Ano 1. O Salgueiro

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O Castelo nunca fora tão tranquilo e ao mesmo tempo tão perturbado sem que seus habitantes se dessem conta. Embora, talvez, alunos, professores e funcionários ainda não tenham se dado conta dos tamanhos segredos escondidos por aquelas paredes de pedra. Se um dia descobririam? Nem o próprio Castelo poderia dizer. A noite de primeiro de setembro trouxera mais um segredo que seria escondido nas redondezas da propriedade. Um segredo não tão secreto assim. Um menino que pulava de um canto a outro; a alta capacidade intelectual, apesar de tudo que vinha a acometer-se sobre ele, relutava em ir embora. Como alguém tão devastado por desgraças poderia ser feliz como ele era? Alvo Dumbledore se perguntava. O velho bruxo levantou-se, elevou a varinha até a cabeça e com ela arrancou alguns fios de memória. Dirigiu-se à penseira.

Iria rever algumas memórias. Memórias há muito perdidas de um lobisomem. Relutou em jogar os fios na penseira, mas havia prometido-lhe. Lembrava-se como se fosse hoje.

"Chovia quando uma mulher de cabelo negro como a noite e olhos castanhos desfocados aparatou em frente à escola. Era férias de verão e a chuva era atípica à época. Parecia que o céu chorava pelo ocorrido há algumas horas. A mulher entrou abruptamente em seu escritório. De um susto, levantou-se.

- O que houve?

- Remo. O pobre Remo... - A pobre coitada não conseguia terminar, tamanho eram os soluços que saiam involuntariamente de sua boca.

- Diga - ordenou o velho.

- Aconteceu, Alvo. Aconteceu o que eu temia. - Os fios negros cobriram-lhe a face e a capa rodeou seu corpo quando desabou no chão, com soluços intermináveis."

Lembrava-se desse dia. Não precisava de uma penseira para revivê-lo. Nesse dia, o destino do menino havia sido traçado. Nesse dia, também prometeu a jovem Sra. Lupin que encontraria o lobo que tinha feito tal atrocidade a seu filho, cuja identidade apenas uma pessoa conhecia, o pai do menino. Contudo, não era prudente pensar nisso agora, jogou as memórias ao chão e retornou a sua poltrona. Levantou-se novamente pôs-se a caminhar. Decidiu, então, por chamar Hagrid.

- Dumbledore! Dumbledore!

- Entre Hagrid...

- Mandou me chamar, professor?

- Mandei sim. Sente-se. - O diretor fitava o guarda-caça com seus profundos olhos azuis. - Preciso de um favor seu.

-Diga, senhor diretor.

- Hagrid, devo lhe pedir que sente... - Alvo esperou o bruxo acomodar-se na poltrona a sua frente - Como é sabido de todos os professores, temos um aluno lobisomen, o Remo Lupin. Esta noite, o Sr. Lupin se transformará pela primeira vez desde que chegou à Escola. Ele ficará na Floresta Proibida durante todas as luas cheias do ano. Quero que passe o olho nele, entendeu, Hagrid?

- Mas... Professor... Diretor... Senhor... - Rúbeo parecia não saber o que dizer. - Por que eu?

- Porque confio em você, Hagrid. Simplesmente por isso.

O bruxo ficou estupefato. Não tinha ideia que Alvo Dumbledore, um dos maiores bruxos do mundo, o tivesse em tão alta estima. O velho diretor parecia divertir-se com a cena.

- Agora, chame a Prof.a Minerva, por favor. Diga para vir a minha sala imediatamente.

***

Pela segunda vez naquele dia, Remo teve sua aula de Transfiguração interrompida.

- Agora... - Sirius olhou para o amigo cansado.

- Nos diga o que o Dumbledore queria - Tiago completou.

- Estamos curiosos. - Pedro, na verdade, não estava ligando para o que havia acontecido na sala do diretor, mas os amigos estavam; então ele aparentava querer saber tudo.

- Não foi nada. - Virou-se para o livro, fingindo interesse.

- Então por que o diretor do colégio lhe chamou, hein?

- Carta. Uma carta de minha mãe foi parar no escritório dele por engano.

- E ele lhe chamou ao invés de pedir a alguém para trazê-la? - O curioso Black estreitou os olhos, desconfiando do teor da conversa entre aluno e diretor.

- Exatamente.

- E por que ele faria isso?

- Eu que irei saber? Dumbledore é um velho estranho.

Remo deu o assunto por encerrado, porém, Tiago e Sirius se entreolharam, desconfiados. Não haviam acreditado na história contada pelo amigo.

***

- Alvo? O que deseja?

- Sente-se cara Minerva.

A professora sentou-se, encarando o velho amigo e também superior. Acreditava saber do que se trataria o diálogo.

- É uma mulher inteligente Minerva, deve saber porque a chamei.

- De fato, desconfio dos motivos. Espero estar errada.

- Infelizmente, Minerva, não está. Remo Lupin realmente é um lobisomem.

McGonagall boquiabriu-se. Como Dumbledore pôde permitir um aluno demasiado perigoso, mesmo que não fosse a intenção do mesmo, estudar no colégio?

- Não se assuste minha cara. Temos razões suficientes para acreditar que tanto o Sr. Lupin quanto nossos outros alunos estão seguros.

- Então por que me chamou? Já que todos estão seguros... - A boca franzida indicava uma leve irritação, embora seu tom de voz fosse dos mais calmos.

- Porque, como já deve saber, o menino não se lembra de quem é quando está em sua forma de lobisomem. Poderia matar seu melhor amigo.

- Não entendo, Alvo. Diz que todos estão seguros em um momento e no instante seguinte afirma que os alunos podem ser machucados.

Dumbledore abriu um largo sorriso, deixando a Prof.ª McGonagall ainda mais intrigada e irritada.

- Acho que devo-lhe uma explicação.

- Certamente.

- Pois bem! Durante o período de lua cheia, Remo se encontrará na Floresta Proibida. Pedi a Hagrid que desse uma olhada nele. Entretanto, como nós dois sabemos, se Hagrid se aproximar do Sr. Lupin, corremos o risco de perder nosso guarda-caça.

- O que, obviamente, Rúbeo irá fazer. Acha mesmo prudente deixar o Hagrid cuidar disso? Realmente confia nele?

- Confiaria minha vida a Hagrid, professora. Contudo, não estamos discutindo em quem confio ou não, mas a segurança de todos os alunos do castelo. - O diretor curvou-se sobre a mesa, seus profundos olhos azuis perfurando a vice-diretora. - Quero que se certifique que Hagrid se sairá bem e que o aluno Remo Lupin não se machucará.

- Como irei fazer isso? - O cenho franzido, a dúvida plantada em sua mente brilhante.

- É uma animaga, Minerva. Lobisomens não atacam animagos. - O sorriso demonstrava que a conclusão era óbvia.

- Eu sei disso, Alvo! - A paciência agora extinguia-se da professora. - Quero saber como um lobisomem se enfiará na Floresta sem que ninguém perceba. Alguém ouvirá uivos. Alunos rebeldes... Isso tem tudo para dar errado...

- Porém, não irá dar errado. - Alvo riu e entregou a Minerva um pedaço de pergaminho lacrado. - Quero que entregue isso a professora Sprout.

- O que tem aí?

- Um pedido. Para a professora providenciar um salgueiro lutador.

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