Ano 2. O feitiço do olho mágico

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Com a descoberta do novo feitiço, os meninos não aguentavam ficar sozinhos sem tentar executá-lo. Isso durou por volta de uma semana, quando perceberam que além das passagens não serem reveladas, coisas comuns explodiam. Era por pouco que estavam escapando do Filch naqueles dias (na verdade, graças a brilhante ideia de Pedro em andarem sempre com a Capa da Invisibilidade no bolso).
Como não podiam usar o feitiço a todo momento, afinal não queriam explodir a escola inteira, eles tiveram que começar a pensar em outras maneiras de encontrar as passagens secretas. Após a descoberta da que levava até a Dedosdemel, os Marotos estavam ainda mais convencidos de que haveriam outras.
Por sugestão de Sirius, deixaram de procurá-las no quarto e no terceiro andar. A teoria dele de que o bruxo que as criara queria sair sem ser visto agora tinha mais detalhes. Ele tinha certeza de que o bruxo não deixaria várias passagens próximas umas das outras, e que elas provavelmente estavam em lugares diferentes. A coincidência das duas primeiras passagens secretas encontradas estarem no quarto e terceiro andar, respectivamente, não deixou os outros alunos inclinados a acreditar que haveriam passagens secretas em todos os andares da escola. Seria muito óbvio.
Ninguém, contudo, dava ideias de onde elas poderiam estar. Então eles decidiram simplesmente parar de pensar naquilo. Combinaram que passariam o Natal na escola e, como o Castelo normalmente ficava vazio nessa época, eles procurariam pelas passagens secretas. Enquanto isso não acontecia, iriam se concentrar no Torneio de Duelos que Sirius criara. O Black não melhorara em nada sua perícia como duelista, então teria de treinar muito ainda.
Naquele dia, faltando mais ou menos uma semana para a Lua Cheia do mês de Novembro, quando estavam indo para a aula de Feitiços, Narcisa Black bloqueou a passagem deles.
— Sai da frente — disse Sirius, empurrando a prima.
Narcisa apenas revirou os olhos azuis e empurrou Sirius contra a parede.
— Tenho um recado para vocês — ela disse com autoridade na voz.
— Então fala logo — resmungou Tiago.
Ela suspirou e chamou eles num canto mais afastado. Não queria que outros alunos ouvissem aquela conversa.
— Rola um boato — começou, a voz num tom tão baixo que os meninos tinham que se esforçar para ouvir — de que a Floresta Proibida vai receber proteções mágicas muito poderosas e vigia o tempo inteiro durante a Lua Cheia.
Nesse momento, Tiago e Sirius olharam para Lupin, que corou. Narcisa, entretanto, pareceu não notar aquilo.
— Tá, e daí? — disse Pedro, tomando coragem e desafiando Narcisa.
— E daí que eu decidi que é melhor pararmos com os duelos até voltarmos das férias de Natal. — Ela olhava para Pettigrew com nojo. — Não sei vocês, mas não quero me arriscar quando eles desconfiam que a cabeça do lobisomem de estimação de Dumbledore está a prêmio.
Ela empurrou Pedro e saiu andando, rebolando. Sirius fez uma careta quando a viu se afastar. Detestava a garota e mal acreditava que teria de aguentá-la durante as férias de Natal o dia inteiro. Parece que o número 12 do Largo Grimmauld sempre tinha Black demais.
— Aposto que ela está mentindo, para ganhar tempo e achar um oponente a altura de Sirius — resmungou Tiago, que gostava tanto de Narcisa quanto Sirius.
— Não, não está — Remo suspirou.
Os meninos olharam intrigados para ele e enquanto se ajeitavam na sala de aula de Feitiços, Remo relatou, em voz muita baixa, sua conversa com Dumbledore no dia primeiro de Novembro.
— Por que não nos disse antes? — Quis saber Sirius, que estava chateado por ter treinado tanto para nada.
— Bem, com toda aquela perseguição a Snape e depois com a passagem pela bruxa de um olho só, eu acabei esquecendo — ele explicou, completamente envergonhado.
Sirius ia retrucar, mas o Professor Flitwick entrou na sala e ele ainda se lembrava da detenção que levara logo no primeiro dia de aula daquele ano. Então, ficou quieto, prestando atenção enquanto o bruxo incrivelmente pequeno subia numa pilha de livros e escrevia no quadro magicamente as palavras "Contra-Feitiços Simples".
— Alguém pode me dizer o que são contra-feitiços? — Perguntou o Professor com sua voz fininha e apontando para o quadro atrás de si com a varinha.
