Ano 2. Por trás do espelho

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O ambiente ficou mais escuro. O ar, mais pesado. Uma leve tensão se instaurou entre os três garotos. Tiago piscou os olhos várias vezes; Pedro se encolheu em direção à parede e Sirius ensaiou o início de uma gargalhada. Nenhum dos três estava acreditando nas palavras do amigo lupino. Esperavam a hora que Remo anunciaria a brincadeira. Mas Lupin continuou com a mesma expressão séria. Ele estava falando a verdade.

Tiago tirou os óculos e os limpou na camisa. Passou as mãos pelos sempre bagunçados fios negros. Aos poucos, foi se juntando às sombras da parede. Não era possível que Lupin estivesse sendo verdadeiro. Não sabia o amigo que nenhum deles tinha anos a própria disposição? No máximo, tinham meses! Tinham que acelerar o processo. Só assim poderiam ajudar Remo a atravessar as noites difíceis. Talvez...talvez, com muito trabalho duro conseguissem. Afinal, eram bruxos extraordinários e sabiam disso. Nada poderia impedi-los.

Sirius permaneceu parado, com o riso ensaiado ainda preso na garganta. Abriu a boca várias vezes. Queria dizer algo, mas não tinha argumentos. Em seu íntimo, ainda achava que tudo poderia ser uma grande brincadeira de Remo. Uma brincadeira sem graça é verdade, mas nada que devesse ser levado a sério. Caso contrário, com toda aquela história de que eles precisariam de anos para se transformarem, o amigo estaria duvidando da capacidade deles. Tudo bem que tinham doze anos e estavam no segundo ano. Mas estavam entre os alunos mais brilhantes de Hogwarts. A animagia seria fichinha quando, no primeiro ano, tinham enfrentado um lobisomem. Sirius tinha certeza de que a transformação não levaria anos.

Pedro, entretanto, não estava tão confiante quanto os amigos. Em sua cabeça havia um turbilhão de pensamentos. Assim como Sirius e Tiago, queria se transformar num animago e acreditar na inveracidade das palavras de Remo. Contudo, sua eficiência em magia era bem inferior que a de todos os seus amigos. Suas notas boas eram devidas ao talento de Remo como professor. Nada era mérito seu. E, para piorar, a matéria que tinha mais dificuldade, que tirava as notas mais baixas e que menos gostava era, justamente, transfiguração. Como dissera Lupin, levaria anos até que finalmente atingissem aquele objetivo — e ele levaria mais tempo ainda.

— O que a gente vai fazer agora? — Perguntou Pedro, com um fiapo de voz.

— Bem — começou Tiago, num súbito ataque animação —, eu não sei você, mas eu vou tentar até eu conseguir me transformar num animago.

O menino Potter saiu das sombras projetadas pela parede e foi andando, num ritmo rápido, rumo à Sala Precisa. Estava decidido. Não iria ficar parado esperando os anos passarem. Iria tentar. E, se falhasse, bem, saberia o que não deveria fazer.

— Você está louco? — Gritou Remo, correndo atrás dele e puxando-o pelo braço. — Essa é uma magia perigosa e avançada. Você pode morrer tentando!

— Acontece que eu não ligo. — Tiago puxou seu braço e continuou andando.

— Tiago! — Remo tentou gritar, mas o menino Potter fingiu não ouvir e apenas seguiu seu caminho.

Sirius, que apenas após aquela cena se deu conta de que Remo realmente falava a verdade, foi de encontro ao menino.

— Talvez ele esteja certo, Lupin — Black disse, dando um tapinha no ombro de Remo. — Tentar e falhar, tentar e falhar. Uma hora a gente consegue. E, se a gente morrer no processo, pelo menos vai ter sido divertido.

Remo revirou os olhos. Não acreditava que Sirius, além de estar do lado de Tiago, fazia piada com o assunto. Se bem que era bem a cara do Black esse tipo de coisa. Lupin suspirou e viu Sirius andando devagar para a Sala Comunal da Grifinória. Chamou Pedro e os dois seguiram o menino de cabelos negros.

Talvez Tiago estivesse certo e talvez ele só precisasse de um descanso para pensar melhor a respeito do assunto.

***

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