vai assim mesmo?
- Vou, estou confortável assim - respondeu ela.
- Mas de pantufa? - retornou ele.
- Eu posso estar em trabalho de parto, nossa filha pode estar quase nascendo, mas eu não vou deixar de ser eu mesma por isso! - disse Karol respirando fundo.
Ele deu um riso singelo, olhou para a contagem no celular, então a perguntou objetivamente:
- Você quer que eu te leve ou vai caminhando Karol Sevilla, sendo Karol Sevilla?
- Vou andando Baloo.
Rugge pegou o celular, e os dois desceram as escadas lado a lado, ele estava preocupado, mas tinha que se manter forte por ela. Saíram pela porta da cozinha, Rugge a trancou, ajudou Karol a sentar no carro, deu a volta, se sentou colocou o próprio cinto e a ajudou a prender o dela, ele ligou o carro e partiram rumo ao centro. Todo o caminho Rugge quando podia a observava, ela estava com a respiração mais rápida e tentava achar a melhor posição, acariciava a barriga, por vezes apertava tentando fazer Lorenza se mexer, mas ela não respondia. Como era madrugada a estrada estava fazia, então chegariam mais rapidamente ao hospital. Já no centro, Rugge para no sinaleiro, e coloca a mão direta sobre a barriga de Karol que o diz:
- Ela não está se mexendo!
Ele pega uma das mãos dela e coloca na lateral da barriga fazendo uma leve pressão e diz:
- Ela está sim, bem pouquinho mas está, sente aqui.
Ela começa a querer chorar, mas ele segue dizendo:
- Eu sei que você está assustada, mas vai dar tudo certo, confie em você mesma, porque eu confio em você!
O sinal abriu, ele seguiu a caminho do hospital, chegou rápido e foi pela entrada de ambulâncias, estacionou o carro, desceu rápido e foi ajudá-la a sair, mas foi dar a mão pra ela, ela segurou com força, era outra contração, muito forte, que a fez se inclinar para trás e cruzar as pernas, passado a dor ela ficou bem ofegante soltando o ar pela boca, Rugge esperou ela se acalmar um pouco para ajudar ela sair, mas Dra Marta veio até eles.
- Como estão as coisas aí? - perguntou Marta.
- Ela acabou de ter outra contração bem forte, na marca de 30 min de intervalo.
Marta se abaixa pra olhar Karol dentro do carro e pergunta:
- Karol, está aguentando? Quer uma cadeira de rodas?
- Estou suportando, não precisa de cadeira eu vou andando - respondeu ofegante.
Rugge a ajuda a sair do carro, e a apoia pela cintura, ele fecha a porta do carro e Dra Marta pergunta:
- As malas estão no porta malas?
- Sim ... - respondeu Rugge querendo ir abrir.
- Não, não você fica com ela, as enfermeiras pegam as malas e o bebê conforto. - interrompe Marta.
Depois que as enfermeiras pegam tudo, ele fecha o carro, e vai conduzindo Karol devagar até a entrada do hospital.
- Vamos subir de elevador pro quarto 164 no terceiro andar okay - diz Marta se dirigindo a Rugge, Karol e as enfermeiras que vão na frente.
Ao chegarem no terceiro andar, saem do elevador, Rugge segue apoiando Karol para caminhar, no meio do corredor, Karol se inclina pra frente, não era uma contração, mas era dor, Marta que vinha ao lado ergue a blusa dela na parte de trás e mede com a mão a distância entre os eixos do quadril, logo ela diz:
- Esta bem dilatado aqui, preciso ver como esta, consegue andar até ali?? - pergunta a Karol.
Karol não responde, mas segura a mão de Rugge firme, se ergue e começa a andar devagar, finalmente entram no quarto, Karol não quer sentar, então Marta ergue a blusa dela e com auxílio do estetoscópio escuta os batimentos da bebê.
- Os batimentos dela estão normais, Rugge ajude ela a colocar a camisola do hospital, eu volto em alguns minutos, vou ver se já separaram os instrumentos. - disse Marta saindo.
- Baloo...- diz Karol.
- Calma eu vou te ajudar - disse Rugge
Ele a ajudou a tirar a roupa e a colocar a camisola do hospital amarrando nas costas, ele a vira, a observa, lhe dá um selinho breve e ela o pede:
- Preciso de água, estou com sede!