A mão de Dorcas Meadowes se ergueu no ar e ela começou a falar:
— São feitiços usados para anular os efeitos de outros feitiços.
— Muito bem, muito bem! — Flitwick sorriu e bateu palmas. — Cinco pontos para Grifinória.
Dorcas sorriu. Ela era uma garota realmente inteligente. Tiago percebeu que sua antipatia inicial pela garota era completamente infundada.
— O mais comum e conhecido dos Contra-feitiços é o Finite Incantatem ou, simplesmente, Finite. — Enquanto ele falava, suas palavras apareciam no quadro. — Ele anula os efeitos de azarações e feitiços simples e até mesmo dos mais complicados, como feitiços atmosféricos.
— Se ele serve para anular azarações, por que não estudamos ele nas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas? — Perguntou uma aluna da Sonserina de cabelos louros e encaracolados.
— Talvez porque esteja no Livro Padrão de Feitiços, volume 2 e não no de Defesa Contra as Artes das Trevas — Sirius cochichou para Pedro ao seu lado, que soltou um risinho abafado pelo nariz.
— Excelente pergunta, excelente pergunta — disse o Professor Flitwick —, mas talvez o Sr. Black saiba a resposta e queira compartilhar conosco.
Sirius tomou um susto quando ouviu seu nome. Parecia que Flitwick tirara o ano para implicar com ele.
A sala toda o observava. Ele engoliu em seco e repetiu o que acabara de dizer a Pedro. Os colegas caíram na gargalhada — até Severo teve de reprimir um riso. Flitwick, contudo, permanecia sério.
— Cinco pontos a menos para a Grifinória — ele disse. Dorcas olhou mal humorada para Sirius, que perdeu os pontos que ela acabara de ganhar. — Contudo, o Sr. Black fez uma observação importante. Esse contra-feitiço em especial está no livro de Feitiços e não no de Defesa Contra as Artes das Trevas. Alguém sabe o motivo?
Lílian Evans levantou a mão, para deleite de Flitwick, que era tão fã da garota quanto todos os outros professores.
— Porque ao contrário da maior parte dos contra-feitiços, o Finite Incantatem acaba com os efeitos de qualquer encantamento exceto as... — Lílian parou a frase no meio, sem saber se deveria continuar ou não. Flitwick, percebendo a aflição da aluna favorita, veio em seu socorro:
—... As Maldições Imperdoáveis e as Artes das Trevas. — A sala arfou ao ouvir a menção de um assunto que só estudariam dali a alguns anos, mas Flitwick apenas bateu palmas, fazendo as penas dos alunos ganharem vida. — Mas esse é assunto para as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Agora, apontem as varinhas para essas penas travessas e digam "Finite Incantatem".
Dizer que as penas eram travessas, era um elogio. Eram verdadeiros demônios. Espalhavam tinta, derrubavam os tinteiros, escreviam em qualquer superfície que viam e tentavam furar seus donos a qualquer custo. Ao fim da aula, apenas quatro pessoas haviam conseguido realizar o feitiço com perfeição: Tiago, Sirius, Lílian e, para desgosto de Potter, Severo.
Os pontos que ganhou para Grifinória não foram suficiente para fazê-lo se sentir melhor. A vitória de Severo o irritava. Aliás, tudo em Snape o irritava. Mas, como Remo aconselhara num dia em que estava especialmente insuportável, eles iam se concentrar na exploração do Castelo. Precisavam construir logo o Mapa do Maroto.
O único problema era que, por mais que mapeassem o local, o máximo que podiam fazer era desenhá-lo. Não encontravam, em lugar algum da biblioteca, algum feitiço que fosse capaz de fazer um mapa mágico do jeito que eles queriam. Quando perguntaram isso à Madame Pince ela apenas riu e disse que os livros de Hogwarts falavam de coisas sérias e não de brincadeiras tolas de alunos.
Passaram o resto de novembro e quase dezembro inteirinho desenhando partes do Castelo e tentando, sem sucesso, achar algum feitiço útil nos livros da biblioteca, mas, como dissera Madame Pince, só encontraram os feitiços que eles próprios um dia estudariam.
Já estavam arrumando os malões para passarem as férias de Natal em casa — já que nenhum familiar permitiu que eles continuassem em Hogwarts — quando Remo Lupin de repente estacou. Ele estava colocando um livro que tirara da biblioteca para ler no pequeno recesso quando gritou:
— Pelas barbas de Merlin! Como não pensei nisso antes?
