Ano 2. Amigos?

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— Por que você mentiu para mim? — Ele escancarou a porta e entrou berrando feito um louco.

Ainda carregava as cartas dos pais de seus amigos. Elas estavam espremidas entre seus dedos, e estes estavam muito vermelhos. Uma das veias de seu pescoço estava alterada e tons arroxeados podiam ser vistos em suas bochechas. Tiago Potter estava mesmo com raiva.

Sua agressividade surpreendeu Marlene. Ela estava escrevendo uma mensagem para Lilian e Alice quando ele entrou daquele jeito. Levara um susto e quase deixara a pena cair no carpete.

— Por que você mentiu para mim? — Repetiu, gritando mais alto ainda. — Qual o seu problema? Hein? RESPONDA! — Urrou, batendo o punho na parede, quando percebeu que Marlene ainda estava parada no mesmo lugar, estática.

Marlene começou a rir ironicamente. Não podia acreditar que aquele era Tiago Potter, seu melhor amigo de infância. Já não bastava ele a ter deixado de lado todo o ano anterior simplesmente porque ela começara a andar com Lilian Evans, agora ele queria agir feito um machão selvagem? Gritando para todos os cantos do mundo mágico o quanto seus urros eram másculos e poderosos?

— Ah! Faça-me o favor, Potter! Você acha mesmo que pode entrar gritando desse jeito no meu quarto e que eu, ainda assim, lhe responderei? — Marlene levantou-se, fitando o garoto irada, apontou o dedo para a saída e atirou calmamente: — Quero que se retire. Agora!

— Eu não vou sair antes de me responder — ele disse quase tão furioso quanto ela. — E acho bom que seja uma boa resposta, Marley.

— Não me chame de Marley! Seu grande babaca! — Marlene caminhou até Tiago e o empurrou porta afora. — Não me chame de Marley nuca mais! — Outro empurrão. — Nunca mais mesmo! — E ela voltou para o quarto, trancando a porta.

Tiago correu até a porta de Marlene e começou a esmurrá-la. Não entendia aquele ataque de fúria. Ela estava errada e ponto. Mentira para ele. Enganara-o tentando fazê-lo se sentir culpado. Ele quase teve um colapso nervoso quando foi dito que Pedro fora dado como morto. Não tinha o direito de dar showzinhos de menina mimada.

— Abra essa porta, Marlene! — Ele bateu mais uma vez.

Suas mãos estavam doloridas de tanto esmurrar a porta. A voz já estava rouca de gritar e gritar, mais e mais. Vários hóspedes vieram ver o que estava acontecendo, alguns tentaram tirá-lo dali, mas ele não saiu. Por sorte, o restante da família McKinnon fora ao Beco Diagonal — ele os vira saindo — e Sirius, Pedro e Remo não poderiam sair do quarto, correndo o risco de alguém os ver. Então, ele só sairia quando Marlene abrisse a porta.

Algo que aconteceu cinco minutos mais tarde.

— Você não vai parar não é mesmo? — Ela botou a cabeça para fora e perguntou impaciente.

— Deveria?

— Quer mesmo que eu responda? — Marlene saiu do quarto e sentou no chão, Tiago a imitou e as pessoas voltaram aos seus afazeres, agora que a confusão acabara. — Por que está fazendo isso comigo? — Ela perguntou, pondo as mãos nas pernas do velho amigo.

— O que eu estou fazendo? Foi você quem mentiu aqui, garotinha — ele respondeu, virando a cara e tentando parecer raivoso.

Marlene riu.

— Eu só menti para que você sentisse o que eu senti, Tiago. Eu entrei em desespero quando soube do seu desaparecimento — ela respirou fundo, tentando segurar as lágrimas indesejáveis. — Ainda mais depois do ano passado.

— Eu sinto... Sinto muito — Tiago a abraçou.