- Eu vou buscar - disse ele soltando da mão dela.
- Não demora Baloo, por favor! - segue ela.
- Eu vou em um pé e volto no outro, prometo - disse Rugge saindo do quarto.
Karol fica sozinha, preocupada consigo mesmo, pensando se iria conseguir dar a luz a filha, repetia para ela mesma que tinha que manter a calma, procurava sentir qualquer movimento de Lorenza mas eram muito tênues, ela sentiu que mais uma contração estava chegando, ela não teve muito tempo pra pensar, segurou a alça da cama com toda a força que pode, se inclinou, e suportou a dor intensa, parecia que seu osso da bacia iria quebrar em mil partes, foi tão forte que ela quase chegou a gritar, gradualmente foi passando, e ela recobrando a respiração, quando sentiu um líquido escorrer pelas pernas, tinha um cheiro forte como de água sanitária, era bolsa que havia rompido. Rugge finalmente voltou pro quarto com 2 garrafas de água, quando a viu ofegante, largou as águas na cadeira e foi correndo até ela preocupado.
- Ka? - perguntou ele.
- A - respira - bolsa - respira  - respondeu ela.
Ele olhou pro chão, estava molhado, sem perceber ele entrou na mesma frequência de respiração dela, antes que pudesse falar algo, ela o segurou com força com uma das mãos, e a outra segurou a base da barriga, cerrou a boca pra conter o grito pela dor, que passou, mas ela seguiu ofegante, Marta voltou pro quarto, e ao ver Karol com a expressão de dor o segurando e ele com os olhos estalados, já sabia o que tinha acontecido, mas perguntou mesmo assim:
- A bolsa estorou?
- Sim! -  disse Karol.
- Rugge consegue colocar ela na cama ?
Ele balança a cabeça dizendo que sim, pega Karol no colo e a coloca sobre a cama, Marta vai até ela, levanta a camisola até a altura do peito, Rugge segura a mão de Karol firme, que a essa altura já tinha lágrimas involuntárias escorrendo pelo rosto por conta da pressão e da dor, Marta dobra as pernas dela, as afasta, quando ia verificar a quanto estava a dilatação, não o fez olhou pra Rugge e o disse:
- Ruggero aperta o botão vermelho ali pra mim.
- Ela está sem dilatação o que está acontecendo? - pergunta ele assustado.
- Não tenho como ver a dilatação, porque a cabeça da bebê já está aqui, preciso da enfermeiras, aperte o botão por favor. - pediu Marta, puxando a luvas por cima do jaleco.
Rugge apertou o botão, olhou pra Karol, que o chamava baixinho enquanto tentava suportar as contrações que a essa altura já eram quase contínuas.
- Eu tô aqui, respira, respira! - repetia Rugge começando a se desesperar.
As enfermeiras entraram no quarto, trazendo os instrumentos e demais ítens necessários. Marta passa um antisséptico em Karol, fazendo a se contrair por estar gelado, então Marta diz enquanto passa um outro medicamento líquido.
- Karol não vai dar tempo de ministrar uma anestesia, então vou usar um anestésico líquido ok. Agora preste atenção em mim, você já está na fase de expulso, preciso que se concentre, quando você sentir a contratação chegar, aspire fundo, segure ar, leve o queixo ao peito, segure nas alças da cama ou nas mãos do Rugge e faça força, na parte de trás okay.
Karol confirma com a cabeça, não demorou muito e ela seguiu as orientações da Dra, segurou na alça da cama com uma das mãos e com a outra segurou na mão de Rugge, e fez toda a força que podia.
- Bom, muito bom Karol, respira fundo e solta pela boca, espere a próxima. - seguiu orientando Marta.
Rugge a essa altura estava pra lá de desesperado por dentro, mas tinha que se manter por ela. Veio outra contração e Karol seguiu os passos.
- Força, força, força! - Repetia Marta - Está quase Karol, quase, só mais um pouquinho - disse Marta.
- Ouviu meu amor ela tá quase aqui! - disse Rugge.