Tiago, que já havia terminado de arrumar a mala, e fazia bolhas coloridas saírem de sua varinha, quase caiu da cama. Quando se endireitou, viu Remo andando de um lado para o outro e batendo na testa várias vezes. Quando Tiago perguntou a ele o que tinha, Remo apenas o mandou chamar Sirius e Pedro. E o tom de ordem e urgência era tão grande que Tiago não hesitou em descer as escadas correndo.
Encontrou Sirius e Pedro jogando snap explosivo junto da lareira. A agitação de Remo já havia contaminado Tiago e ele chamou os dois amigos praticamente gritando.
— Mas o que está acontecendo, Potter? — Perguntou Sirius irritado, porque a distração de Tiago o fizera perder o jogo. Pedro comemorava a um canto.
— Remo. Chamando. Urgente. — Tiago disse as palavras arfando e subiu as escadas com Sirius e Pedro em seu calcanhar.
Os dois também ficaram curiosos para saber o que era. Quando chegaram ao dormitório, encontraram um Remo Lupin sorrindo e andando de um lado para o outro.
— Sinceramente, Lupin, espero que seja algo realmente importante para me fazer perder a partida de snap explosivo! — Ralhou Sirius, irritado.
Remo apenas sorriu e passou os braços pelos ombros do amigo.
— Meu caro amigo Black, é a melhor razão para você perder uma partida de snap explosivo de todos os tempos. — Lupin sorria, mas Sirius continuava muito sério e irritado.
— Desembucha logo.
— Tudo bem, tudo bem. — Remo fez sinal para os amigos sentarem na cama e ele se prostrou na frente dos três, como um professor. — Bem — começou —, se lembram de quando perguntamos à Madame Pince se tinha algum livro com um feitiço mapeador no estilo que a gente queria?
— Sim, sim — respondeu Pedro. — E ela disse que os livros de Hogwarts tinham feitiços sérios e não esses que eram apenas brincadeiras.
— É... — Tiago bocejou, entediado. — Por acaso você encontrou alguma coisa desse tipo nesse livro que você vai levar pra casa?
— Não — respondeu Remo. Sirius, ainda irritado, fez menção de levantar, mas Lupin o empurrou de volta. — Mas eu finalmente consegui entender o que ela quis dizer.
— Ah, e o que era, sabichão? — Sirius ironizou, fulminando o amigo com o olhar.
— Ora, existem feitiços que não aprendemos em Hogwarts, não é? — Lupin começou sua explicação, esperando os amigos concordarem.
— Feitiços domésticos, os usados para fazer varinhas e aqueles usados nos objetos da Zonko's Log... — Tiago arregalou os olhos finalmente percebendo aonde Remo queria chegar. — Pelas barbas de Merlin, Lupin!
— Exatamente! — Remo estalou os dedos no ar. — Livros com feitiços domésticos e informações sobre varinhas a gente encontra em qualquer biblioteca bruxa, mas ninguém nunca se preocupou em se aprofundar nos feitiços que usam em brinquedos vendidos para estudantes!
— Por isso não tem nenhuma informação sobre esse tipo de feitiço em Hogwarts! — Foi a vez de Sirius gritar, pulando da cama.
— Então tudo o que a gente tem que fazer é perguntar ao dono da Zonko's o nome do feitiço?
A pergunta de Pedro deu a ideia que eles ainda não tinham. Mas Tiago a cortou logo, dando uma sugestão mais simples.
— Acho que só precisamos perguntar ao irmão da Marlene. Ele sabe tudo sobre a Zonko's.
Os Marotos olharam para ele meio intrigados e Tiago começou a explicar:
— Aquele feitiço, o Dissendium, que a Dorcas me ensinou, bem, ela aprendeu ele com o Malcolm. Mas acho que ele não quis ensinar nada sobre mapas para ela porque achou que esse feitiço era mais útil. Não pensei nisso na época, é claro, mas...
— Tiago — Sirius o interrompeu —, você é genial, cara.
Como a família Potter e McKinnon iam passar o Natal juntas, ficou combinado que seria Tiago quem falaria com Malcolm. Eles também decidiram que seria melhor fazer contato com o irmão de Marlene fora de Hogwarts, onde seria mais tranquilo, reservado e não causaria suspeitas.
Então começaram a jogar snap explosivo para passar o tempo até chegar a hora de embarcarem para o Expresso de Hogwarts rumo às férias.
Os Marotos aproveitaram os últimos momentos juntos para implicar com Lílian e com Seboso e comer Feijõezinhos de Todos os Sabores. Quando desceram na Plataforma 9 ¾, eles desejaram boa sorte a Sirius, para enfrentar a bruxa da mãe e ainda ter que aguentar Narcisa e Belatriz, e cada um foi se encontrar com suas famílias.