Ficara com raiva, no ano anterior, quando a vira andando pelos corredores ao lado de Lilian Evans. Então, simplesmente parara de falar com ela. O que Tiago não queria admitir era que tinha ciúme de Marlene. Ciúme da relação dela com Lilian.

— Tudo bem — Marlene sorriu, puxando-o para cima. — Precisamos de um plano para tirar Remo e Pedro daqui. E não venha me dizer que eles não estão aqui porque sei que estão — ela piscou e foram juntos rumo ao quarto dos garotos.

— Senha — a voz de Sirius soou através da porta de madeira rígida.

Marlene levantou uma das sobrancelhas, e Tiago fez uma cara de "não me pergunte". Da última vez que checara, não havia senha nenhuma para entrar no próprio quarto. Aquilo tinha de ser ideia de Pedro. Só não entendia porque diabos Remo aceitara aquela palhaçada.

— Tiago é o bruxo mais bonito de todos os tempos e a magia dele é mais poderosa que a de Merlin — Marlene revirou os olhos. — Vamos lá, sou eu. Parem de gracinhas.

Sirius e Pedro abriram a porta rindo, enquanto Remo fazia bolinhas de sabão coloridas com a sua varinha. Ele parecia entediado, enquanto os outros dois faziam de tudo para achar graça nas quatros paredes cinza do cômodo alugado naquela estalagem.

— Isso não é ilegal não, camarada? — Marlene perguntou a Remo.

— E você, quem é? — Remo perguntou de volta, com os olhos vazios.

Tiago suspirou. Marlene olhou para ele chateada. A única pessoa que sabia da existência da garota era Sirius. E apenas porque Tiago crescera com ele.

— Pessoal — Tiago sorriu e segurou na mão dela —, esta é Marlene, a minha melhor amiga de infância.

— E antes que vocês comecem a perguntar por que o Tiago nunca falou de mim, saibam que eu vim aqui para ajudá-los a sair daqui — ela falou, sentando-se logo na poltrona do Sirius.

Remo colocou um pufe no meio do quarto e todos se reuniram em volta dele. Pedro prontamente preparou o material que utilizariam: pergaminhos, penas e relógios. Marlene, com sua habilidade para desenhar, fez um mapa do Caldeirão Furado e adjacências. Ela especificou tudo e, sob a liderança de Remo, tracejaram o plano detalhadamente.

Cronometrariam cada saída, cada entrada, cada passo. Teriam tudo sobre absoluto controle. Principalmente o restante da Família McKinnon — que ameaçava a impunidade deles naquele caso. Tudo teria que ser perfeito.

Marlene já falara que os McKinnon tinham o hábito de comer cedo e dormir tarde. Seus irmãos geralmente ficavam no quarto e seus pais costumavam permanecer na sala, conversando. Apenas Maxwell e Malcolm estavam hospedados na estalagem — os outros três já haviam comprado o material para Hogwarts e decidiram passar o restante das férias na casa dos amigos —, então Marlene apenas colocaria um pouco de poção do sono no prato dos dois.

Depois, Sirius explodiria uma bomba de bosta na cozinha e Tiago daria um susto no velho Tom. Isso chamaria a atenção dos McKinnon, que tentariam resolver o problema. Assim, Remo e Pedro teriam tempo de sair pela porta da frente, e voltariam para casa no Nôitibus andante.

Por sorte, antes de sair, Remo tivera a brilhante ideia de deixar um bilhete para sua mãe dizendo que fora até a casa dos Potter. Inventou que Euphemia tivera algum problema de saúde e Tiago quis sair no meio da noite para vê-la. Para não deixá-lo sozinho, ele o acompanhou. Remo era um gênio. Pelo menos na cabeça de Marlene, ele era.

No fim da tarde, tudo estava pronto. Marlene surrupiara bombas de bosta e poções do sono do malão de seus irmãos e os meninos já estavam escondidos na cozinha. Agora era implorar para que Pirraça velasse essa travessura deles.

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