Karol estava cansada, parecia que iria lhe falta ar, aquela sensação horrível de algo saindo do seu corpo, ela olhou pra cima implorando ajuda pra sua vó, ao fazer isso se lembrou do quão forte era e de que jamais se deu por vencida, quando a contração chegou, ela deu tudo que tinha, fez toda a força que pode, Rugge viu muito líquido sair, se fez silêncio, tudo ficou em câmera lenta, ele olhava para Marta que estava concentrada em seu trabalho, depois olhou pra Karol, que olhava pra baixo na expectativa, aquele silêncio sepulcral, ele só conseguia ouvir a respiração de Karol, quando o silêncio foi quebrado pelo choro da nova vida que acabará de chegar.
- O pulmão está funcionando bem! Dani me alcance um lençol - disse Dra Marta
Marta fez uma avaliação breve da bebê enquanto a limpava um pouco, então disse olhando no relógio para que a enfermeira anotasse:
- 10 de setembro, 4:37 da manhã.
Karol segurou a mão de Rugge a balançando pra chamar a atenção dele que logo a olhou e ela disse nitidamente emocionada:
- Feliz aniversário meu Baloo!
Ele deu um beijinho na mão dela se contendo, até a Dra colocar Lorenza sobre o peito de Karol, então ele desatou a chorar, levava as mãos cruzadas atras do pescoço e respirava fundo enquanto observava suas duas princesas.
Karol nem se lembrava mais de dor alguma, suas lágrimas agora tinham outro motivo, aquele pequeno ser, que ainda chorava um pouquinho se acostumando com o mundo exterior, ao ouvir o coração de Karol batendo Lorenza foi se acalmando, até que abriu um pouquinho os olhos, mas franzia um pouco a testa por conta da luz, então Karol a disse:
- Oi! - deu um beijinho naquela mãozinha pequena - Oi minha princesa... Seja bem vinda filha!
Ela sentiu um desconforto, Rugge olhou para a Dra, que logo disse:
- Fica tranquilo, é só a placenta saindo, está tudo bem.
Terminada a parte de Marta com Karol naquele momento, ela se levanta dando lugar a enfermeira que iria cuidar da limpeza, e vai até Lorenza e diz a pegando:
- Eu sei que você tá com a mamãe, mas a tia chata vai ter que levar você pra medir, pesar, colocar brincos, fazer uns exames, colocar um clip e roupinhas em você. Rugge quer acompanhar?
Ele olha Karol nos olhos, que o retribui e logo diz:
- Vai com ela Baloo!
- Mas e você? - pergunta ele preocupado.
- Eu estou bem, vai com ela! - pediu Karol.
Assim ele fez, acompanhou Lorenza e Marta em todos os procedimentos.
- 2,100 Kg  - disse Marta enquanto Dani anotava.
- 36,5 cm. - seguiu Marta.
- Reflexos normais, batimentos normais. - continuava a Dra.
Marta então colocou as pulseiras de identificação, o clip no cordão umbilical, verificou os ouvidos, os olhinhos, a respiração e avisou Rugge:
- Ela vai chorar um pouco agora, porque vou ter que fazer um cortinho no pé dela pra poder fazer outros exames pra garantir que está tudo bem ok, não fique nervoso.
Assim ela o fez, e Lorenza chorou mais não muito, depois Marta colocou os brinquinhos dourados, Dani trouxe uma roupinha, uma touca e a mantinha de coelhinhos, Marta colocou a fralda explicando a Rugge como fazer, depois colocou o body e a calça branquinhos, meias a touca pra ajudar a deixar a moleira no lugar, a enrolou e deu pra Rugge segurar, ele ficou meu receoso porque Lorenza era bem pequena, mas Marta o tranquilizou, assim que ele a segurou contra o seu peito, Lorenza que ainda resmungava um pouquinho, ficou bem quietinha. Karol já estava coberta e esticada na cama que estava levemente inclinada, tomando uma medição intravenosa, quando ela o viu com a filha no colo, e encontrou seu olhar lhe deu um sorriso, e foi retribuída. Ele chegou mais perto dela  e a perguntou:
- Tudo bem?
- Uhum! E você? - retornou ela.
Ele sorriu pra ela novamente ainda meio inebriado, mas disse:
- Obrigado!
Ela riu e perguntou:
- Pelo que?
- Pelo presente de aniversário mais lindo que alguém poderia ganhar! - respondeu ele.
Ela deu aquele sorriso que sempre mexia com ele e disse ternamente:
- Te amo meu Baloo!

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