Os pais de Tiago o abraçaram e o mimaram como sempre faziam. Estenderam os carinhos à Marlene e aos irmãos. Como os pais da garota estavam fazendo plantão no Ministério, Euphemia e Fleamont foram recebê-los. Algo que fazia bastante sentido, já que passariam o Natal na casa dos Potter.
Durante as férias, Marlene, Tiago e os irmãos de Marlene jogaram quadribol e pregaram peças em seus pais e em qualquer um que aparecesse. Tiago, apesar da diversão, não havia esquecido da sua missão como Maroto. O único problema era que a família de Marlene era tão grande quanto a sua era pequena e ele ainda não havia conseguido ficar sozinho com Malcolm.
A oportunidade, entretanto, veio na véspera de Natal. Euphemia entregou a Malcolm uma lista de compras e pediu que fosse ao mercadinho local providenciar tudo. Tiago logo se ofereceu para ajudar o colega de Casa e assim os dois saíram naquela tarde gelada de dezembro no vilarejo de Godric's Hollow para fazer compras para Euphemia Potter.
Enquanto procuravam o que estava na lista de Euphemia, Tiago deu um jeito de puxar papo com Malcolm.
— Ei, cara, você já foi na Zonko's? Dizem que lá tem umas coisas bem legais — falou, em tom inocente.
— É, é uma das melhores lojas de Hogsmead — disse Malcolm, distraído.
— Será que lá tem algum mapa de Hogwarts? Já procurei e nunca achei. — Malcolm parou a mão a um centímetro da prateleira e virou-se para Potter:
— Por que você quer um mapa de Hogwarts?
— Ah, sabe como é, aquele lugar é enorme e quase cheguei atrasado na aula da Professora McGonagall uma vez por causa disso. — Ele fez uma careta e viu Malcolm relaxar.
— A McGonagall é terrível mesmo. — Malcolm riu. — Mas você deveria procurar isso em outro lugar, na Zonko's não vendem mapas.
— Bem, então você teria algum feitiço para juntar partes de mapas? — Ele viu a hesitação de Malcolm novamente e se apressou em explicar: — Depois que quase cheguei atrasado na escola, eu e Remo estamos tentando desenhar um mapa de Hogwarts, mas seria bem mais rápido com magia, não é?
Malcolm assentiu.
— Sinto muito, cara, mas não conheço nada desse tipo. — Ele estava mentindo e Tiago via isso em seu rosto, mas decidiu não pressionar.
Pegaram as compras e voltaram para a casa dos Potter. Antes que Tiago pudesse passar pelo portão de entrada, Malcolm o puxou pela gola e o encostou na parede externa da casa.
— Se algum dia disser a alguém que lhe contei isso, Potter — Malcolm tirou as varinhas da veste e a apontou para Tiago. O menino apenas assentiu e Malcolm guardou a varinha. — Eu conheço um feitiço que pode ser usado em mapas — o irmão de Marlene falou tão baixo que Tiago teve que se esforçar para ouvir.
Quando finalmente entendeu o que McKinnon estava dizendo, algo dentro de Tiago começou a crescer. Era uma forte sensação de estar perto de cumprir algum dever muito complicado.
— Sério? — Seu rosto estava completamente iluminado e ele já imaginava o momento em que contaria isso a Sirius, Pedro e Remo.
— É, mas não pode contar isso pra ninguém, OK?
Tiago assentiu e Malcolm continuou.
— No verão passado eu fui no trabalho do papai, no Ministério. Tinha uma galera criando alguns encantamentos novos. Um deles, em especial, me chamou a atenção. — Malcolm olhou para os lados, nervoso, e abaixou ainda mais a voz, se é que isso era possível. — Eles diziam que mostraria quem estava no lugar naquele momento. Obviamente, era pra ser usado em mapas. Como uma versão escrita do Homenum Revelium, sabe?
— E que feitiço era esse? — perguntou Tiago, com a animação crescendo em seu peito.
— Olha, eu acho que ainda não está pronto. Tentei usar, mas não funcionou direito e depois de um tempo, pifou de vez. Sem contar que você precisa de um mapa já pronto para isso... — Ele olhou para Tiago, suspirando. Já falara demais e não poderia voltar atrás. — Se chama Homonculous Charm, o feitiço dos olhos mágicos.
Quando Malcolm terminou de falar, Tiago sabia que o Mapa do Maroto estava praticamente pronto.

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